Capítulo 52: Safira do Ar.

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Lyra

Sabe aquele momento em que você vê toda sua vida passando pelos seus olhos em poucos segundos? Era isso. No momento que a safira do ar caiu no chão, ficando visível pra todos eles, eu sabia que minha vida toda já era.

Todos os presentes na sala encararam a safira que havia acabado de cair do meu bolso. Devlon ficou com uma expressão de choque, enquanto o príncipe parecia estar à beira de um ataque cardíaco. E a garota de cabelos ruivos, que eu imaginava ser a princesa, apenas nos encarou espantada.

—Lyra? —Devlon me chamou de novo, enquanto Cedric e Trevis se levantavam. Juntei a safira do ar do chão e me coloquei de pé no meio deles. —Pode me explicar o que significa isso?

—Er... —Engoli em seco e fiz uma careta.

—Você conhece essa gente? —O príncipe cuspiu as palavras e eu fiz uma careta, ouvindo uma risada de Cedric.

—Lyra trabalha na biblioteca real com as outras fadas. Não entendo o que está fazendo aqui. E esses outros dois, não faço ideia. —Devlon afirmou e olhou pra mim. —O que faz aqui, Lyra?

—Pegue logo a safira e prenda os três! —O príncipe mandou, exibindo uma expressão de descontentamento para Devlon. —Ande logo!

Devlon fechou os olhos e respirou fundo, antes de começar a vir em nossa direção com uma expressão de pena e raiva ao mesmo tempo. Engoli em seco quando ele parou na minha frente e estendeu a mão.

—A safira, Lyra. —Pediu e eu olhei de relance para Cedric e Trevis. Sem outra alternativa, entreguei a safira na mão dele.

—Como conseguiram isso? —A princesa ruiva questionou e eu percebi que olhava fascinada para a pedra na mão de Devlon. —Aposto que não foi fácil. Todos estão atrás delas. Meu rei então.

—Mais um motivo para nossa união. —O príncipe se virou para ela e vi ela franzir a testa em uma tentativa de esconder uma careta. —Meu rei possui uma safira.

—Uma, exatamente. Ainda está para trás. —A princesa rebateu e eu vi o príncipe cerrar as mãos. —Não sei ao certo que termos esse acordo de casamento envolve. Não vou me casar só porque o senhor está com pressa.

—Felizmente, para seu rei, sua opinião pouco importa. —O príncipe rebateu e estendeu a mão para pegar a safira da mão de Devlon. Observei as bochechas da princesa ficarem vermelhas e ela cerrar os olhos. —Vamos tratar logo da questão do casamento. Quero ele ainda essa semana.

O príncipe encarou a safira na mão e olhou para nós três com uma cara de nojo, então virou as costas e saiu, dando ordens para que fôssemos presos, de novo. Soltei um suspiro desanimado e deixei que os guardas me segurassem.

—Relaxa, Lyra. Quantas vezes acha que já passamos por isso? —Cedric sussurrou e eu o encarei com as sobrancelhas erguidas. Cedric piscou pra mim e abriu um sorriso com o canto dos lábios.

Fomos puxados para o lado de fora, por dois guardas cada um. O príncipe ia mais à frente com Devlon, brincando com a safira na mão, enquanto a princesa andava atrás deles com a saia do vestido prateado deslizando pela neve. E pela cara dela, não estava nada feliz com aquele casamento.

—Chamem outra carruagem. —Devlon ordenou aos guardas. —Temos que levar os três para o Reino Solar agora mesmo.

—Quanto a nós dois, princesa. —O príncipe se virou e a encarou de cima a baixo, como se ela fosse um simples pedaço de carne. Aquilo fez meu estômago borbulhar. Quem ele pensa que é? —Vou mandar uma carta ao seu rei para realizarmos a união no final de três dias.

—Ei! —Olhei para trás quando senti um beliscão no meu braço e Trevis arqueou as sobrancelhas e arregalou os olhos. Fiz uma careta e balancei ela para os lados, não entendendo nada. Trevis revirou os olhos e fez um sinal com a cabeça para a ponte que atravessava o rio no meio da rua em que estávamos. —O que?

Olhei para ela e vi que um pequeno navio mercante estava vindo pelo rio e passaria embaixo da ponte. Olhei para Cedric e ele arqueou uma das sobrancelhas.

—Então. —Ele olhou para os dois guardas que os seguravam. —Vocês sabem nadar?

—Que? —Um deles fez uma careta e olhou para o outro confuso.

—Vou entender isso como um não. —Cedric afirmou e no segundo seguinte puxou os braços com tudo e deu um soco em um dos guardas. Arregalei os olhos com a confusão que iniciou e dei um puxou nos meus braços, pegando a mochila por uma alça só e tacando nos guardas. Trevis agarrou meu braço e nós saímos correndo, empurrando guardas e pessoas que tinham pela frente.

—LYRA! —Olhei para trás e vi Devlon correndo no meio das pessoas tentando nos alcançar.

—A safira! —Exclamei e Cedric agarrou minha cintura, como se soubesse que eu estava prestes a voltar.

—Que se dane a safira. Corre! —Olhei para frente vendo que estávamos quase na ponte e o barco já estava passando por baixo dela. —Sabe nadar?

—Claro que não! Nunca sai de dentro daquela biblioteca. —Resmunguei e antes que pudesse pensar em qualquer coisa, Cedric já tinha agarrado eu e Trevis e pulado da ponte. Soltei um grito, que se misturou com o grito dos dois e meu corpo se chocou contra algo macio. Ergui a cabeça e vi que havíamos caído em uma caixa de tecidos, no barco.

—GUARDAS! —Ergui a cabeça para a ponte, vendo ela ficar para trás, onde Devlon e as suas altezas encaravam tudo surpresos. O príncipe parecia vermelho de raiva, olhando para Devlon e falando alguma coisa.

Em um movimento rápido, a princesa agarrou a safira da mão do príncipe e saiu e disparada para o outro lado da ponte. Pisquei, quase como se não acreditasse o que estava acontecendo, ela passou a ponte, com a saia do vestido enroscando nas pernas enquanto corria. Os guardas ficaram paralisados, sem saber se deveriam ir atrás dela ou não. Mas quando eles fizeram isso, ela já estava correndo na lateral do rio na nossa direção.

—Merda, ela vai pular! —Cedric correu para a ponta do barco e nós fomos atrás, no segundo seguinte a princesa ergueu a saia do vestido e pulou em direção ao navio. —Segurem ela!

Ela caiu na beirada do barco, se chocando contra o casco. Eu e Cedric agarramos as mãos dela antes que a mesma afundasse de vez na água.

—Puxa! —Exclamei e fiz força, vendo Trevis vir do meu lado e me ajudar a puxa-la para dentro do barco. Nós quatro caímos no chão do barco, sentindo a saia do vestido dela molhar o chão embaixo de nós.

—Que ótimo, agora estamos molhados. —Cedric resmungou e eu me virei para a princesa, que soltou uma risada e enfiou a safira na minha mão.

—Isso foi divertido. —Comentou e eu fechei os olhos e suspirei.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora