Capítulo 78: Capitão Pirata.

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A chuva começou a cair com força total na minha cabeça, como se fosse para me mostrar o quanto minha vida era uma merda total. Quando eu achava que poderia melhorar, acontecia alguma coisa que me mostrava que eu nunca vou ter paz. É como um tapa na cara, a cada momento que eu tento me levantar.

—Licença. —Parei ao lado de uma carroça, vendo o homem me lançar um olhar confuso. —Pra onde o senhor está indo?

—Cidade do Porto. —Afirmou. —Quer carona?

—Quero. Posso pagar se necessário. —Falei e ele assentiu, apontando para a parte de trás.

—Pode subir. Só preciso terminar de carregar. —Murmurou, entrando no depósito ao lado. Coloquei a touca da jaqueta na cabeça e subi na mesma, me sentando em cima de uma caixa.

—Kayla? —Suspirei, escondendo meu rosto entre as mãos, com os braços escorados nos joelhos. Podia ouvir a voz de Cedric ao longe, se aproximando. —Kayla? —Virei a cabeça, vendo eles descendo a rua, se aproximando praticamente correndo. —Pra onde está indo?

—Cidade do Porto. —Falei, engolindo com dificuldade. Vi o olhar dos quatro se demorar em mim. —Eu entendi a questão das safiras, está bem? Miriam sendo sei lá o que do mundo e toda essa coisa de conjuradores. —Soltei um suspiro e balancei a cabeça negativamente. —Mas eu não posso ajudar vocês. Não sei controlar as safiras e não tenho interesse nenhum nelas.

—Mas, Kayla... —Lyra começou, mas parou quando a princesa colocou a mão no braço dela. —Eles levaram todas as safiras. Vão libertar a Rainha das Rainhas. Não podemos permitir que isso aconteça.

—Se sua casa fosse aprisionada e você não pudesse voltar pra ela. Não faria qualquer coisa para conseguir voltar? —Indaguei, vendo os olhos dela confusos. —Kenji quer voltar pra casa. Assim como todos os que ficaram presos aqui.

—É, qualquer um faria qualquer coisa pra voltar pra casa. Mas isso não significa que devemos deixar que ela volte e mate todo mundo. —A princesa exclamou.

—Seu pai provavelmente faria a mesma coisa, sabe. —Dei de ombros.

—Você não se importa nem um pouco? —Olhei para Trevis, vendo ele me encarar confuso. —Nos atravessamos o mundo por causa de você. Fomos parar em outro reino. Quase fomos presos.

—Agradeço, Trevis. Mas mesmo que eu quisesse, não sei fazer aquela coisa que vocês falaram. Conjurar as safiras. —Afirmei, vendo os quatro trocarem olhares. —Não a nada que possamos fazer. Sinto muito.

—Pra onde está indo agora? —Cedric indagou e eu enfiei a mão no bolso, sentindo a bússola ali.

—Fiz uma amizade com um capitão pirata. Vou para o litoral atrás dele. —Falei, sabendo que era a última coisa que me restava.

—Bem, então vamos com você. —Cedric olhou para os outros três. —Quem sabe algum milagre não caia dos céus na nossa cabeça.

—Ou a gente morra de vez. —A princesa exclamou.

[...]

A chuva estava caindo com força total enquanto observávamos as ruas. Não foi nem um pouco difícil me despedir daquela cidade. Eu espera nunca mais precisar voltar nela. Mas eu já tinha desejado isso uma vez e não havia dado nem um pouco certo.

O ponto bom de estar sozinho é que você não precisa se preocupar com o que a outra pessoa quer. Você sabe o que quer, onde quer ficar e o que pode fazer. Com alguém, a sempre a questão a mais das outras opniões. Mas agora eu já não tinha mais isso. E sinceramente, não pretendia seguir as quatro pessoas sentadas junto comigo na carroça. Não estava nem um pouco interessada em ir atrás das safiras e tentar salvar o mundo. Se ela quiser matar todos eles depois de livre, que seja. Eles sempre esperaram o pior dela, agora podem conhecer esse lado.

—Ainda não acredito que estão aqui. —Falei, me encolhendo contra a chuva, olhando para os dois garotos que viviam nas ruas comigo. —Fiquei bem surpresa quando vi vocês na minha porta.

—Estávamos atrás de você. Queríamos avisar sobre tudo que estava acontecendo. Mas acabou que fomos parar em outro reino e... —Trevis deu de ombros. —Estamos aqui agora.

—Foi legal da parte de vocês fazer isso. Não achei que alguém um dia faria. —Suspirei, pensando nas duas pessoas que eu achava que tinha confiança, mas não tinha.

—Achamos que você ia precisar de ajuda. Mas parece que você conseguiu se virar muito bem sozinha. —Cedric comentou, encarando um ponto fixo no chão.

—Eu só tentei não ser presa e muito menos morta. —Dei de ombros. —Mas minha cara está exposta em todas as ruas de todos os quatro reinos. Quero voltar pro mar o mais rápido que conseguir. Não tô afim de ir parar em uma cela de novo.

—Como conheceu esse pirata? —Cedric questionou, parecendo muito interessado no assunto de repente.

—No começo de tudo isso, eu e o... portador, fomos parar em um navio de comerciantes. Mas eles acabaram nós vendendo pra esse capitão. —Encolhi os ombros, me sentindo cansada. —Acabamos ajudando ele em um ataque e... sei lá. Só viramos amigos. Ele disse que se eu quisesse, tinha um lugar na tripulação. Não pretendo voltar para as ruas.

—Cedric é filho de um pirata. —Trevis comentou.

—Serio? —Encarei Cedric.

—Trevis! —Lyra deu uma cotovelada nele. —Não pode contar a vida dele assim. Se ele quisesse, ele mesmo ia falar.

—Ta tudo bem. Não tem problema, Lyra. —Cedric abriu um sorriso fraco. —É sério. Descobri esses dias. Com a criatura que o guardião mantém presa. Ele me contou.

—E quem ele era? —Indaguei, subitamente me sentindo curiosa. Na verdade, eu só queria fugir de qualquer assunto que se relacionasse com Axel, Kenji ou as safiras.

—Ele não falou o nome. Só disse que era um pirata. E pelo que eu entendi, muito rico. Minha mãe era a filha de um comerciante. —Cedric soltou um suspiro. —Da Cidade do Porto.

—Estamos indo pra lá agora. —Falei, pensativa, tentando lembrar de todos os piratas que tinha ouvido Henry falar.

—Mas os dois estão morto. Então não acho que se eu sair procurando, vou encontrar algo. —Ele deu de ombros e afundou no lugar. —Mas é bom saber de onde eu vim, pelo menos.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora