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LETICIA

A casa já estava completamente em silêncio, a escuridão passeava por todos os cantos das paredes e a calmaria era relaxante.

Eu escutava os passos no corredor, sabia o que estava por vir e me preparava para isso mesmo o medo ainda me consumindo.

Já estava na hora.

A minha porta foi aberta lentamente e a pouca iluminação do corredor adentrou o meu quarto. Vi papai com um sorriso no rosto.

Ele veio até mim e percebi um brilho em seus olhos, um brilho estranhamente aterrorizante. Engoli em seco.

- Boa noite, princesinha - Escutei o rugir fino da porta se fechando.

- Oi - Falei baixo, no mesmo tom que sua voz.

- Desculpa a demora, estava esperando sua mãe dormir - Ele sentou ao meu lado da cama e me observou.

Sua mão calejada encontrou minha bochecha e começou a fazer carinho. Eu não gostava daqueles toques.

- Trouxe sua balinha.

- Papai, eu ainda tô machucada de ontem a noite - Meu coração batia rapidamente.

- Princesinha, isso é normal, não precisa se preocupar.

- Vai machucar muito?

- Não, papai só vai brincar um pouquinho - Minhas lágrimas ficaram presas no fundo de minha garganta.

- Tudo bem.

Sentei na cama e arrumei meus cabelos, ele estendeu a mão para mim e peguei o remédio de sua mão.

Eu não sabia o que era, ou como funcionava, mas na maioria das noites era assim. Eu era obrigada a tomar o remédio e não lembrava de mais nada.

Respirei fundo e engoli a pílula de vez. Meus olhos pesaram rapidamente.

No dia seguinte acordei com sangue nas pernas, sangue vindo de minhas partes íntimas.

Afastei todas as lembranças da minha cabeça e parei de olhar aquele maldito quadro. Como eu o odiava.

Eu sabia que não seria fácil trabalhar aqui, sabia que o cansaço e o estresse fariam parte. Mas essa porcaria tá me deixando nos nervos.

Cada parte do meu corpo quer simplesmente fugir daqui, sair o mais rápido possível.

Conviver com essas pessoas me irrita.

Respirei fundo e antes de conseguir pensar em mais algum insulto, a voz de alguém me interrompeu.

- Tá muito difícil? - Olhei para trás.

Por incrível que pareça, é raro ver meus tios por aqui, eles sempre estão ocupados com algum outro assunto e na maioria das vezes eu acabo não vendo eles por horas. Não reclamo disso.

Mas têm dias em específicos, dias como esse, que eles estão de bom humor.

Olhei Lucas de cima a baixo.

— Eu só estou um pouco cansada.

— Ia te chamar para gente ir embora agora.

— Ótimo - Recolhi meus pertences da mesa.

— Você não parece ter descansado o suficiente, tem certeza mesmo que você aguenta ficar aqui?

— Claro que sim, essas últimas semanas não foram atoa — Os dias passaram bem rápido.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora