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LUCAS

Eu estava exausto, cada centímetro do meu corpo pedia apenas por descanso, tinham pequenas gotas de sangue em minha blusa e minha cabeça latejava como se estivesse precisando de apenas um pouco de paz. Não estava sendo fácil.

Quase não conseguimos desviar a polícia do nosso caminho, a empresa precisava de um gerenciamento melhor da nossa parte e ainda não tinhamos um lugar fixo para ficar. Tudo estava um caos.

Por isso eu deixaria um pingo de paz recair sobre mim durante uma noite, era tudo que eu precisava.

Respirei fundo e tranquei a porta principal, sinceramente já estou cansado de ficar nessa casa que nem sequer é nossa, precisava da minha casa urgentemente.

Tirei o meu blazer e o segurei até passar no hall de entrada e seguir pelas enormes escadas que levava para o próximo andar. Subi cada degrau suspirando de cansaço e tentei não resmungar demais por isso.

A noite recaía sobre todo o céu, pouca iluminação estava pelos cômodos e provavelmente todos já dormiam a muito tempo.

Andei até o corredor que dava acesso para o quarto de hóspedes que eu estava instalado e parei assim que olhei o moreno escorado na minha porta. A preocupação logo me atingiu.

A única luz que permitia que eu o visse por completo era a das janelas escancaradas no fim do corredor, ele estava bem despojado, suas expressões estavam mais tensas que o comum e sinceramente ele ficava bem bonito com o cabelo bagunçado.

— Boa noite — Cumprimentei meu irmão.

— Boa noite.

— Aconteceu alguma coisa? — Coloquei as mãos no bolso e o olhei de cima a baixo — Não deveria tá no seu quarto?

— Sim, mas eu tava pensando em algumas coisas e não consegui pregar os olhos.

— O que foi dessa vez?

— Lembra quando éramos pequenos e nossos pais estavam ocupados de mais trabalhando para sequer pensar nos filhos? — Era uma pergunta bem estranha.

— Ah... Lembro.

— Tinha uma árvore enorme no jardim da nossa casa e todas as tardes íamos para aquele lugar — Ele deu sorriso bem triste para si mesmo — Brincávamos, conversávamos e até brigávamos debaixo daquela árvore.

— Onde quer chegar com tudo isso? — Nossos olhares se cruzaram.

— Lembro que fizemos muitas promessas naquele lugar, até mesmo cravamos nossos nomes no tronco da árvore — O moreno se afastou da porta e chegou ainda mais perto de mim — A nossa principal regra era não mentir um para o outro... gostaria que aquele tempo voltasse.

— Bruno...

— Tem algo para me contar, Lucas? — Ok, isso foi bem intimidador.

— Não sei, eu tenho?

Ele fechou os olhos e pareceu acalmar a si mesmo por alguns segundos. Assim que ele ergueu o queixo sua mão foi para o bolso da sua calça e um papel foi retirado.

— Me explica isso — Peguei o papel estendido a minha frente.

Foi difícil entender do que aquele papel se tratava no começo, mas assim que cheguei na terceira linha meu coração errou as batidas. Olhei para o meu irmão e busquei palavras para iniciar aquela conversa.

— Bruno... Me desculpa.

— Desculpa? — Os olhos dele se encheram de lágrimas — Lucas, como você pode esconder isso de mim?

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora