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BRUNO

Eu nunca quis machucar ela, não era a minha intenção fazer Leticia sofrer tanto, mas por que é... Complicado desse jeito, eu praticamente a odiava quando a vi pela primeira vez, mas agora só o fato de saber que ela não se sente segura do meu lado é um tormento. O que eu faço com esse sentimento angustiante?

Acho que eu só preciso deixar esses pensamentos se aliviar para finalmente encontrar minha paz.

Termino de abotoar minha blusa e saio de frente do espelho, preciso começar o dia. Passo a mão no meu cabelo e sinto ele molhado, não estava tão preocupado com a aparência no momento.

Abri a porta do meu quarto e passei pelo longo corredor que levava até as escadas. Era bem esnobe da parte do meu amigo ter uma casa desse tamanho.

Andei por aquele grande lugar e tentei memorizar cada canto da casa, mesmo tendo errado o caminho umas duas vezes finalmente consegui entrar na sala de jantar. Observei os dois homens sentados diante a mesa, eles colocaram suas atenções em mim.

— Bom dia — Cumprimentei enquanto ia até meu lugar.

— Você tá péssimo — Ben disse com um sorriso no rosto.

— Como sempre você sendo um ótimo amigo — Ele me olhou com divertimento no rosto.

Em cima da mesa tinham várias comidas diversas, frutas, pão, bebidas, recheios e outras dezenas de mantimentos. Comecei a me servir com tudo que queria.

Meu irmão me olhou com uma expressão horripilante e percebi o quanto sua aparência estava abatida, ele estava tão ruim quanto eu.

E antes de poder dizer algo a ele um barulho ecoou dentro do cômodo, meu coração deu um pulo com a ruiva entrando na sala, minha respiração falhou por segundos.

— Bom dia — Foi a única coisa que ela disse antes de ir até a outra ponta da mesa.

Suas roupas eram bem mais formais do que eu estava acostumado nessas últimas semanas, seu cabelo estava penteado e sua aparência era bem melhor do que a dos outros dias. Leticia e Ben trocaram olhares cúmplices como se conversassem mentalmente, o que tá acontecendo?

Espera, ela estava aqui, na nossa frente, por conta própria, sem nenhuma expressão melancólica, sem parecer triste e sem ódio nos olhos. Leticia realmente estava aqui por vontade própria?

— Pensei que não ia se juntas a nós para o café da manhã — Meu amigo disse sem tirar os olhos dela.

Ok, tinha algo acontecendo entre esses dois.

— Desculpa pela demora, eu precisei me arrumar — Ela pegou um pedaço de bolo que estava em sua frente.

— Bom, agora que estamos juntos eu vou ter menos esforço para trazer notícias para vocês — O moreno começou a dizer.

— Você fez o que eu pedi? — Lucas perguntou mordendo mais um pedaço de torta.

— Sim, entrei em contato com um amigo distante meu e ele disse que pode conseguir identidades falsas para vocês, por um certo valor é claro.

— Identidades falsas? Para que? — A ruiva perguntou com preocupação. Eu já disse o quanto ela estava linda?

— Apenas para por precaução, não se preocupe — Meu amigo a tranquilizou — Como eu estava dizendo, ele vai cobrar uma quantia que vocês podem pagar, mas fora isso ele vai precisar de outras coisas, como: Suas identidades verdadeiras, algumas informações pessoais e um exame de genética, eu não entendi muito o por que mas...

— Não, exame de genética não — Meu irmão disse com pavor no tom de voz.

— Desculpa, mas por que não?

— Eu só... É algo muito pessoal para se passar para um desconhecido.

— Eu confio nele.

— Ben, o exame de genética não.

— Tudo bem, sem exame de genética então.

— Obrigado — Ele arrumou a postura.

Foi quase impossível não se surpreender com aquela preocupação tão exagerada. Por que meu irmão ficaria tão nervoso com algo assim?

Tá legal, vou precisar investigar isso aí.

LETICIA

O vento era uma brisa fria beijando todo meu corpo descoberto pela camisola simples, a lua já estava no topo do céu e a calma era tão prazerosa que eu poderia admirar isso por horas. Mas por que eu ainda sinto que tem alguma coisa faltando?

Certamente tinha algo de errado, eu sabia disso pela reação de meus tios assim que entrei naquela sala de jantar hoje mais cedo. Pensei que eles ficariam felizes com a minha companhia mas nem sequer falaram comigo, não deveria me sentir tão abandonada assim.

Foi escolha minha permanecer nessa casa por mais um tempo, mas eu não gostava dessa sensação, não gostava das coisas não estarem resolvidas e com certeza não gostava de não ter coragem para me resolver com eles. Me sentia cada vez mais como no inferno.

Respirei fundo e olhei além das grandes janelas, o jardim desse lugar era uma perfeição, mas mesmo com toda essa paz eu não conseguia dormir, talvez eu só estivesse com medo de ter mais daqueles pesadelos com meu pai, isso estava virando algo recorrente.

Me afastei da linda paisagem que tinha diante dos meus olhos e fui em direção a porta, saí do quarto. Talvez se eu fizesse um chá poderia relaxar bem mais.

Andei na ponta do pé, evitando qualquer coisa que fizesse barulho, desci as escadas rapidamente e quando estava prestes a cruzar o corredor que dava acesso para a cozinha, escutei um som de piano afastado.

Era estranho que no meio da madrugada alguém estivesse tocando, mas quem seria o louco de fazer isso?

Mudei minha direção e fui no caminho daquela melodia linda que circulava meus ouvidos. Fazia tempo que não escutava algo do tipo.

Cheguei a sala desconhecida da qual saia o som e bastou eu empurrar levemente a porta para vê meu tio tocando em minha frente.

Isso era... Perfeito.

Ele não tinha me visto, nem sequer parecia notar as coisas ao seu redor e no meio de tanta beleza existia uma tristeza naquelas expressões. Encostei no batente da porta enquanto apreciava o som.

Seus dedos eram rápidos e habilidosos, não existia nada nele que não suspirava beleza e melancolia. E antes mesmo que eu pudesse perceber o ritmo tinha encerrado, ele virou a bebida que estava no copo em cima do piano.

— Onde aprendeu a tocar assim? — Seu corpo inteiro ficou tenso.

— Leticia? — Ele me olhou assustado — Você não deveria está dormindo?

— Pergunto o mesmo para você — Seus olhos me observaram por alguns segundos.

— Eu... Vou dormir — Ele se levantou e tentou passar pela porta, me coloquei na frente dele — Precisa de alguma coisa?

— Por quanto tempo vamos continuar aqui? — Suas sobrancelhas se franziu.

— Não sei, eu e o Lucas não falamos sobre isso, pode me deixar passar agora?

Tinha algo diferente, fora do comum, ele evitava que nossos olhos se encontrassem, acho que ele evitava até mesmo respirar perto de mim.

— Preciso que me ensine a usar uma arma — O rosto dele ficou pálido.

— O que?!

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora