Uma Conjuração de Magia / Vol. 1

Capítulo 89: Espelho.

Kayla

Encarei o vestido branco, com meus olhos pesados e minha mente sonolenta. Eu não sabia se meu estado era por não estar comendo nada do que eles me davam, pelas noites mal dormidas ou a soma das duas coisas.

Passei os dedos pelo tecido branco. O vestido era liso, nada de camadas ou alguma coisa extravagante. Era liso e acinturado. Mas pelo menos a cor branca ainda era mais aceitável que rosa, que era o que eles sempre me davam para vestir.

—O que achou, vossa majestade? —A mulher se virou para a rainha, que estava sentada em uma poltrona na minha frente, observando tudo com uma expressão indiferente.

—Está... aceitável. —Ela gesticulou com a mão para tudo que eu era. —Sem véu. Só um buquê de flores simples pra acompanhar.

—Pensei que a senhora iria desejar algo mais pomposo. —A mulher afirmou, recebendo um olhar afiado da rainha.

—Não lembro de ter pedido a sua opinião. —Declarou, se colocando de pé e caminhando para perto de onde eu estava, subida em um banquinho. —Eu pago você para fazer os vestidos e não para pensar.

—É claro, senhora. —A mulher abaixou a cabeça para o chão e encolheu os ombros. Encarei a rainha, vendo os olhos dela se focarem nos meus, antes de deslizarem pelo vestido em mim.

—Pela sua cara, não vai durar muito tempo. —Ela abriu um sorriso. —Parece uma morta viva se tão pálida. Quero que deem um jeito de deixá-la o mais corada possível. —Afirmou, voltando a olhar pro meu rosto. —Vê se não morre até ter um filho. É só pra isso que está aqui.

Pisquei, com o restante do meu corpo completamente imóvel. Eu não tinha mais capacidade de falar. De retrucar ou xingar qualquer um deles.

—Não vai dizer nada? —Indagou, passando a língua nos lábios, antes de abrir um sorriso. —Fraca!

Ela me olhou de cima a baixo e então se virou, caminhando com os saltos fazendo um eco pela sala. Engoli o nó que se formou na minha garganta. O ar estava quente ao meu redor. Meu cabelo preso fazia minha nuca formigar. Olhei para a mulher que me observava, como se eu fosse algum tipo de criatura exótica.

—Faz bem em não falar. É mais fácil sobreviver aqui quando não fala e não ouve nada. —Afirmou, tirando os últimos alfinetes do vestido.

O casamento era hoje. Daqui a algumas horas. A noite ainda estava reinando do lado de fora. Mas quando o sol aparecesse no horizonte, eu deveria ir até a igreja do castelo e me casar com o príncipe. O pensamento já não era desagradável. Não era mais nada. Porque eu não sentia nada. Nem mesmo meu coração batendo.

Desci do banquinho, chamando a atenção da mulher. Segurei a saia do vestido e caminhei em direção a porta, ignorando a voz dela me chamando. Eu não queria mais ficar ali. Passei pela porta chamando a atenção dos guardas. Antes que qualquer um deles perguntasse algo, fui eu mesma em direção ao quarto, sabendo que era pra onde eles me arrastariam. Subi as escadas, tropeçando nos meus próprios pés, com o vestido branco parecendo pesar toneladas.

Entrei no mesmo, batendo a porta atrás de mim, para um segundo depois ouvir o som da tranca sendo passada. Suspirei, encarando o quarto, sentindo um buraco se formar dentro de mim. Caminhei até o grandes espelho na parede, olhando para o meu reflexo. Meu resto estava pálido demais. Meus lábios brancos e meus olhos avermelhados. E o vestido branco me deixava com uma aparência terrível. Apertei mais ainda o tecido da saia do vestido, desejando rasgar ele em pedaços.

Ergui meus olhos, observando as sombras que surgiam no quarto. Molhei meus lábios. Sentindo pela primeira vez em dias meu coração bater mais acelerado. Meu peito se aqueceu e meu sangue começou a correr com mais força ainda pelo meu corpo. Puxei o ar com força, observando mais e mais daquelas sombras aparecerem, pelo reflexo do espelho.

Elas se aproximaram de mim, rodeando o vestido branco, tocando meus braços nus e fazendo todos os meus pelos se arrepiarem. Desci os olhos pra elas, com as lágrimas que eu evitei soltar agora molhando minhas bochechas.

Ergui os olhos, encontrando em meio a norte e as sombras, Axel. Os olhos negros dele pareciam parte da escuridão, com aquelas belas estrelas me chamando. Soltei o ar, desejando que aquilo não fosse só uma alucinação da minha cabeça. Ele se aproximou, deixando o corpo a centímetros do meu. Sua mão deslizou pela minha cintura e eu fechei os olhos, relaxando todos os meus músculos ao sentir o toque dele.

—Imagine a minha surpresa ao voltar para o continente atrás da minha garota e descobrir que ela vai se casar com um príncipe. —A voz dele soou baixa, me fazendo sentir um arrepio pela espinha. —Francamente, Kay, você está ridícula com essa coisa. —Ele abriu um sorriso zombeteiro, descendo os olhos pelo vestido de noiva, antes de aproximar a boca do meu ouvido. —Sua versão mendiga é muito mais atraente, sabia?

Ele me puxou, me fazendo girar o corpo e olhar pra ele. Senti cada parte de mim gritar por ele. Axel abriu um sorriso, levando a mão até o meu cabelo preso e o soltando, fazendo ele cair todo pelos meus ombros. Ergui mais o queixo quando ele tocou a ponta dele com os dedos.

—Vo... você... você voltou por mim? —Consegui dizer, com a minha voz quase irreconhecível.

—É claro. Você ficou chateada e eu entendo perfeitamente. —Ele tocou meu nariz com o dele. —Sabia que precisaria de tempo. Ou achou mesmo que eu a deixaria se casar com outro?

—Ele quase surtou quando soube, princesa. —A voz de Kenji soou pelo quarto, me fazendo olhar em direção a cama, vendo ele deitado ali com os braços cruzados atrás da cabeça e um sorriso divertido no rosto. —Sentiu saudades, Kay?

Olhei pra ele, com algo vibrando cada vez mais em mim. Um sorriso se abriu nos meus lábios, me fazendo olhar de novo para Axel.

—Então... —Axel apertou meu queixo e ergueu meu rosto em direção ao dele, me fazendo encarar aqueles belos olhos. —O que quer fazer, amor?

Continua...
......
Uma pergunta, faltam 5 capítulos + epílogo. Vocês preferem que eu vá escrevendo e postando, ou querem que eu escreva tudo e faça uma maratona pra vocês não ficarem esperando?