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LETICIA

As brigas sempre foram muito presentes na minha vida, eu não sabia como mas de algum jeito nossos laços familiares acabava em algum momento se desunindo e rompendo quase de vez. Os gritos, a violência, as súplicas para que a dor parasse... Disso sempre eu me recordava.

Não sabia como, mas sempre que Carlos e Sabrina entravam naquele cômodo da porta azul alguma parte da minha mãe saía violentada e todas as vezes, sem exceção o papai estava bêbado. Qual era o motivo de tudo isso?

Sentei na escada e tentei me manter longe da confusão, mas os gritos dos dois eram realmente horripilantes. Mamãe estava com uma mala nas mãos e o rosto cheio de hematomas.

— Você não pode continuar com isso, Carlos!

— Se você fosse no mínimo respeitosa não precisaríamos dessa confusão! — Ele se aproximou dela mas a ruiva logo se afastou.

— Eu deveria ter sumido daqui quando tive chance, nunca, nunca deveria ter me casado com você — As palavras pareceram irritar ele.

— É mesmo? Se está tão insatisfeita então basta ir embora! Mas saiba que depois que colocar os pés para fora dessa casa, você jamais entra de novo.

Meus ouvidos doíam com a gritaria, na última briga a nossa vizinha tinha interferido tudo isso, mas agora ela não parecia está em casa, pelo menos não ousou interromper hoje.

— Eu te odeio com todas as minhas forças — Sabrina cuspiu as palavras e logo se afastou dele — Leticia vamos embora agora!

— Acha mesmo que vou deixar você levar a pirralha?

— Ela é minha filha.

Mamãe tentou se aproximar de mim mas rapidamente meu pai se colocou na frente dela.

— Eu disse não.

— Sai da minha frente — Ele não a deixou passar.

— Pelo seu próprio bem é melhor você ir embora.

O olhar do homem foi de causar calafrios em direção a Sabrina. Ela me olhou com lágrimas presas em seus olhos e foi quase uma súplica para que eu fizesse algo, levantei de imediato e larguei a boneca que estava em minhas mãos na escada.

— Papai... — Minha voz saiu mais falhada do que planejava — Eu... Eu quero ir com a mamãe.

— O que?

— Eu só acho que...

Antes que eu pudesse falar qualquer coisa ele se aproximou rapidamente de mim e eu soube perfeitamente o que estava prestes a acontecer.

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Os sentimentos estavam átona dentro de mim, era como se toda aquela sensação de brigas, violência e gritaria voltassem de uma vez baseada em um único momento onde eram coisas tão distintas. É estranho no mínimo.

Meu coração não conseguia sossegar em vê o homem completamente desnorteado e pingando sangue pelo chão do galpão, mesmo com Ben e Enzo do meu lado eu podia sentir as sensações horripilantes passarem por minha espinha, o medo me consumia sem prévia para parar.

Cravei as unhas na palma da minha mão e tentei ao máximo controlar a tremedeira que se passava pelo meu corpo. Meus maridos se aproximaram e os meus amigos do meu lado se dissiparam rapidamente.

Lucas beijou o topo da minha testa e aproximou a boca do meu ouvido.

— Não precisa ficar aqui para vê o que vai acontecer — Escutei o sussurro.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora