Uma Conjuração de Magia / Vol. 1

Capítulo 10: Portador das Sombras.

Comecei a correr, batendo no carrinho que estava no caminho e tentando achar uma saída daquele lugar. Mas eu só encontrava mais corredores de livros por todos os lados.

Senti as sombras atrás de mim, como se me procurassem, me caçassem e me perguntei se ele havia trazido alguma Criatura das Sombras com ele.

—Me deixe em paz! —Gritei, vendo as sombras envolta de mim e meu corpo se arrepiou quando elas tocaram a pele exposta do meu braço.

Continuei correndo e virando em todos os corredores. Meu coração estava quase saindo pela boca. Ele estava ali. Ele havia saído da Floresta do Medo e estava aí atrás de mim. E o pior de tudo, era um Portador das Sombras.

—Eu vou morrer! —Constatei, passando as mãos no rosto e não braços, tentando afastar aquelas sombras de mim, sentindo elas rastejarem pelo meu corpo enquanto eu corria. —Pare!

Meu desespero era tão grande naquele momento, que eu tropecei nos degraus que davam para o corredor quando o encontrei. Cai no chão, com meus cotovelos amortecendo a queda.

—Kayla? —Olhei para cima, ofegante e assustada, vendo Devlon correr até mim. —O que aconteceu? Você está bem?

Meu sangue esquentou quando ele tocou meus braços e eu o empurrei para longe, sentindo meu peito contrair e meu estômago embrulhar com aquele contato.

—Não me toque! —Falei, rastejando para longe dele.

—Kayla, o que aconteceu? —Miriam questionou, só então notei que ela estava ali com Tina e uma outra fada mais jovem.

—Tem alguma coisa lá. —Apontei para a biblioteca em meio a escuridão e com todas as luzes apagadas. —Tinha alguma cosia lá.

—Que coisa? —Tina questionou e olhou para Devlon. Eu encarei o chão, abraçando meu corpo com os próprios braços, como se ainda sentisse o contato das sombras comigo. —Kayla?

—Eu vou chamar os guardas e averiguar. —Devlon olhou para mim com uma expressão confusa e então se afastou. Miriam se aproximou e eu ergui os olhos até ela.

—Lyra, acompanhe Kayla até o quarto dela por favor. Acho que uma água com açúcar pode acalma-la. —A fada que parecia ter a minha idade assentiu.

Me coloquei de pé e a segui em silêncio. Olhei uma última vez para a biblioteca e um choque atingiu minha espinha, como se eu soubesse que ele ainda estava lá me observando.

Virei de volta e segui a fada pelo corredor até as escadas. Ela também tinha olhos violetas como as outras. Mas sua pele era morena e os cabelos levemente ondulados e castanhos.

—Você assustou todos nós. —Comentou, virando o rosto para me observar e abriu um sorriso. —Meu nome é Lyra.

—Kayla. —Falei e voltei a olhar para o chão. —Vocês escutaram meus gritos?

—Sim. Só não entendemos o que você estava gritando. Mas corremos na mesma hora. —Explicou e eu assenti. —O que você viu lá? —Eu olhei para ela e a vi me encarando com as sobrancelhas erguidas. —Eu não sou fofoqueira, pode confiar em mim. Sei que viu algo lá e não quer contar.

—Você não vai querer saber o que era. —Afirmei e vi ela arregalar um pouco os olhos, escutando meu tom de voz totalmente baixo. Paramos na frente da porta do meu quarto e eu me virei pra ela. —Foi um prazer conhecer você. Não precisa me trazer a água nem nada. Só quero ficar sozinha.

—Tudo bem. Se precisar de mim, eu trabalho na cozinha. —Balancei a cabeça e lhe lancei um meio sorriso antes de entrar no quarto. Fechei a porta e me escorei nela, escorregando para o chão e me encolhendo.

Portadores são nada menos que seres capazes de controlar algum poder. Tanto os da natureza como terra, ar, fogo e água. Mas também haviam os poderes derivados deles. Fadas da Luz por exemplo, eram as portadoras da magia mais pura que existia. E a magia mais sombria vinha dos Portadores das Sombras.

Não existiam muitos por aí. Mas eles eram poderosos o suficiente para apenas um deles causar o caos. Eles podiam controlar toda a noite e as Criaturas das Sombras. E agora eu estava sendo caçada por um deles.

[...]

Eu não dormi aquela noite. Minha cabeça estava cheia com o que havia acontecido. Eu fiquei acordada e com a luz acesa o tempo todo, vendo o movimento da rua pela janela. Meu quarto era no quarto andar daquele lugar e não havia a mínima possibilidade de eu pular de lá.

Devlon não havia me procurado também. Eu não fazia ideia do que ele estava fazendo na biblioteca aquela hora da noite, e também me perguntava se ele imaginava o que era que eu tinha visto.

Me sentei na cama, olhando para meu reflexo no espelho. Meu corpo magro sobre o tecido do vestido, hoje azul. Meus cabelos estavam soldos e embaraçados envolta dos meus ombros. E haviam marcas escuras embaixo dos meus olhos, evidenciando minha noite mal dormida.

Eu já estava acostumada a não dormir decentemente. E mesmo com a cama macia, as vezes eu ainda sentia que estava me deitando naquelas madeiras podres do galpão. Eu estava ali a um dia. Só um dia e já sentia faltas das ruas e da liberdade.

Aquela pessoa no espelho não era eu. Era uma Kayla de quatro anos atrás. Que vestida vestidos de tom rosa a pedido da mãe. Que prendia o cabelo em tranças cheia de flores. Uma criança acostumada a não questionar, não falar e não ver nada.

Mas hoje eu vejo tudo. Eu ouço tudo. Eu sou uma ladra da rua. Não uma ajudando de bibliotecária. Me coloquei de pé e encarei a garota que eu deixei de ser a muito tempo. Não havia nada mais do que uma casca oca e vazia em mim.

Monstros podem atacar você durante a noite. Mas são os pesadelos que vão te atormentar pelo resto da sua vida.

Continua...
.....

Não escrevi cap dos outros livros hoje (pra quem os lê) pq estou fazendo aninhos hoje e fui aproveitar o dia kkkkkkkk. Vou postar cap desse livro pq já tenho vários prontos, mas amanhã eu atualizo os outros livros. <3