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LETICIA

Todos já passamos por situações bem complicadas em algum momento da vida, seja ela a mais constrangedora possível.

Mas temos que combinar que não é nenhum pouco fácil ficar em uma mesa com os dois tios que você ficou e com uma mulher que você nem gosta.

Podemos dizer que o café da manhã não foi dos melhores que eu já tive.

Mas enfim, precisamos deixar tudo isso para trás e manter o profissionalismo pelo menos no trabalho.

Olho Betânia digitando alguma coisa no computador e lembro de coisas que aconteceram na noite passada. Essa era uma boa oportunidade de obter algumas informações necessárias.

— Betânia — Ela me olha.

— O que foi — Seu humor não estava muito bom hoje.

— Sabe, eu estava pensando e cheguei na conclusão que preciso me inteirar mais com os assuntos da empresa.

— É mesmo? — Ela abre um sorriso irônico.

— Sim, quero ser útil para alguma coisa — Levanto da minha cadeira e vou até a mesa dela — Deixa eu fazer as cópias que Lucas pediu para você.

— Leticia...

— Eu sei que não posso mexer nessa parte de contabilidade, mas só quero ajudar e além do mais, eu sou sobrinha dos chefes.

— Isso é uma manipulação?

— Claro que não, isso é uma eficiência no trabalho.

Minha colega de trabalho solta uma risada baixa.

— Tudo bem então, mas eu já fiz as cópias dos papéis, preciso apenas que você entregue isso para o senhor Lucas.

Meu sorriso se desfez no mesmo instante, não foi isso que eu pedi.

— Ah... Entregar na sala dele?

— Isso, você não queria se útil? — Que raiva Leticia.

— É, eu queria — Já me arrependi — Com licença.

Peguei a pequena pilha de documentos e respirei fundo. Eu poderia ter ficado quietinha no meu canto.

Eu e meu tio não conversamos sobre o que tinha acontecido, aliás, não conversamos sobre nada, ele faz questão de esquecer a minha existência.

Tudo isso é um porre.

Enquanto ia andando pelos corredores eu aproveitava para checar todos aqueles números da empresa.

Realmente o dinheiro lucrado era de grande valor, principalmente agora com os sócios novos. Mas mesmo assim não se comparava com aquele dinheiro todo que estava nos papéis na sala do Lucas. Têm algo de errado, eu sei que têm.

Me preparo rapidamente para o que estava prestes a acontecer e finalmente bato na porta.

Ele me autoriza a entrar.

— Betânia, você pode por favor deixar... — Suas palavras se encerram assim que ele me vê.

O desgraçado estava lindo naquele terno, que raiva.

— Não é a Betânia — Me aproximo da mesa dele — Ela pediu para que eu te entregasse esses papéis.

— Ah, sim — O clima estava péssimo — Pode deixar aqui.

Apoio os documentos na mesa dele, a mesa em que eu estava em cima na noite passada.

— Precisa de mais alguma coisa? — Pergunto enquanto olho seriamente para ele.

— Eu... — Seu olhar se mantinha firme com o meu, mas nenhuma coragem de dizer algo.

— Com licença, senhor D'angelo.

Tento me afastar mas ele me impede.

— Leticia, espera — Volto minha atenção para o moreno.

— Sim, como posso ajudar?

— Para com isso, por favor.

— Não entendi.

— Sabe muito bem do que eu tô falando — Ele levanta da sua cadeira — Por que tanta formalidade?

— Estamos no ambiente de trabalho — Tinha desespero nos olhos dele.

— Não, eu não permito que me trate assim.

— Desde quando você têm que me permitir alguma coisa? — Meu tom foi firme.

Parece que finalmente vai acontecer a conversa.

— Me desculpa, não quis falar desse jeito é que... Você tá diferente.

— Tenho certeza que não sou eu quem estou diferente.

— Ok, isso é culpa minha.

— Fico feliz que saiba disso.

Nós dois nos olhamos em completo silêncio. Tinha tantas coisas para ser ditas e mesmo assim nenhuma palavra saía de nossas bocas.

— Eu não teria feito aquilo se soubesse que acabaria desse jeito — O moreno murmurou.

— Não deveria ter feito.

— Podemos apenas ignorar essa situação?

— Não Lucas, nós não podemos — Ele respira profundamente.

— Precisamos fazer isso Leticia, para nosso bem.

— Não fale que isso é para nosso bem, ignorar essa situação é um completo egoísmo seu.

— Egoísmo? Eu estou tentando não nos condenar ao inferno, me arrependo daquele beijo.

Bastou essas palavras para meu coração palpitar fortemente de ódio. Ódio dele.

— Se arrepende? Então tabom, esquece do beijo, esquece dos toques, esquece todas as palavras ditas naquela noite... Mas me faça um favor, tenta não pensar em mim quando estiver com Verônica.

— Quem disse que penso em você quando estou com ela?

— E não pensa? — Seu silêncio foi a única coisa que precisei para responder minha pergunta — Foi o que eu pensei.

Dei meia volta e saí da sua sala, dessa vez não fui impedida por ele.


[...]


O ódio que emanava de mim não dava para descrever nem com todas as palavras do dicionário.

O dia foi longo como os outros, trabalhei, estudei e fui evitada pelos meus tios o tempo inteiro.

Como se não bastasse ter minha existência ignorada, os dois ainda esperam que eu resolva tudo. Sinceramente não estou me importando com mais nada.

Eu estava entediada de tanto ler as trezentas mensagens da Raquel me contando sobre sua nova namorada maluca. Não tinha cabeça para os problema alheios no momento.

Assim que consegui completar todas as minhas tarefas, tomei um bom banho, coloquei um pijama qualquer e deitei ne minha cama.

Ultimamente essa têm sido minha rotina.

Confesso que me deixa bem entediada e me faz pensar, pensar em variadas coisas que nem sempre eram boas.

Algumas vezes eu só...

Antes que eu pudesse completar meus pensamentos escutei um barulho no corredor. Era um choro fino.

Espera, têm algo fora do normal.

Levanto apressadamente da cama e saio do quarto. Olho a cena catastrófica na minha frente.

Que porra é essa.

— Verônica? — A mulher me olha desesperada — O que aconteceu?

— Ele terminou comigo.

Foi impossível não me sentir surpresa.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora