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LUCAS

Não é fácil sequestrar sua sobrinha, fingir que sua vida continua na mesma "normalidade" e no final do dia fazer uma curta viagem até a cabana que te encheu de grandes memórias por um tempo da sua vida.

Imaginei que depois de uma semana finalmente iria me acostumar a isso, mas aparentemente me enganei. Não podemos superar traumas tão facilmente assim, é um verdadeiro desafio.

Respiro fundo, me solto do cinto de segurança e encosto no banco do carro. Precisava me preparar por alguns segundos para o desafio que iria ter dentro desse inferno.

Até que estávamos conseguindo levar a vida assim. Eu e Bruno nos revisamos para ir até a empresa, um dia eu trabalhava e no outro ele, até o momento ninguém desconfiou mas não dava para ser assim sempre.

Antes que eu pudesse continuar me lamentando sobre a vida meu celular tocou e me tirou de dentro da minha própria confusão. Atendi a ligação assim que vi o contato.

≈ Alô?

≈ Lucas? Como estão as coisas? — Escutei a voz tão familiar — Você não passou aqui hoje e eu imaginei que tivesse acontecido alguma coisa.

≈ Está tudo bem, Valentina — Disse a minha empregada — Eu já estou na cabana.

Observei as luzes ligadas dentro da pequena casa.

≈ Têm certeza? Acho que vocês já podem voltar para casa e...

≈ Eu preciso desligar agora, mas se cuida — Apertei o botão vermelho da tela e coloquei o celular no bolso interno do blazer.

Eu consegui me manter de pé no dia de hoje, então posso facilmente aguentar mais algumas horas de sofrimento interno.

Abri a porta e desci do carro, garanti que não tinha esquecido nada dentro do automóvel e fui até a entrada da cabana. Assim que entrei o calor me esquentou e senti o cheiro de comida.

Não demorou muito para que meu irmão aparecesse na minha frente vestido com um avental rosa. Ele tá cozinhando?

— Pensei que não ia chegar nunca — Foram as primeiras coisas ditas por ele.

— Boa noite.

Tranquei a porta e comecei a tirar tudo o que me prendia. Começando pela gravata.

— Como foi seu dia? — Ele voltou para a cozinha que ficava a poucos centímetros de onde eu estava.

— Nada demais, apenas reuniões chatas.

— Já encontrou Richard?

— Não, mas ainda estamos em busca.

Fui até o outro cômodo e cruzei os braços enquanto observava meu irmão cozinhando. Era engraçado ver ele bancando a dona de casa.

— Por que tá me olhando assim? — Dei um sorriso de lado.

— Nada.

Me afastei do batente da porta e fui até a panela que exalava um cheiro de queimado. Virei a carne enquanto meu irmão mexia algo líquido do outro lado.

— Como ela esteve hoje? — O corpo dele ficou tenso.

— Do mesmo jeito que os dias anteriores, não comeu muito bem, não disse nada e ficou na mesma posição de sempre.

Fechei os olhos e imaginei perfeitamente a cena. Algo em mim doía por causa disso.

— Sabe Lucas, acho que devemos da mais liberdade para ela.

100 Camadas De DesejoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora