Capítulo 49: Princesa.

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Lyra

Nós três dividimos a cama, por mais apertado que havia sido, pelo menos nenhum de nós passou frio à noite. Mas assim que amanheceu nós já estávamos de pé e prontos para sair. Eu não via a hora de chegar até aquela marca no mapa e descobrir o que ela significava. Eu estava torcendo muito para encontrar os guardiões e saber o porque de eles não estarem protegendo mais as safiras.

Mas algo ainda tinha minha curiosidade. Porque Miriam tinha uma safira com ela e porque entregá-la a mim?

—Caramba, que frio! —Trevis resmungou, ajeitando a touca na cabeça e agarrando as alças da mochila. —Pelo menos estou de barriga cheia.

—Se depender de mim nenhum dos dois vai voltar a passar fome. —Afirmei, vendo Cedric me lançar um olhar surpreso. O cara era praticamente uma rocha, mas eu acho que pelo menos um arranhão eu já causei nele. —Vamos, temos que achar uma carona logo. Assim fugimos desse frio.

—Ah não! —Cedric apontou para o início da rua, onde uma carruagem ganhava forma com a figura de vários guardas a cavalo envolta. Arregalei os olhos quando reconheci Devlon na frente deles.

—Se escondam, rápido! —Mandei, empurrando eles em direção a uma carroça. Ficamos abaixados atrás dela, vendo a carruagem passar por nós e Devlon olhar envolta, curioso.

—É uma carruagem solar. —Trevis exclamou, quando vimos o símbolo do sol na porta da carruagem. —Quem será que está lá dentro?

—Duvido que o rei deixaria suas terras e viria até aqui. —Falei, virando o rosto para os dois. —Então só pode ser o príncipe ou uma de suas irmãs.

—E o que diabos eles iriam querer aqui? Se estão todos atrás das safiras. —Cedric murmurou e eu curvei os olhos, vendo a direção que a carruagem tomava.

—Não sei, mas vamos descobrir. —Afirmei.

[...]

Meus passo eram leves pela neve, enquanto eu, Trevis e Cedric seguíamos a carruagem pelas ruas da Cidade das Estrelas. Parei na entrada de um mercadinho, ao lado dos dois, enquanto a carruagem virou em uma pequena ponte, sobre um rio.

—O que eles estão fazendo aqui? —Trevis indagou confuso. —Tem alguma possibilidade de haver uma safira aqui?

—E eles estarem atrás? É, talvez. —Dei de ombros. —Mas porque alguém da realeza estaria junto? Ainda mais com as suspeitas de que há pessoas das terras esquecidas contaminando os guardas.

—Vem, precisamos ver mais de perto. —Cedric chamou, quando a carruagem parou do outro lado do rio, perto de um prédio chique. Seguimos ele até atravessar a ponte, vendo os barcos passando por baixo dela. Fomos até um beco e Cedric começou a escalar a parede de pedra, subindo até pular dentro de uma janela aberta.

—O que está fazendo? —Indaguei, arregalando os olhos. —Eles estão aí dentro!

—Eu sei. Minha visão é muito boa. —Ele zombou. —Subam logo. —Ele apontou para as caixas no chão do beco, que ele havia usado para subir até a janela. —Precisamos ouvir a conversa deles.

Trevis subiu em uma velocidade impressionante. Fui logo atrás, agarrando a mão estendida de Cedric para conseguir subir até a janela. Assim que pulei para dentro, percebi que era um quarto feminino de uma criança. Haviam brinquedos espalhados por todo lado.

—É de alguém muito rico. —Cedric constatou e eu concordei. Tudo era muito chique. Trevis foi até a porta e abriu ela lentamente, encarando o corredor.

—Ta vazio. Mas eu escuto umas vozes vindo do andar de baixo. —Falou, baixinho e então abriu a porta por completo e saiu andando pelo corredor. Cedric e eu corremos para alcançá-lo, no topo da escada, onde agora podíamos ouvir a conversa completamente.

—Vocês tiveram uma boa viagem? Chegaram mais rápido do que esperávamos, vossa alteza. —Uma voz feminina que eu não conhecia falou em um tom solene. —A princesa ainda está a caminho.

—Estávamos com um pouco de pressa, Sra. Madeleine. —Arregalei os olhos e me virei para Trevis e Cedric.

—É o príncipe! —Sussurrei e a voz da tal Madeleine voltou a soar na sala.

—Ah imagino. A questão das safiras está complicando muito tudo. Com todos os reinos atrás delas, tempo é o que menos nos falta. —Uma pausa. —Os senhores já tiveram alguma notícia das outras safiras, vossa alteza?

—Um Portador das Sombras, o mesmo que esteve no reino de meu pai, está com duas delas. Ele e uma garota roubaram uma safira diretamente de mim e a outra eles roubaram a alguns dias, na Cidade Marítima, de Devlon. —Nos três trocamos olhares de novo. Kayla estava, ou pelo menos esteve na Cidade Marítima. E pelo visto ela realmente estava com o portador. E agora, com duas safiras. —Precisamos completar logo essa união e unir nossas forças. Assim conseguimos as duas safiras que ainda estão desaparecidas e recuperamos as roubadas.

—União? —Cedric fez uma careta e eu dei de ombros, me curvando sobre a escada para ouvir mais a conversa. A safira na minha mochila nunca pareceu tão pesada como agora.

—Eles chegaram! —Ouvi a voz de Devlon pela primeira vez e então o barulho de uma porta se abrindo. Me curvei mais sobre a escada, vendo parte do que parecia uma sala. Meus dedos estavam agarrados a corrimão, com Trevis e Cedric fazendo o mesmo para tentar ver e ouvir melhor.

—Vossa alteza! —A voz de Madeleine soou e então passos do que pareciam ser um salto ecoaram pelas paredes. —É um prazer recebê-la em minha residência. Este é o príncipe solar.

—Princesa! —A voz do príncipe herdeiro ocupou o ar, e eu o imaginava fazendo uma reverência.

—União... —Fiz uma careta. —Eles estão fazendo um casamento por acordo com a princesa lunar. Vão unir os reinos.

—Eu estava esperando pela senhorita. —O príncipe prosseguiu, usando um tom de voz malicioso que me deu nojo.

—O senhor exigiu um encontro antes do previsto. Espero que tenha um bom motivo para ter me feito sair, de dentro do muros do meu castelo, em meio a neve e o frio. —A voz mais jovem e seca respondeu e eu acabei mordendo o lábio para não rir.

—Caramba, ela foi super grossa. —Trevis sussurrou na minha frente, quase caindo da escada para ouvir melhor.

—Nosso casamento terá que ser adiantado. As coisas estão saindo fora do controle. Quanto antes nossa união ser feita, melhor...

—Quem são vocês? —Me virei para trás, ficando completamente apavorada quando vi uma mulher saindo de um dos cômodos. —Ei!

Pedi o equilíbrio, escorregando no pé da escada e puxando Trevis e Cedric junto comigo. Caímos escada a baixo, com meus ossos sendo esmagados pelo peso de Trevis e Cedric. Um grito se entalou na minha garganta quando chegamos até o chão da sala, embolados. Meus braços estavam amaçados embaixo da perna de alguém e a mochila estava praticamente em cima da minha cabeça.

—Lyra? —Ergui os olhos, vendo Devlon do outro lado da sala, ao lado do Príncipe e de uma garota de cabelos ruivos.

—E aí? —Abri um sorriso nervoso e minha mochila caiu para o lado. No mesmo instante a safira caiu do bolso e quicou no chão, parando na frente do meu rosto, o que fez meu sorriso morrer.

Deu ruim!


Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now