19

36.9K 3.1K 410
                                    

LUCAS

A marca de seu beijo ainda estava em minha bochecha mesmo depois de fazer minutos que ela tinha ido embora.

Eu sabia que não deveria pensar tanto nisso, mas por que caralhos eu ainda sinto sua boca em minha pele?!

Virei mais um copo de whisky e senti meu corpo relaxar aos poucos. Talvez eu devesse falar com Verônica.

Não, ela está trabalhando, não vou atrapalhar.

Escutei o barulho da porta de entrada e não demorei para descobrir quem era.

Em poucos segundos meu irmão estava na sala com um semblante cansado.

— Eu estou exausto — Essa foi a forma dele de me cumprimentar.

Bruno deixou seu blazer no sofá e se aproximou de mim, ele pegou o copo da minha mão e encheu de bebida.

Em pouco tempo, todo o álcool estava dentro de sua boca. Ele têm uma forma estranha de descontar todo seu dia frustante na bebida.

— Boa noite pra você também — Disse assim que ele voltou seus olhos para mim — Espero que não se importe, mas jantamos sem você.

— Tudo bem — Meu irmão se jogou no sofá.

— O que fez hoje?

— Tive que organizar todo o trabalho que acumulei.

— Se você conseguisse me ouvir, não iria passar por isso.

— Vai se ferrar Lucas — Soltei um riso frouxo.

Fui até meu irmão e sentei ao seu lado. Ele apoiou suas pernas no meu colo e continuou deitado.

— Ah... Conversei com a Leticia hoje.

— Ela vai conseguir fazer a prova?

— Sim e também... Bom, Leticia falou que queria trabalhar.

— Trabalhar? Aquela pirralha quer alguma coisa pra vida? — Ignorei seu comentário.

— Bruno eu pensei que ela poderia aprender um pouco mais na empresa — Acho que isso foi o suficiente para ele surtar.

— Não pode ser, tá brincando né? — Meu olhar entregou tudo — É lógico que não Lucas! De onde tirou essa idéia?!

— Ela falou que quer assumir os negócios da família.

— Letícia é só uma criança, sem experiência — Sua raiva era visível — Já não basta ter que aguentar ela em casa, também vou ter que aturar essa menina no trabalho?!

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, percebemos que não estávamos mais sozinhos.

Olhei a ruiva entrar na sala.

— Licença, tios — Olhei a porcaria da sua camisola — Eu não queria me intrometer, mas percebi que falavam de mim, por isso quero conversar com os dois — Ficamos em silêncio esperando ela falar — Bruno, sei que por algum motivo não gosta de mim, mas uma parte da empresa é minha e eu quero trabalhar lá.

— É muito nova para isso — Foi o que meu irmão disse.

— E que diferença faz? Uma hora ou outra eu vou assumir minha parte, você querendo ou não e eu só estou pedindo algo simples, um cargo onde possa aprender para que no futuro eu consiga gerenciar com qualificação — Seus argumentos não eram tão ruins.

O moreno me olhou e respirou fundo, ele precisou de alguns segundos para pensar.

— Não acredito que vou falar isso, mas por mim tudo bem, você tem um mês para me mostrar que eu devo te contratar, será um teste — Um sorriso preencheu os lábios dela e fiquei feliz por isso.

— Obrigada tio! Prometo que não vão se decepcionar — Sua alegria era nítida — Agora se me dão licença, eu vou para o meu quarto.

Minha sobrinha foi até a porta.

— E Leticia, — Sua atenção voltou para meu irmão — Não entre em uma sala com dois homens quando estiver usando essa roupa.

— E quando você estiver sozinho? — Nós dois ficamos sem palavras, isso foi uma paquera? — Boa noite.

Foi com essas últimas palavras que ela nos deixou sozinhos.


[...]


Fechei a porta do meu quarto e finalmente senti o alívio que estava precisando. Meu corpo inteiro pedia por um banho longo e minha cama.

Caminhei até a poltrona que ficava no canto do quarto e sentei na macia almofada. Joguei a cabeça para trás e relaxei o corpo.

O dia de hoje tinha sido estressante, igual ontem e provavelmente igual amanhã, mas tinha algo de diferente, algo mais feliz dentro de mim.

Talvez por finalmente ter conseguido o contrato que precisava para a empresa ou simplesmente por ter visto um sorriso sincero no rosto daquela ruiva.

Não posso negar que têm coisas em mim... Coisas que devo me preocupar por sentir, coisas que com certeza vão fuder muito com minha vida.

Eu não devia pensar tanto em minha sobrinha, mas isso é apenas... Preocupação, não é?


Respirei fundo e quando ia me levantando, o celular começou a vibrar em meu bolso.

Peguei o aparelho e atendi a ligação assim que vi o contato.

≈ Verônica?

≈ Meu amor! — Ela parecia bem alegre — Tenho tantas coisas para te contar.

≈ Deixa eu adivinhar, você conseguiu comprar os sapatos que tanto queria?

≈ Isso mesmo! Tô agora experimentando ele e é tão lindo, vou te mandar uma foto.

≈ Tudo bem, como foi seu dia?

≈ Maravilhoso, terminei as fotos da revista e só tô esperando meu chefe me liberar para voltar, estou com saudades de vocês.

Eu sei que estamos noivos, mas é estranho não sentir saudades dela? Quer dizer, estamos acostumados com a distância.

≈ Ah, eu também tô ansioso pra te ver — Podia jurar que ela sorria.

≈ Bom, vou fazer o possível para matar essa saudade em breve — Me sinto culpado por meus sentimentos — E sua sobrinha, como ela tá?

≈ Leticia está, — Lembro do seu lindo sorriso, do beijo que ela deu em minha bochecha... — Ela tá bem.

≈ Que bom meu amor, espero que ela esteja se adaptando.

≈ É, eu também espero — Levanto da poltrona — Verônica a gente se fala amanhã, eu tô muito cansado.

≈ Tabom! Tenha uma boa noite.

≈ Você também — Desligo o telefonema.


Que ótimo, eu tô tão fudido.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora