Capítulo 66: Segunda Chance.

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Kayla

Axel foi levado para um dos quartos. Alissa cuidou do ferimento e deu mais poção de cura a ele, mesmo que ele não conseguisse engolir metade do líquido, já que não havia acordado ainda. Eu estava escorada na janela do quarto, observando Gregory no pomar atrás da casa, colhendo maçãs e laranjas com certa concentração.

—Ele vai ficar bem, Kay. Deveria se sentar e relaxar. —Kenji propôs. Me virei, vendo ele sentado na ponta da cama, olhando para Axel. —Talvez dormir.

—Não estou com sono. —Falei, tentando não soar grossa. Eu estava muito bem acordada é bem disposta. Praticamente em alerta, como se soubesse que os problemas estavam só começando. —Pode ir dormir se quiser. Eu fico de olho nele. Apesar de achar que ele não pode ir muito longe nesse estado.

Kenji soltou uma risada baixa, mas cansada. Ele se levantou, passando as mãos nos cabelos castanhos rebeles. Observei seus ombros curvados, mostrando o quão preocupado com Axel ele estava. Eu também estava preocupada. Axel havia empurrado Kenji para longe da janela. Tinha levado a flecha envenenada no lugar do amigo.

—Eu só preciso de alguns minutos de sono. —Afirmou, andando até a porta. —Pode me acordar daqui uma hora?

Assenti, mesmo sabendo que provavelmente não o acordaria tão cedo. Kenji estava com cara de quem precisava de mais do que 8 horas normais de sono. Kenji saiu do quarto, fechando a porta e me deixando sozinha ali, com Axel. Continuei na janela, olhando para Axel, sem saber ao certo o que fazer. Caminhei a passos lentos até uma pequena poltrona no canto do quarto e me sentei. Seria um longo dia.

[...]

—Hadtgeshisj! —Despertei, ouvindo Axel murmurar algo indecifrável e olhei para a cama, franzindo a testa ao ver que ele estava erguendo a mão e tampando os olhos.

—Axel? —Me levantei, indo até ele no mesmo instante. —Você está bem?

—To com cede. —Resmungou, passando a língua nos lábios, sem tirar a mão dos olhos.

—Vou pegar água pra você. —Falei, ainda confusa com a hora. Ainda estava claro do lado de fora. Mas o sol já havia sumido e dado lugar a nuvens escuras de chuva.

—Fecha as cortinas primeiro. —Pediu, franzindo a testa e tirando a mão dos olhos, virando o rosto para longe da janela. —Esta muito claro aqui.

Fui até a janela, puxando as cortinas cor creme e tampando toda a claridade. Depois acendi uma vela que estava em cima de uma escrivaninha, deixando alguma luz para que eu pudesse pegar a água. Quando voltei para a cama, com o copo de água, Axel estava sentado na mesma, com o rosto curvado em uma careta.

—Esta se sentindo bem? —Perguntei, entregando o copo de água pra ele, vendo ele olhar pro mesmo com cara feia.

—Estou sentindo vontade de matar alguém. De preferência a pessoa que me acertou com a flecha. —Resmungou, virando o copo de água de uma vez só na boca. Fiz uma careta quando um pouco dela molhou a lateral da boca dele e caiu sobre a camiseta.

—Você perdeu a capacidade de beber um copo de água? —Indaguei, levando os dedos para tentar limpar a água que tinha no queixo dele. Isso fez a atenção de Axel voltar pra mim. Ele me avaliou, atentamente, até eu me arrepender e tirar a mão do queixo dele.

—Na verdade, não. Mas se quiser tirar a prova, meus lábios estão a seu dispor. —Propôs, com a maior cara de pau do mundo.

—Bom saber que você está melhor. —Declarei, tirando o copo da mão dele e levando até a escrivaninha de novo, onde a jarra com água estava.

—Ficou preocupada comigo, Kay? —Indagou, claramente curioso. Me virei para a poltrona, ignorando a pergunta dele. Mas antes que eu me sentasse, ele falou de novo; —Senta aqui.

—O que? —Me virei pra ele, confusa. Axel mostrou o lado da cama vago.

—Senta aqui do meu lado. —Fiquei parada, olhando pra ele. —Vem logo, Kayla. Já dormimos juntos a última noite. Aliás, quase fizemos muito mais do que dormir.

—Não precisa lembrar. —Grunhi, sentindo minhas bochechas pegando fogo. Ele abriu um sorriso com o canto dos lábios.

—-Tudo bem. Vou tentar de outro jeito, está bem? —Murmurou, passando a manga da camisa no queixo ainda molhado. —Kay, pode vir aqui sentar do meu lado, por favor? —Continuei parada. —Preciso de você... do meu lado.

—Caramba, isso foi quase uma declaração de amor. —Zombei, e ele riu, revirando os olhos com diversão.

—Pois é, e você acabou de estragar o clima romântico que eu tava tentando criar. —Debochou, e então bateu com a mão do lado da cama. —Vem logo aqui, mendiga!

Ah, agora sim eu vou. —Declarei, vendo ele abrir um sorriso fraco. —O verdadeiro Axel está de volta.

Me sentei ao lado dele, enquanto Axel se ajeitava pra deitar. Ele parecia cansado e ainda estava mais pálido que o normal. Ele ajeitou a coberta ao redor de si, e abaixou a cabeça, se aproximando de mim até deitar com a mesma no meu colo, enquanto uma de suas mãos circulava minha cintura.

—Axel? —Chamei, não sabendo ao certo o que fazer. Ele soltou um "Hmm?" e se aconchegou mais com a cabeça no meu colo.

—Eu não tava brincando quando disse que precisava de você. —Sussurrou, como se aquilo fosse resposta pra tudo. Então fechou os olhos e apagou no mesmo instante, cansado demais para sequer ouvir uma resposta minha.

Observei a respiração dele lenta e calma. Antes que eu tivesse a chance de pensar, minha mão já estava segurando a dele, que estava solta em cima da coberta. Enquanto a outra foi até os finos e macios cabelos negros, como asas de corvos.

Talvez eu também precisasse dele. Como eu precisava de Victor e Marvin. Como uma segunda chance, com ele e Kenji. Talvez eu não precisasse mais ficar sozinha, como fiquei nos últimos quatro anos. Talvez eu ainda pudesse ter alguém que chorasse por mim, quando eu morrer.

Só que esse era o grande problema. Tudo era um grande e imenso talvez.


Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora