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BRUNO

Desligo o carro com a chave e finalmente respiro aliviado por ter chegado em casa. Eu estava exausto, cansado e feliz, tudo nesse noite tinha sido bom, tirando que agora tinhamos outro problemas.

Olhei pelo retrovisor e observei a ruiva deitada no banco, acho que alguém bebeu demais. Foco minha atenção no meu irmão e tento ignorar o fato dele ficar perfeito com o cabelo bagunçado.

— Acho melhor a gente entrar — Lucas disse enquanto focava sua atenção em mim.

— Será que ela tá dormindo? — Era difícil saber com a venda que tampava seus olhos.

— Não sei, mas tenho quase certeza que vamos nos arrepender por ter dado bebida pra ela.

— Eu não tenho dúvidas disso — Ficamos um pouco naquele silêncio reconfortante.

— Ela perguntou sobre sua decepção amorosa — Minhas sobrancelhas se juntaram.

— O que?

— Você sabe — Revirei os olhos — Pensei que no tempo em que vocês estavam juntos tinham conversado sobre isso.

— Leticia não sabe e nem vai saber nada sobre o passado.

— Parece que não conhece ela, uma hora ou outra a verdade chega.

— Não têm como ela saber se ninguém contar — Não dei tempo dele falar mais nada.

Tirei o cinto que me prendia e desci do carro, meu irmão fez o mesmo e eu abri a porta do passageiro. Vi Leticia tão acabada quanto nós dois.

— Leticia, nós chegamos — Ela se manteve deitada — Já vi que vamos ter um longo trabalho.

Peguei os braços dela e a coloquei sentada no banco, tirei a venda do seus olhos e percebi que ela dormia profundamente. Não esperei nada para a pegar no colo e entrar em casa.

Lucas se certificou de que não tinhamos sido seguidos e eu a deitei no pequeno sofá da sala. Acordei ela levemente.

— Ei, a gente já chegou.

— Cala boca — A frase saiu mais embolada do que devia.

— Já tá na hora de acordar, mocinha — Ela resmungou mas acabou sedendo.

Suas expressões mostravam pura derrota, minha sobrinha estava claramente bêbada, mas pelo menos parecia feliz. Fazia um tempo desde que não a via assim.

— Eu quero ir para o meu quarto.

— Então vamos, eu te ajudo — Meu irmão entrou na sala e se ajoelhou ao meu lado.

— Não, não esse quarto... Eu quero o meu quarto da nossa casa, não gosto desse lugar — Ela disse com muita dificuldade.

— Você quer dormir aqui na sala? — Lucas perguntou e logo colocou uma mecha ruiva de seu cabelo atrás da orelha.

— Não — Leticia coçou os olhos e sentou no sofá — Eu podia ter fugido hoje.

— Mas não fugiu — Respondi enquanto arrumava o cabelo dela.

— Mas podia, aliás, eu devia ter feito isso.

— Por que não fez? — Tirei a jaqueta dela.

— Eu estava me divertindo — Era engraçado em como ela ficava sincera bêbada — A gente pode voltar para lá?

— Outro dia, agora você têm que descansar — Meu irmão falou e ela o observou.

— Eu gosto do seu cabelo bagunçado — Leticia disse a ele e algo dentro de mim queimou.

— Por que eu não ganho elogio? — Perguntei fingindo tristeza.

— Porque você é malvado.

— Eu sou o malvado? — A ruiva fez que sim com a cabeça.

— Você colocou aquele negócio em mim que me fez dormir — Lembro daquela terrível noite e sinto o nó em minha garganta.

Preferi esquecer daquele dia, machuquei quem não devia e tudo nele me dava pesadelos, se eu pudesse iria deletar essas lembranças da cabeça.

— Meninos — Voltei a atenção para ela — Um dia vocês vão deixar eu ir embora? — Minha respiração parou — Quer dizer... Eu sinto saudade de como éramos antes.

— Ok, vamos dormir — Lucas interferiu. E bastou ele se colocar de pé para o pior acontecer.

Leticia colocou tudo para fora bem em cima do meu irmão e eu agradeci aos céus por não ter ido em mim.

Olhei o moreno respirar fundo e contive a risada. Segurei o cabelo dela e a deixei colocar o resto para fora, Lucas esperou ela terminar de vomitar em sua calça.

— Aí meu Deus, desculpa — Peguei os lenços que estavam na mesa de centro e limpei a boca dela.

— Eu vou tomar um banho — Ele saiu sem dizer mais nada.

— Acho que deixei ele irritado.

— Depois vocês se resolvem, vamos deitar — Ajudei ela a subir as escadas.

— Bruno — Coloquei uma mão ao redor da cintura dela.

— Oi.

— Você também tá muito bonito hoje

Meu rosto esquentou tanto quanto meu coração. Acho que depois dessa frase tudo no dia de hoje valeu a pena.


[...]

Entrei no quarto e passei a mão pelos meus cabelos molhados, deixei a toalha jogada em uma cadeira que estava alí no canto e fui até a ponta da cama.

Meu irmão dormia sem nenhuma interrupção, seu semblante parecia tão calmo que eu me senti bem e apenas com a luz da lua ele ficava ainda mais... Bonitinho.

É estranho isso, o sentimento de intensidade, com certeza é algo relacionado a sermos irmãos, mas... Tenho a impressão que não deveria sentir isso, que um coração não deveria palpitar tão rápido olhando alguém da sua família.

Passei a mão por seu rosto e dei um sorriso de lado. Tabom, o infeliz era bonito.

Me afastei do Lucas e fui até o outro lado da cama, assim que me deitei escutei ele murmurar algo inaudível.

Ele trocou de lado e ficou de frente para mim, deixei que nossas mãos encostasse uma na outra e apenas aproveitei o calor que seu corpo emanava.

— Você limpou a sala? — Não me surpreendi com sua pergunta, mesmo com ele de olhos fechados.

— Sim e Leticia já tá dormindo feito um bebê.

— Ótimo — Ele abriu os olhos e me observou — Pensei que depois dos seus catorze anos essa mania estranha de ficar me vendo dormir ia acabar.

— E eu pensei que você tinha se acostumado com isso — Ele puxou um sorriso de lado.

— Idiota.

Lucas segurou minha mão e fechou os olhos novamente. A quanto tempo não dormimos assim?

Essa noite não foi tão ruim.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora