Capítulo 73: Ossos se Partindo.

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Kayla

Fechei meus olhos e suspirei aliviada quando Kenji se aproximou de mim, desamarrando as cordas que me prendiam, com cuidado para não me machucar. Ele tirou as mesmas, deslisando as mãos pelos meus braços, vendo as marcas vermelhas que haviam ficado ali.

—Você está bem? —Kenji segurou meu rosto, me analisando com preocupação. —Ele não...? —Neguei com a cabeça e ele suspirou aliviado. Kenji tirou a jaqueta, me envolvendo com ela e então se aproximando de novo. —Você quer ir ou que ficar?

Pisquei algumas vezes, esfregando meus pulsos que ardiam. Olhei por cima do ombro de Kenji, vendo Axel arrastar Simon até uma cadeira, enquanto ele gemia de dor.

—Quero ficar. —Afirmei. Eu precisava ver. Precisava ter certeza que aquilo ia acabar ali. Os olhos de Kenji brilharam com uma diversão felina.

—Imaginei que diria isso, princesa. —Ele deixou um beijo na minha testa e se afastou, dando lugar a um lobo negro imenso que subiu na cama, se deitando ao meu lado, como se quisesse me proteger.

Mas minha atenção não ficou na Criatura das Sombras ao meu lado. Foi para Simon, que agora se levantava para tentar correr. As sombras de Axel se enrolaram nas pernas dele, fazendo ele cair com tudo no chão e bater a cabeça.

—Posso saber onde você pensa que vai? —Kenji pegou ele pela jaqueta e o levou de volta para a cadeira, agora com sangue escorrendo pelo nariz quebrado. —Pensei que quisesse se divertir. —Kenji sorriu. —Vai perceber que a gente também gosta muito de se divertir.

—E... eu... —Simon tentou falar, sugando o ar com força enquanto olhava desesperado de Axel para Kenji. —Ela é minha filha. —Axel estalou a língua, as sombras se enrolando em Simon e prendendo-o na cadeira. —Vocês não estão entendendo...

Ele gritou, quando o barulho de ossos se partindo soou pelo quarto. Meu corpo se encolheu contra o colchão, enquanto eu o via gritar e se debater em meio as sombras. Olhei para Axel, vendo que ele encarava Simon agonizando com uma expressão fria e indiferente.

—Acho que você está falando demais. —Kenji se aproximou dele, erguendo seu rosto pelo pescoço. —Não estou ouvindo você implorar ainda.

Simon arregalou os olhos, tremendo sobre a cadeira, o rosto ficando vermelho e paralisado enquanto a eletricidade saia das mãos de Kenji e passava para o corpo dele. Kenji se afastou, com as sombras girando ao redor de Simon. Observei, de relance, o braço direito dele, retorcido de um jeito grotesco.

—Acho que precisamos equilibrar, irmão. Ele está com um braço sobrando ainda. —Kenji murmurou, se afastando de Simon, onde as sombras se enrolaram do outro lado, no braço preso a cadeira. Virei o rosto quando o estralo do osso se partindo invadiu o quarto de novo. Meu coração martelando no meu peito, enquanto aquele som ecoava como uma música na minha cabeça, junto com os gritos de Simon.

—Po... por favor... —Pediu, me fazendo voltar a olhar pra ele. Os lábios de Axel se curvaram em um sorriso curto, enquanto as estrelas nos olhos dele começaram a brilhar mais intensamente. —Por favor, pare...

—Você parou quando ela pediu? —Questionou, com a voz parecendo a lâmina afiada de várias adagas. O rosto de Simon ficou pálido. Axel moveu a cabeça de leve, um movimento quase imperceptível. As sombras se enrolaram nas pernas de Simon, deixando a vista os braços quebrados e virados em posições impossíveis de se acreditar, assim como os dedos das suas mãos. Então ele gritou de novo, me fazendo soltar o ar com força, quando o barulho de outro osso se partindo invadiu meus ouvidos. Então veio outro e depois outro. A cada osso que se quebrava nas suas pernas, mais ele gritava, mais o sorriso no rosto de Axel aumentava.

As sombras se afastaram, depois do que pareceram minutos intermináveis daquela tortura a Simon. Encarei as sombras, vendo elas deslizarem pelo quarto, dançarem até passarem pelo lobo deitado na cama e deslizarem pelas minhas pernas, como se estivessem me protegendo. Olhei pra Simon, ainda na cadeira, quebrado e retorcido de todas as formas possíveis. Kenji o segurou no lugar, pelo pescoço, para que ele não caísse no chão. Sua boca estava aberta, soltando gemidos e arfando de dor.

—Pra mim ainda não foi o suficiente. —Kenji declarou, fechando a mão no pescoço dele, e a outra agarrando os cabelos curtos, curvando a cabeça dele em uma posição fácil de se quebrar. Faíscas dançaram nos olhos de Kenji, antes das suas mãos serem tomadas por elas e então Simon se debater, abrindo a boca em um grito silencioso e vazio.

Axel se aproximou, parando atrás da cadeira, vendo os olhos de Simon arregalados e quase vazios. Então quando Kenji se afastou, deixando Simon quase inconsciente, Axel envolveu as mãos no pescoço dele, com as sombras aguardando ansiosas pelo que viria. Ele torceu o pescoço, fazendo o som do osso se partindo reverberar por todo meu corpo. Axel chutou a cadeira, fazendo ela se virar e o corpo cair no chão, com um baque abafado.

Um silêncio preencheu o ar, enquanto eu sentia meu peito se encher de um sentimento que eu não fazia ideia do que era. Simon estava morto. Morto e nunca mais apareceria nos meus pesadelos. Eu poderia viver em um mundo sabendo que ele não estava mais ali para me atormentar. Não senti vontade de chorar. Apenas alívio e... um vazio infinito.

Quando Axel veio até mim, me envolvendo com seus braços firmes, as sombras se enrolando em mim, ansiosas e carinhosas. Olhei nos olhos dele, para as estrelas que me encantavam.

—Vamos embora. —Suspirou, me aconchegando em seus braços e me levando em direção as escadas. Fechei meus olhos, com minhas mãos fechadas e as unhas causando uma leve dor pela força que eu usava.

Mas eu precisava de mais. Pra mim, ainda não era o suficiente.

—Eu quero... —Minha voz falhou, Axel parou de andar quando chegou ao primeiro degrau. Engoli com dificuldade, erguendo os olhos para vê-lo me observando com atenção. Dessa vez minha voz saiu firme quando consegui falar. —Eu quero a cabeça dele.




Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now