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LETICIA

Olhei para minha cama cheia de roupas espalhadas e tentei me lembrar de quando isso passou a pertencer a mim, não me lembrava de ter comprado nada daquilo.

Depois do grande choque que tive ontem, a noite passou lentamente e de uma forma bem dolorosa para mim, como se tudo aquilo ainda fosse muito irreal. E logo pela manhã a governanta bateu em minha porta com muitas coisas para me entregar, eram meus pertences, coisas que eu nem lembrava que existiam.

Acho que quando se vive tantas emoções como eu as coisas acabam perdendo um pouco de sentido, principalmente nesse último mês com toda a agitação.

Observei a janela e apenas escutei o canto dos passarinhos do lado de fora, era tão bonito acordar em um ambiente como esse, acho que se não fosse pelas circunstâncias com certeza eu teria aproveitado muito mais desse lugar.

— Senhorita, — Olhei para a governanta — As coisas já estão prontas.

— Ah sim, obrigada... E quanto a essas em cima da cama.

— Ben disse que tudo seria entregue ao seu novo endereço — Ela ofereceu um sorriso gentil e pegou a mala — Vou descendo com algumas coisas, te deixarei sozinha agora.

Ela saiu do quarto e minhas expressões logo mudaram.

Isso era estranho, a sensação de liberdade não deveria ser assim. Por que mesmo podendo sair de toda essa confusão pacificamente eu ainda me sentia presa a algo nessa casa?

Quer dizer, eles não falaram nada para mim, não os vi o dia todo e nem sequer recebi um recado, será que eu era tão insignificante desse jeito?

Respirei fundo e não me deixei ficar acorrentada com esses pensamentos. Eu estava livre e deveria aproveitar isso.

Saí do quarto, passei pelos corredores e desci as escadas até parar no enorme hall de entrada. O homem me esperava com um sorriso no rosto, mas os olhos entristecidos. Revirei os olhos e corri até ele, não esperei mais um segundo para envolver meus braços em sua cintura.

— Vou sentir saudades de você ruivinha — Ben disse enquanto me apertava.

— Vai ser um prazer nunca mais olhar para sua cara novamente — Escutei sua risada enquanto o abraço se desformava — Vou sentir saudades também.

— Eu sei que vai — Ele beijou o topo da minha testa — Boa sorte, Leticia.

— Obrigada — Ofereci um sorriso para ele.

Faltava pouco para me soltar das amarras que faziam eu permanecer presa aqui. Mas mesmo assim era angustiante passar por um mudança tão trágica.

— Você sabe que pode ficar mais um pouco, né?

— Preciso ir.

— Eu sei que precisa — Ele abriu aquele sorriso gentil de sempre

— Não deveria me convencer a ficar aqui?

— Acho que já disse muito bem o que penso sobre isso — Ele cruzou os braços — Você deve tomar uma decisão que seja o melhor para você.

— O problema é que eu não sei o que é o melhor para mim.

— Coloque as suas duas opções em uma balance e avalie o que te pesará menos, apenas siga seu coração, Leticia.

— Me sinto perdida.

— Isso é nítido, você está tão acostumada a te dizerem o que seguir, que simplesmente não consegue tomar uma decisão sem ver o que vai te fornecer mais conforto.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora