37

34K 3K 560
                                    

BRUNO

Meu coração batia tão rápido que eu podia sentir ele na garganta. Os piores cenários possíveis vinham até minha cabeça, tudo dentro de mim estava em estado de alerta e eu só conseguia pensar onde aquela garota se meteu.

Lucas andava de um lado para o outro, ele não largava o celular por nada.

— Você já ligou pra ela? — Perguntei.

— É claro que sim Bruno, o celular tá desligado — Só mais dor de cabeça.

Estava tudo perfeitamente bem, pelo menos era o que achavamos, mas aí inventamos de conversar com Leticia e quando fomos ver seu quarto estava totalmente vazio. Não tinha uma mensagem, telefonema ou carta avisando onde ela estava.

A preocupação rodeava por mim e pelo meu irmão, eu não conseguia sentir claramente minhas pernas e algo em meu estômago se revirava intensamente. Eu só a queria bem.

— Eu disse que era melhor colocarmos guardas na casa, mas é claro que você tinha que discordar — Minha raiva precisava se aliviar de algum jeito.

— A culpa não é minha seu babaca! E não tente descontar suas frustrações em mim.

— Você já colocou alguém atrás dela?

— Tiago está tentando localizar — Eu já tinha feito todas as orações possíveis.

Era bem irônico o fato de eu estar assim por aquela pirralha, meu eu de três meses atrás estaria totalmente decepcionado por isso. Mas não é como se eu me preocupasse com ela, eu só não a quero ver machucada... É coisa de tio.

Suspirei fundo e tentei fazer minha respiração voltar ao normal. Minha imaginação não ajudava em nada.

— Bruno, — Voltei minha atenção para o Lucas — você acha que é possível ela ter fugido?

— O que?

— Nós dissemos coisas duras a ela ontem e...

— Não, ela não fugiu, Leticia não têm para onde ir ela têm maturidade o suficiente para não escapar por algo tão minúsculo.

— Acha essa situação "minúscula"? Nós fizemos coisas horríveis.

— Não tivemos culpa.

— Pelo amor, Bruno, nós desejamos nossa sobrinha — Vi os olhos dele brilhando de preocupação.

Poderia reconfortar meu irmão dizendo que não controlamos atração e é realmente verdade, mas... Sabíamos o que estávamos fazendo quando entramos nos jogos dela, eu sabia o que estava fazendo.

Não foi a paixão que me seduziu, eu me deixei ser seduzido. Praticamente corri em busca desse pecado tão miseravelmente atrativo e parte se mim se arrepende por isso.

O pior de tudo é saber que não é de hoje a minha incrível habilidade de me fuder sozinho. Não estou dizendo apenas pela antiga mulher que um dia teve meu coração, mas... O homem a minha frente, ele... Existem coisas que eu não deveria sentir ou sequer pensar, mas certas pessoas sempre fizeram eu passar por limites éticos.

— Não ultrapassamos as barreiras, isso é o mais importante... Eu acho.

Foi uma tentativa quase falha de tirar a culpa dele, mas eu sabia que não estava falando apenas de Leticia, ela não é a primeira a me levar diretamente para os portões do inferno.

Antes que qualquer um de nós pudesse falar algo fomos interrompidos por um som estridente. Rapidamente me recompus.

Não posso fingir que algo dentro de mim não se doeu quando vi a ruiva em nossa frente. Tive alguns segundos de choque.

— Letícia! — Fomos até ela e a ajudamos a ficar de pé. Tentei não encostar em seus machucados.

Levamos ela até a sala e durante o curto caminho reparei no seu péssimo estado. Tinha hematomas pelo seu corpo, machucados feios e seu semblante não era nada bom... O que fizeram com ela?

Colocamos a ruiva sentada no sofá e a avaliei de cima a baixo. Ok, algo muito errado aconteceu.


LUCAS

O pavor provavelmente estampava em meu rosto, certamente alguém fez algo com ela e só de pensar em como seu corpo inteiro doía a raiva me preenchia, eu deveria ter protegido ela, falhei até mesmo com isso...

— Onde você estava? — Me despertei dos pensamentos tão horrendos que agora me perturbava.

— Quem são vocês? — Confusão me atingiu.

— O que? — Eu e meu irmão perguntamos juntos.

— Mentiram para mim esse tempo todo — Não, não, não — Me falem agora, quem são vocês? Só que dessa vez eu quero a verdade.

— Leticia, quem fez isso com você? — Bruno desviou o assunto.

— Não importa! — Ela nos olhou com ódio e conseguiu levantar — Eu vi os valores da empresa, vi o quanto aquele lucro é absurdamente alto, até mesmo para vocês... Eu estive analisando vocês dois todos os dias, percebi coisas diferentes mas eu nunca pensei que seria algo tão absurdo nesse nível!

— Por favor, só deixa a gente cuidar de você antes de respondermos todas essas perguntas — Tentei me aproximar dela mas seu corpo se afastou. Aquilo foi como um soco em meu estômago.

Era medo que a preenchia, medo de mim.

— Não toque em mim! Tudo isso é culpa de vocês!

— Falamos pra você ficar aqui! — Bruno se alterou.

— Não jogue esse peso em cima das minhas costas, vocês não podem me culpar por ir atrás de respostas que os dois se negam a me dar! — Seus olhos estavam cobertos por lágrimas de raiva — Richard me falou sobre tudo, falou sobre coisas horríveis de vocês dois e eu quero realmente acreditar que não é verdade, que em todo esse tempo a minha confiança nos dois foi válida.

— Richard fez isso com você? — O ódio veio átona.

Ótimo, agora sim eu mato aquele filho da puta.

Um nó muito bem apertado travava minha garganta, eu podia sentir as batidas do meu coração, podia sentir o medo pela primeira vez — em muito tempo — me consumir. Medo do que foi feito a ela, medo daquele olhar tão vazio que a cobria.

— Ele falou que ia nos matar — Suas palavras foram terrivelmente naturais — Ele não só me bateu, ele ameaçou vocês, ele me fez fazer coisas horríveis, dizer coisas horríveis.

— Leticia, até onde aquele desgraçado te machucou? — Meu irmão perguntou com sombras nos olhos.

— E isso importa? Não vamos estar vivos até lá, ele mandou dizer que vai matar vocês, que vai matar a mim... Por que me envolveram nessa merda?! Eu deveria ligar para a polícia!

— Não, você não pode fazer isso — Tentei avançar mas ela novamente se afastou.

— Leticia, deixe a gente resolver isso, ok? — O moreno ao meu lado disse.

— Pode ter certeza que eu nunca mais vou confiar em vocês, muito menos para garantirem minha segurança.

A ruiva andou até a saída da sala mas eu a impedi segurando seu braço. Não podíamos deixar ela envolver polícia
nisso.

— Me solta! — Minha sobrinha se desvencilhou de meu toque e tentou correr até a escadas.

As coisas que aconteceram a seguir foram confusas para mim, tudo foi rápido demais.

A única cena que consegui raciocínar foi Leticia correndo até o topo da escada e Bruno adormecendo ela com uma agulha cheia de líquido. Ela rapidamente desmaiou.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora