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BRUNO

O bar estava cheio, havia pessoas gritando, conversando, rindo e mesmo assim eu só conseguia prestar atenção no tick tack do relógio. Parecia lento demais.

Depois de um dia longo de trabalho eu costumava ir até o bar mais próximo e descontar tudo na bebida. Mas agora, meus dias estão estranhamente diferentes e acho que não gosto disso. Sempre segui uma rotina fixa, sempre tive meus pensamentos livres para usar como quiser, mas nesse momento, justo agora, eu só consigo pensar nela.

É uma droga se preocupar até com a respiração de uma única pessoa.

Ela tinha um tempo para fazer essa prova e já passou minutos demais para que conseguisse concluir. Por que até agora não recebi um sinal de vida?

Será que Leticia teve problemas? Ela conseguiu fazer todas questões? E se ela simplesmente só não se importa em me mandar uma mensagem de aviso?

Meu coração batia tão rápido que quase não conseguia mantê-lo no peito.


Virei mais um copo com minha bebida e me mantive forte para conseguir ficar de pé. As memórias vieram na hora.


O som do piano era uma das coisas mais lindas naquela sala. O tremor melancólico e as mãos delicadas na qual tocava ele faziam uma combinação perfeita.

Eu sentia cada parte de meu corpo pulsar por aquele momento. Pulsar por ela.

Olhos verdes como a folha mais clara que se pode ter, boca carnuda perfeita para beijar e cabelos tão sedosos quanto uma pena macia. Até seu suspiro exalava perfeição, mas quem era ela?

— Gostou?

Escutei uma voz atrás de mim e arrumei a postura. Olhei meu irmão de cima a baixo.

— Carlos, o que faz aqui? — Franzi as sobrancelhas — Pensei que estivesse viajando com a mamãe.

— Voltei mais cedo e pelo jeito isso foi uma ótima decisão — Percebi que ele olhava a mesma moça que eu — O que está acontecendo aqui?

— Papai quer fazer reuniões para ampliar os negócios dele — Respondi enquanto tentava não olhar para a perfeição em pessoa.

— Mamãe não vai ficar feliz com ela.

— Não pode contar para nossa mãe — Meu coração palpitou por alguns segundos — Ela vai brigar com Lucas.

— Isso não é de interesse nosso.

— Claro que é, estamos falando do nosso irmão — Ele deu um sorriso de lado, soava tão irônico.

— Eu vou falar com ela.

— O que?

Ele não me deu nenhuma explicação antes de ir até a desconhecida que estava tocando o piano. Senti um aperto em meu peito.

Olhei mais ao fundo e percebi que Lucas conversava com uma garota, a ardência logo invadiu minhas veias.


Meu celular começou a vibrar em meu bolso e saí totalmente das lembranças tão antigas. Um sentimento nada bom me consumiu.

Peguei meu telefone e olhei o número desconhecido que me ligava, atendi ainda confuso.

≈ Alô?

≈ Por favor, me diz que ainda não esqueceu de mim — Demorei alguns segundo para reconhecer a voz.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora