Capítulo 77: Final Feliz.

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Atualmente...

Kayla

Empurrei Axel para longe de mim, quando senti o chão firme nos meus pés. Olhei ao redor, vendo que estávamos em algum galpão abandonado, já que não havia nada lá.

—Porque me trouxe aqui? —Indaguei, encarando ele com raiva. —Me leve de volta!

—Não! —Ele negou com a cabeça, passando as mãos no cabelo. —Depois do que passamos, acho que tenho direito de conversar com você a sós.

—Você perdeu qualquer direito quando mentiu pra mim! —Exclamei. —Você sabia o que eu era e não me contou. E ainda por cima trabalha pra Rainhas das Rainhas.

—Eu não menti pra você. Você nem se importava com as safiras, Kayla. Não se importava com quem conseguisse pegar elas. —Argumentou, enquanto eu começava a andar de um lado para o outro, passando as mãos no cabelo. —Você deixou isso claro desde o início.

—E aí por isso você acha que eu não tinha direito de saber a verdade? —Parei na frente dele, vendo seus olhos confusos. Aquelas estrelas lá já não me pareciam tão encantadoras. —Eu tinha o direito de saber, me importando ou não com as safiras. Eu tinha direito de saber!

—Me desculpa. —Pediu, me fazendo dar um passo para trás, incrédula.

—É só isso que você tem a dizer? Me desculpa? —Ele fechou os olhos, quando viu minha a decepção estampada no meu rosto. —Eu não quero suas desculpas. Eu achei que podia confiar em você. Mas você mentiu e me escondeu as coisas desde o início.

—Você pode confiar em mim. Acredite, eu não queria usá-la. Mas... você não entende. —Agora quem parecia decepcionado era ele. —Não estávamos no reino quando a barreira foi criada. Fomos aprisionados do lado de fora. Nunca conseguimos voltar pra lá. E era a nossa casa, Kayla. Independente do que os outros reis pensem, era a nossa casa. —Afirmou, se afastando de mim. —Kenji não vê a mãe a séculos. Você não entende o que é isso.

—Tem razão, eu não entendo. —Soltei uma risada fraca. —Minha mãe não me amava. Meu pai morreu. Meus irmãos morreram e meu padrasto... —Dei de ombros. —Eu não entendo nada sobre família. Nem mesmo sobre a sua, pelo visto.

—Você nunca me perguntou sobre meus pais. —Rebateu, tentando se defender.

—E você teria contado que Devlon era seu pai se eu perguntasse? —Indaguei, vendo ele ficar em silêncio. —É, imaginei que não. Que grande família vocês. Kenji filho da Rainha das Rainhas e você filho do Devlon. Bem, vocês são iguaizinhos.

—Não me compare com ele! —Sibilou.

—Ah, perdão, esqueci que vocês dois não se dão bem. Parece que não sou a única com problemas familiares aqui. —Soltei outra risada, mais alta. —Merda, eu nem sei mais quem eu sou.

—Kay... —Ele se aproximou de mim e eu me afastei, balançando a cabeça negativamente. —Que importância tudo isso tem?

—Ela vai matar todos os reis quando vocês quebrarem a barreira. —Afirmei e ele deu de ombros.

—Eles merecem isso. Merecem muito mais. Eles a condenaram sem nem dar a chance de ela se explicar. Dar a eternidade ao seu povo não deveria ser crime. Acha que eles merecem mesmo um final feliz depois de tudo? —Indagou, dando passos na minha direção de novo. Andei pra trás até bater contra uma parede. —Você nunca se importou com isso, Kay. Porque justo agora precisa mudar de ideia?

—Porque foi antes de eu saber o quão sujo todos vocês eram. —Afirmei, vendo a expressão cautelosa dele se transformar em uma máscara fria. —Vocês teriam me usado se pudessem.

—Não tirei você de lá por isso.

