100 Camadas De Desejo

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LETICIA

Estava extremamente estressada com aqueles dois, primeiramente pelo Bruno ser um idiota, obcecado por mim. E segundo por eles simplesmente terem ignorado tudo o que falei.

Eu estava fazendo coisas que não devia? Sim, mas queria pelo menos um pouquinho de educação.

Tirando toda essa frustração, meu dia não foi tão ruim.

Tiveram aulas chatas, como sempre, tive que aguentar o convívio humano diário, mas pelo menos me convidaram para ir em uma pizzaria.

Sinceramente preferia comer sozinha, mesmo assim aceitei ir.

— Então, Letícia — Levei minha concentração até Kristen — Nos fale mais sobre você.

— O que querem saber? — Coloquei um sorriso no rosto.

— Tudo de preferência — Rodrigo murmurou e eu não me preocupei em entender.

— Por que você se mudou? — Que ótimo, chegou a hora de estregar o bom clima.

— Ah... Meu pai morreu e eu tive que me mudar — Senti o clima ficar pesado no mesmo instante que as palavras saíram de minha boca.

Eles se entre olharam e eu me senti bem desconfortável com isso. Devia ter inventado alguma coisa ao invés disso.

— Desculpa ter tocado nesse assunto — Pedro falou enquanto todos os outros me observavam com pena. Como odeio isso.

— Não se preocupem, eu superei.

Se eu ficasse quieta nada disso teria acontecido. Parabéns Leticia, você sabe estragar as coisas.

— Então pessoal, você conseguiram terminar o trabalho? — Barbara mudou de assunto e eu agradeci internamente por isso.

Olhei para o lado e vi que Rodrigo me observava tão atentamente, tinha algo estranho e a Paula não parecia gostar nenhum pouco disso.

— Não me importo com o trabalho de matemática, vou passar do mesmo jeito — Kristen disse e todos riram.

Claro que você não se importa, seu pai deposita uma boa doação para a escola todo mês. Nunca pensei que chegaria ao ponto de andar com pessoas assim.

— Mudando de assunto, a gente vai na festa da Sara né?

O foco voltou para outra coisa e continuamos a comer.

...

O céu já estava escurecendo quando saímos da pizzaria e apesar de meu convívio com outras pessoas ser péssimo eu me diverti hoje.

Quer dizer, não foi o dia mais feliz da minha vida, mas também não foi o pior.

Todos se despediram e seguiram o caminho de suas casas. Exceto Rodrigo, ele preferiu me acompanhar e isso foi estranho pra cacete.

— Lamento pelo seu pai.

— O que? — Olhei para ele enquanto íamos caminhando.

— O que você contou naquela hora... Eu não fazia idéia, meus pêsames — Seu sorriso acolhedor pareceu sincero.

— Não têm problema, ele não... Já faz tempo — Apenas um mês.

— Você quer falar sobre isso?

— Com certeza não — Soltei um riso frouxo — Me conta sobre você, sua família.

— Moro com minhas mães e meu irmão de cinco anos, não têm nada demais.