Capítulo 4: Floresta do Medo.

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A mulher tinha cabelos vermelhos e olhos violetas. Ela me encarou de cima a baixo e fez uma careta. Dei um passo para trás, tentando decidir quando ela gritaria pelos guardas.

—Eles estão indo até a saída da caverna perto do rio. Não precisa se preocupar. —Falou, me deixando completamente surpresa. Fiquei em silêncio e ela me analisou de cima a baixo. —Não vou entregar você.

—Porque não entregaria? —Questionei e ela suspirou, passando as mãos nos cabelos. A mulher na minha frente era bonita. Muito bonita. Isso não era uma surpresa, visto quem era ela.

Fadas da Luz costumavam ser uma raça de seres deslumbrantes. Além de seus olhos violetas chamativos. Eu me perguntava as vezes como seria poder controlar a própria luz.

—Não sou uma adepta a reverências ao rei. —Falou e então se aproximou de mim, dei outro passo para trás, me aproximando mais das fileiras de prateleiras de livros. —O que roubou?

—Não sei. —Falei, pois era verdade. Ainda não sabia o que tinha no bolso.

—Roubou do príncipe e não sabe o que é? —Ela riu e se aproximou mais, enquanto eu me afastava. —Pare se fugir de mim. Não vou machucá-la. Meu nome é Miriam. -Engoli em seco e ela suspirou. Observei ela erguer a mão e apontar para um dos lados da biblioteca. —Tem uma porta falsa atrás de um quadro da rainha, no corredor à esquerda. Da para um túnel com saída para a igreja.

Olhei para a direção que ela indicava e depois para ela de novo. Meus dedos se fecharam um nos outros, sem eu saber se deveria ou não confiar nela.

—Precisa ir. Se mais alguém encontrá-la aqui, não acho que serão tão bons anfitriões como eu. —Falou e eu olhei para o corredor atrás dela. Ela me encarou com atenção, vendo eu andar para trás e então correr em direção ao local que ela havia dito.

Eu já estava com merda até o pescoço, literalmente. O que mais poderia dar errado?

[...]

Andei pelo túnel enquanto tentava recuperar minha respiração pesada. Meus pulmões doíam e minha garganta ardia com a intensidade com a qual eu respirava. Suspirei um pouco frustrada por toda aquela confusão. Mas também, eu roubei o próprio príncipe herdeiro do trono. Eu provavelmente seria enforcada se eles me pegassem.

Parei de andar e me escorei na parede, tentando recuperar o fôlego. Coloquei a mão no bolso e puxei o saquinho, curiosa para saber o que havia roubado do príncipe. Estranhei ao ver uma estranha luz verde saindo pelo tecido molhado do saquinho. O abri e virei para que o objeto caísse na palma da minha mão.

Me surpreendi ao ver que era uma pequena pedra verde brilhante. Ela clareava minha mão. Girei ela entre meus dedos e senti a corrente de energia que passou dela para mim.

—Mas o que diabo é isso? —Questionei, fazendo uma careta. Eu não sabia o que era e muito menos o preço que aquilo poderia ter. Mas minha maior curiosidade era saber o que o príncipe fazia com aquilo no bolso.

Ergui a cabeça e apertei a pedra na minha mão, lembrando do que Travis havia dito pra mim. A homenagem para o rei seria porque ele havia encontrado uma safira. Voltei a olhar para a pedra verde. Eu não fazia ideia do que era uma safira. Mas iria descobrir e esperava que ela valesse muito a pena. Eu precisava me livrar dela e dos guardas atrás de mim.

Voltei a andar, aproveitando da luz daquela pedra para facilitar minha locomoção por aquele túnel escuro. Eu ainda estava tentando entender o porque da bibliotecária, que se chamava Miriam, havia me ajudado. Ou talvez nesse exato momento ela estava entregando aos guardas aonde eu estava.

É uma possibilidade...

Parei ao ver que havia encontrado uma porta. Parecia a parte de trás de um quadro, como o que cobria a outra entrada. Eu sabia que o túnel saia na igreja, mas não fazia ideia de onde exatamente. Em qual parte da igreja.

Empurrei o quadro com cuidado e vi que era a sala do padre. Engoli em seco e pulei para dentro quando percebi que ela estava vazia. Coloquei o quadro de volta no lugar e olhei envolta.

Seria errado roubar do padre? Era um momento de extrema necessidade, então eu espero que os deuses me perdoem. Abri todas as gavetas até achar algumas moedas de ouro e as enfiei no bolso.

Fui até a janela e percebi que ela dava para uma rua pouco movimentada. Porém, estávamos no segundo andar. Puxei a janela para cima, a abrindo e encarei a rua vazia e estreita até demais. Suspirei e passei uma perna pela janela.

—OH CÉUS! -O padre exclamou, quando abriu a porta e me viu pulando a janela. Abri um sorriso nervoso e arregalei os olhos. Passei a outra perna e firmei os pés entre as pedras que compunham a igreja.

—Mil desculpas, padre. Mas a gente faz o que pode pra sobreviver. —Falei para mim mesma, enquanto tentava não despencar. Fechei os olhos com força e fiz uma careta quando ouvi o padre começar a gritar pelos guardas. Comecei a descer com mais velocidade por aquela parece se pedra, até escorregar e ir de cara no chão.

Gemi quando cai sobre meu braço e senti uma fisgada no ombro. Respirei com um pouco de dificuldade e me coloquei de pé. Olhei para cima quando ouvi os gritos do padre de novo e ele logo apareceu na janela.

—Ali, ela está fugindo! —Apontou para mim e logo Devlon apareceu na janela, curvando os olhos assim que me viu. Não esperei nada antes de voltar a correr feito uma condenada.

Ladrões não tem um dia de paz nessa vida miserável.

Virei uma das curvas quando vi os guardas vindo na minha direção e empurrei as pessoas que estavam no caminho, vendo as expressões assustadas delas.

—Licença... Desculpa aí... Sai da frente... Ladra passando... —Virei outra curva e derrapei no chão, caindo sobre meu braço de novo. —Hoje não é meu dia.

Me coloquei de pé e agarrei um vaso de flores. Senti a mão do guarda me puxar com força para trás e me virei, tacando o vaso na cabeça dele. O mesmo me soltou na hora e eu voltei a correr, catando todos os vasos que achava e jogando em direção aos guardas que corriam atrás de mim.

—Foi mal aí, florzinhas. —Virei em outra curva e arregalei os olhos quando dei de cara com mais guardas. Entrei em outra rua e percebi que estava chegado ao final da cidade, indo em direção a Floresta do Medo.

Eu não sou medrosa. Além do mais, nada lá era real. Tudo sobre aquela floresta não passava de boatos. Mas ao olhar pra cima e ver que estava quase anoitecendo, não me parecia uma boa ideia ir até aquele lugar. Virei o rosto para trás e vi que estava ficando cercada.

Voltei a olhar pra frente e balancei a cabeça negativamente. Eu preferia morrer na floresta do que ser pega e enforcada no meio da praça como um espetáculo. Então eu não pensei duas vezes antes de correr até aquele pequeno jardim com muros vivos que dividia a Cidade dos Ossos da Floresta do Medo.





Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now