81

21.9K 1.8K 128
                                    

LUCAS

Certamente existiram muitos horrores em minha vida, coisas que fizeram comigo, que fizeram com as pessoas ao meu redor e coisas que eu fiz para outras pessoas. Eu genuinamente pensei que estava preparado para tudo, pensei que aguentaria qualquer acontecimento desde o mais leve até o mais horrorizante, não foi bem assim.

Talvez eu nunca tivesse amado o suficiente para ser capaz de me ressentir, existiu uma pessoa que eu quis proteger a todo custo e eu fiz isso, fiz isso ao máximo que pude e hoje em dia ele se tornou o homem que eu vou querer para toda vida, era para ser assim não tinha o que mudasse, nós dois contra o mundo. Até ela chegar.

Preocupações ao excesso, a necessidade de proteção, a falta de paz quando estava longe dela... Isso foi a minha ruina, foi genuíno pensar que eu estava a protegendo do mundo quando na verdade ela já tinha sido tão machucada que poderia se cuidar muito bem sozinha. Como alguém foi capaz de machucar a própria filha? Ou quem acreditava ser.

O sangue dele ainda escorria pelas minhas mãos, manchava minhas roupas e marcava minha pele, não seria uma morte simples, eu não daria esse prazer para e, até que eu vi as filmagens, até que ouvi os gritos de socorro da minha pequena.

Foi impossível controlar o impulso de mata-lo com as minhas próprias mãos.

Como alguém pode conseguir viver com aquele peso nas costas, mesmo com todo o horror já cometido esse era... Asqueroso, mundano.

— Deveríamos entrar — Bruno disse com a voz rouca.

Seus olhos estavam inchados, o que mostrava cada lágrima derramada, sua aparência não era nada boa, tinham pequenos cortes em sua bochecha e nem iria comentar sua blusa com a mancha enorme de sangue.

— Não consigo — Murmurei passando a mão na cabeça — Não consigo olhar para ela agora.

— Não é culpa dela, Lucas.

— Eu sei que não, mas conviver com o fato de que não a protegemos é uma verdadeira tortura para mim — Ele me olhou mas não disse nada.

O silêncio naquele carro era tão pesado que me fazia querer sair dali o mais rápido possível, mas as minhas pernas já não funcionavam mais. Ele havia machucado ela, tocado de formas grotescas... Eu o reviveria apenas para mata-lo novamente.

Senti uma mão pesar na minha e ousei levantar a cabeça. Ele beijou o topo da minha testa.

— Ela precisa de nós.

— Eu tô com medo — Fechei os olhos e escutei aquele silêncio perturbador dentro da minha cabeça — O que fazemos agora?

Dúvidas se passavam pela minha mente, eu sentia todos os questionamentos me circular, mas eu estava certo de uma coisa, eu a amo, amo tanto que daria o mundo para ela, a amo tanto que estou desposto a entregar uma vida feliz e saudável na palma de sua mão mesmo que isso custe a minha sanidade.

— Agora a gente entra naquela casa e tenta fazer o possível para seguir firme por ela.

BRUNO

Eu ainda escutava suas súplicas de desespero, podia repassar todas aquelas filmagens na minha cabeça dezenas de vezes, tudo estava tão nítido que me fazia ter náuseas.

Leticia já disse em alguns momentos que passou por situações difíceis, mas isso, o que eu vi nessa noite me fez ter calafrios para uma vida inteira. Como eu aguentaria essa dor? Como ela conseguiu acumular tantos anos de sofrimento sem sequer uma ajuda?

Eram muitas dúvidas para mim, queria poder perguntar de uma vez, mas saber que eu a colocaria nessa situação era... Desesperador.

Tudo era muito desesperador.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora