Capítulo 34: Cicatrizes.

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—Não, espera. Eu tenho que dividir um quarto com ele? —A bruxa me encarou como se eu tivesse algum problema mental. Ela empurrou mais a chave e eu a segurei, sem ter outra opção.

—Quarto 8, no corredor a esquerda. Vou buscar roupas secas e levo pra vocês. —Ela se retirou, entrando em um dos corredores da estalagem. Axel puxou a chave das minhas mãos e subiu as escadas sem olhar na minha cara.

Balancei a cabeça negativamente e o segui em silêncio, sabendo que iria matá-lo a qualquer segundo dentro daquele quarto. Abri a porta e fiquei surpresa ao ver apenas uma única cama, pequena demais. Axel parou ao meu lado e abriu um sorriso sarcástico.

-Eu não vou dormir no chão. -Avisou com antecedência e entrou no quarto, se jogando sobre a cama, sem se importar com as roupas molhadas.

-Onde está o seu cavalheirismo? -Questionei, fechando a porta com força.

-Morreu junto com a sua educação. -Debochou e eu revirei os olhos.

-Ridículo. -Afirmei.

-Talvez se você não tivesse me esfaqueado e me dado duas joelhadas, eu deixaria você ficar com a cama só pra você. -Ele sorriu mais ainda. -Mas só talvez.

Cruzei os braços na frente do corpo e respirei fundo. Nem morta eu dividiria uma cama com ele. Seria uma longa e estressante noite. A porta se abriu atrás de mim depois de duas batidas e a bruxa estendeu as mudas de roupa e duas tolhas.

—A dois banheiros aqui nesse corredor. —Ela mostrou onde ficavam. —Meu nome é Alissa. Qualquer coisa podem me chamar. A qualquer horário.

—Muito obrigada. —Falei e ela enfiou a mão no bolso da jaqueta, puxando um frasco com um líquido incolor.

—É para o machucado. Pode me pagar depois, junto com a despesa do quarto. —Assenti e agradeci de novo, vendo ela ir embora pelo corredor. Fechei a porta e encarei o frasco na minha mão.

—Precisa de ajuda com isso? —Axel questionou, puxando as roupas que eram pra ele das minhas mãos.

—Acha que é seguro? —Balancei o frasco e Axel fez uma careta, balançando a cabeça afirmativamente.

—Ela sabe o que eu sou, Kayla. Não teria coragem de fazer nada contra você. —Axel apontou para o quarto com a cabeça. —Vou me trocar no banheiro e você pode se ajeitar aqui. Já volto.

Axel fechou a porta e me deixou sozinha. Olhei para o quarto, vendo que era simples e confortável para uma única noite. Havia uma cama, um pequeno armário e um espelho na parede. Deixei as roupas em cima da cama e comecei a tirar as que eu usava, vendo que estavam completamente molhadas. Tomei cuidado com o meu braço, e quando terminei me enrolei na toalha.

Me sentei na cama e abri o frasco, mordendo a língua para o que viria a seguir. Virei o mesmo e o líquido caiu sobre o ferimento, me fazendo fechar os olhos com a forte ardência no local. Havia duas porções feitas por bruxas que podiam ser utilizadas para cura. A primeira era essa, que ardia e queimava. A outra, muito melhor, era feita para se beber. Tinha um gosto horrível, mas era muito melhor do que sentir seu braço queimando.

—Droga! —Resmunguei, limpando as lágrimas que caíram dos meus olhos. Terminei de me secar e comecei a me vestir. Tirei a toalha e coloquei o sutiã, olhando para minha magreza no espelho. Eu havia ficado pouco tempo na biblioteca, mas consegui ganhar alguns poucos quilos que fossem.

—Alissa me entregou uns sanduíches... —Axel abriu a porta sem se preocupar em bater. Arregalei os olhos e coloquei a camiseta na frente, tentando esconder meu corpo coberto só pelo sutiã em cima. 

—Axel! —Falei, vendo ele ficar paralisado olhando pra mim. —Você não sabe bater? Sai daqui!

Ele ficou parado sem dizer nada, vendo meu estado. Seus olhos me analisaram sem qualquer emoção, enquanto eu sentia meu peito subir e descer com força. Então seus olhos deixaram meu corpo e foram para o espelho atrás de mim. Meu sangue gelou ao ver as sobrancelhas dele se curvarem em confusão e choque.

Olhei por cima do meu ombro, vendo que o espelho atrás de mim mostrava todas as marcas e cicatrizes nas minhas costas. Meu rosto esquentou e eu fui tomada por uma onda de vergonha.

—Quem fez isso com você? —Olhei para Axel, vendo ele me encarar com uma expressão que eu não sabia definir o que era.

—Sai daqui! —Falei, indo pra cima dele e o empurrando para fora do quarto. —Vai embora!

—Kayla, espera! —Tentei fechar a porta, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas e meu rosto queimar de vergonha.

—Sai daqui, Axel. Me deixa em paz! —Exclamei, tentando empurrar ele para fora do quarto e conseguir fechar a porta. —Sai, Axel!

—Não... Espera, Kayla. —Ele enfiou o pé na porta, não me permitindo fechá-la por completo. —Kayla...

Ergui a cabeça e o encarei com meu rosto vermelho e molhado pelas lágrimas. Axel estava com o rosto mais pálido do que eu jamais tinha visto, como se estivesse olhando para uma assombração.

—Quem fez isso com você? —Ele repetiu a pergunta, com certa angústia e raiva na voz. Pela primeira vez eu vi preocupação cintilar nos seus olhos negros cheios de estrelas. —Por favor, Kay, me fala. Quem fez isso com você?




Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now