Capítulo 62: Fazenda.

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Corri por aquele corredor, vendo as chamas se espalharem atrás de mim. Passei pela porta da sala de Astrid, vendo que o escritório estava vazio e os três estavam na sala secreta. Passei pela estante de livros, segundos antes de ela se fechar atrás de nós.

—O que você fez? —Astrid indagou, enquanto eu corria até onde Axel estava caído, desmaiado, ao lado de Kenji. —Colocou fogo na minha casa.

—Astrid! —Kenji exclamou, os olhos arregalados de pavor. —Ele está morrendo. Anda logo com isso.

—Axel? —Cai de joelhos ao lado dele, vendo seu rosto pálido e o sangue ainda saindo. Segurei a cabeça dele, trazendo para o meu colo. As sombras haviam desaparecido completamente. —Axel?

—Ele vai ficar bem, Kay. —Kenji colocou a mão sobre a minha. Ambas sujas de sangue. Olhei pra ele, vendo as lágrimas molhando as bochechas pálidas dele. —Ele vai ficar bem.

Mas aquela afirmação parecia mais pra ele do que pra mim. Voltei a olhar para Axel, enquanto apertava a mão de Kenji e via Astrid se movimentar apressadamente. Mexendo em frascos e ervas.

—Aqui! —Astrid correu até nós, se ajoelhando do outro lado. —Abra a boca dele e erga a cabeça.

Ergui a cabeça dele, ajeitando mais no meu colo e Astrid derramou a bebida na boca dele. Depois ela se afastou e puxou o restante da flecha que ainda estava cravada nele. Fechei os olhos e encostei minha testa na dele, depois de vê-la derramar o restante do líquido no ferimento.

—A flecha estava envenenada. Vai demorar pra ele se curar. Precisa achar um abrigo. —Astrid afirmou, erguendo os olhos para Kenji. —Seguro e com pessoas confiáveis.

—Tudo bem. —Kenji puxou uma pedra do bolso. Era branca e simples. Olhei pra ele confusa. Kenji estendeu a pedra para Astrid. —Pode encanta-la para funcionar só nessa dimensão? —Ela assentiu, pegando a pedra e se afastando de nós dois. Olhei para Kenji, uma pergunta silenciosa. —Pedra dimensional. Usamos pra viajar entre as dimensões ou pro Mundo Inferior. Astrid vai encanta-la para que possamos usá-la para sair daqui e ir pra um lugar seguro.

Não ousei perguntar outra coisa. Voltei minha atenção para Axel de novo.

[...]

Eu e Kenji estávamos carregando Axel pela floresta, depois de Astrid ter encantado a pedra dimensional, o suficiente para que conseguíssemos fazer pelo menos um salto entre as cidades. Na verdade, eu não sabia ao certo em que reino ou perto de que cidade estávamos. Kenji não me deu explicações, já que tivéssemos que sair fugidos de lá.

—Estamos perto. —Murmurou, ajeitando o braço de Axel sobre seu ombros. Mesmo que nós dois estivéssemos o carregando juntos, ele ainda era pesado. —Estamos quase.

Olhei pra frente, vendo o que parecia ser a silhueta de um chalé após o final da floresta. Apertamos o passo e eu vi que era uma pequena fazenda. Um chalé de madeira, simples e antigo. Havia um pomar atrás da casa, uma pequena estufa ao lado. E perto de um lago, cercado por cercas de madeira pintadas de branco, ovelhas. Além de um pequeno galinheiro.

—Alissa! —Kenji exclamou, tentando gritar. Começamos a andar mais rápido, saindo de vez da linha das árvores e andando pelo gramado que dava para o chalé. —Alissa!

Ergui os olhos, vendo a figura de uma mulher sair de dentro da estufa. Ela tinha as mãos e as roupas sujas de terra. Sua pele era clara e os cabelos loiros. Ela estava usando um vestido florido e andava descalço.

—Ai Deus! —Ela arregalou os olhos. —Kenji?

—Nos precisamos de ajuda! —Nos caímos no chão, não aguentando mais carregar o peso de Axel. Alissa correu até onde nós estávamos, se ajoelhando ao lado de Axel e parecendo completamente assustada.

—O que aconteceu? —Questionou, levando as mãos sujas de terra até a testa pálida dele.

—Ele foi atingido por uma flecha envenenada. Astrid deu a poção a ele. Mas está se curando muito lentamente. —Kenji engoliu em seco. —E ele está desmaiado desde então.

—Ai droga. Gregory! —Ela chamou, virando o rosto pra casa. —Eu preciso de ajuda!

Um homem saiu da casa, usando roupas velhas e uma bota. Ele tinha cabelos curtos e pele negra. O mesmo correu em nossa direção assim que viu o que estava acontecendo.

—Vamos levá-lo pés dentro. —Alissa declarou, enquanto Kenji e Gregory carregavam Axel. Fiquei para trás, vendo os quatro desaparecerem dentro da casa. Desabei na grama, encarando o céu muito azul.

Assim que consegui voltar a respirar normalmente, fui em direção a casa. Passei pela porta vendo Axel deitado no sofá, com Kenji ao seu lado. Alissa e Gregory estavam em uma pequena cozinha, andando apressadamente enquanto preparavam alguma coisa.

—Gente, essa é a Kayla. —Kenji murmurou, chamando a atenção de nós três. —Kayla, esses são Alissa e Gregory.

—Prazer! —Falei, abrindo um sorriso sem mostrar os dentes.

—O rosto de vocês três está exposto em todos os lugares. —Gregory comentou, depois de um aceno rápido, dele e de Alissa, a mim. —Pelo visto conseguiram arranjar bastante confusões.

—A resposta está no sofá de vocês. —Kenji murmurou, olhando para Axel. Encarei o rosto dele. Pálido e abatido. As roupas sujas de sangue, assim como as minhas e as de Kenji estavam.

—Ele vai ficar bem? —Consegui perguntar, já que minha língua parecia ter ganhando muito mais peso.

—Ele provavelmente vai demorar pra acordar. Mas vamos cuidar para que o ferimento se cure mais rápido. —Alissa passou por mim, indo até Axel e depositando um pano úmido na testa dele. —Não acho que vai ser um flecha envenenada que vai derruba-lo.

Olhei para Kenji e ele me lançou um sorriso fraco, antes de se sentar no chão ao lado do sofá.


Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now