—E me tirou de lá porque? —Questionei, vendo ele parar bem na minha frente, com aquelas sombras se expandindo cada vez mais ao redor de nós.

—Porque eu quis. Porque eu desejei tirar você de lá assim que a vi na Floresta do Medo. Não tenho uma explicação boa o suficiente pra você, Kayla. —Ergui o queixo para encarar os olhos dele. —Eu só desejei você e ponto.

—Você desejou o que eu sou. —Afirmei, com a voz quase falhando. —Uma conjuradora.

—Uma conjuradora que nem sabe o que fazer com a magia que carrega dentro de si? —Zombou, soltando uma risada. —Você não fazia ideia do que era capaz, Kayla. Ainda não faz. Realmente acha que eu fui atrás de você por isso? Ah, não, melhor, acha que eu dormi com você por causa do que você é também?

Fiquei em silêncio. Axel riu de novo, vendo que agora era eu quem não sabia o que dizer. Ele pressionou o corpo contra o meu, me beijando de uma maneira urgente e nada cuidadosa. Ofeguei contra os braços firmes que envolveram minha cintura, contra o desespero que ele estava me beijando.

—Pare! —Pedi, afastando meu rosto dele. Fiquei com a cabeça baixa, não conseguindo olhar nos olhos dele, enquanto ele ainda me segurava.

—Você não deveria se importar com eles. Sabe muito bem que se pudessem, eles iriam atrás do mesmo poder que a Rainha das Rainhas tem.

—Magia das trevas. —Falei, sentindo os dedos de Axel no meu queixo, me obrigando a olhar pra ele.

—Você tem noção do quanto é poderosa? —Os lábios dele roçaram nos meus, suavemente. —É mais poderosa que os reis. Mais poderosa que a Rainha das Rainhas.

Tentei desviar os olhos, não conseguindo parar de encarar aquelas estrelas. A proximidade estava me fazendo ficar sem ar.

—Todos nós somos sujos, amor. Ninguém aqui é limpo. Nem mesmo você. —Ele roçou o nariz no meu, enquanto eu sentia a carícia das sombras no meu pescoço. —E você, mais do que ninguém, tem motivos o suficiente para odiar todos eles.

Os dedos de Axel apertaram meu queixo, enquanto me obrigava a erguer meu rosto mais ainda, em direção ao dele.

—E quer saber, Kay? Você não nasceu pra ser a mocinha da história. —Os olhos dele pareceram ganhar um brilho perverso e intenso. —Você nasceu para ser a vilã. Para destruir todos eles... Assim como eles destruíram você.

—Axel... —Ele sorriu, os lábios prontos para me beijarem de novo.

—Venha comigo, Kay. —Pediu, com uma voz baixa, que me causava um arrepio. —Venha comigo.

Encarei ele, com meu coração explodindo no peito. Cada partícula do meu corpo parecia vibrar em contato com Axel, como se fôssemos feitos um para o outro. Mas apesar de tudo, quando falei, minha voz saiu firme.

—Não! —Axel se afastou, parecendo ter levado um soco no estômago. Seus olhos estavam arregalados, surpresos. —Eu vim até aqui porque queria sair dar ruas. —Meu peito doeu, mas continuei. —Quero o pagamento pelas duas safiras que consegui. Pelas três, na verdade. A de ar só está aqui porque eles vieram atrás de mim. Então mereço se paga por ela também.

Ele não disse nada, apenas me encarou como se não acreditasse que eu estava fazendo aquilo. A expressão dele mostrou decepção, até se tornar séria e por último, vazia. Axel enfiou a mão dentro da jaqueta, puxando um saquinho de moedas e estendendo pra mim, sem se dar ao trabalho de contar. Peguei o mesmo, vendo as sombras analisarem meus movimentos.

—Adeus, Axel. —Falei, passando por ele e caminhando até a saída daquele galpão.

—Adeus, Kayla. —Ouvi a voz dele, quase inexistente e então corri.




Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora