Capítulo 56: Cidade da Esperança.

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4 anos antes...
Reino Solar, Cidade da Esperança.

Havia uma chuva incessante no céu, caindo sem parar. Minha mãe apertava minha mão e me puxava para andar mais rápido embaixo do guarda-chuva. Olhei para trás uma última vez, vendo o cemitério sumindo aos poucos a medida que andávamos mais rápido.

—Mãe... —Chamei, sentindo meus olhos embaçados pelas lágrimas. Ela me olhou de cima, franzido a testa.

—Ande mais rápido. Ou quer ficar encharcada? —Resmungou e eu engoli o choro que estava entalado na minha garganta. Observei a rua vazia, e os campos e pomares no horizonte. A chuva aumentou mais ainda quando chegamos em casa.

A casa era branca, de dois andares. Com cercas brancas e cobertas de folhas trepadeiras. Haviam roseiras nos jardins, floridas pela primavera. Havia uma pequena calçada de pedra que dava para os degraus e então a porta de entrada.

Minha mãe fechou o guarda-chuva quando parou sobre a porta, puxando a chave para destranca-la. Soltei um soluço sem me conter e ela virou o rosto, cerrando os olhos para me encarar, como se eu estivesse fazendo algo errado.

—Pare de chorar. Que merda, Kayla! —Resmungou, abrindo a porta e me puxando para dentro. —Quer que Simon veja você chorando? Sabe que ele fica irritado quando você tem essas crises de choro.

Parei no meio da sala, vendo a lareira apagada. Os sofás e móveis chiques demais. Então ergui os olhos para minha mãe, cerrando os punhos.

—Crises de choro? —Ela fechou a porta e virou as costas. —Qual a merda do seu problema? Seu filho mais novo acabou de morrer e você simplesmente age como se não fosse absolutamente nada! —Gritei e ela parou de andar, arregalando os olhos quando se virou pra mim. —Era meu irmão! E eu vou chorar por ele o quanto eu quiser!

—Como ousa? —Ela puxou meu braço, fazendo meu rosto ficar próximo do dela. —Acha que não estou mal por isso?

—Tenho certeza que não está! —Afirmei. —Você não tem coração. Marvin morreu por causa daquele homem que você deixa entrar dentro dessa casa. E agora o Victor também se foi. Tudo por culpa dele e você não faz absolutamente nada!

—PARE! —Ela balançou meus braços, me fazendo fechar os olhos e gritar.

—Ele matou os dois e vai me matar também. E você vai deixar, mãe. Você vai deixar porque é uma burra, cega e péssima mãe...

Escutei o estalo da mão dela contra meu rosto e caí contra o chão, sentindo minha bochecha arder. O choro se entalou na minha garganta, ardendo e me fazendo sentir falta de ar pelo nariz trancado.

—Eu te odeio. —Sussurrei. —Odeio você e odeio aquele homem. Odeio todos vocês! —Ergui o rosto, ainda no chão, e encarei minha mãe, vendo ela me encarar completamente vermelha.

—Simon da tudo a você. Deu tudo a vocês três. Mas você é ingrata demais pra perceber isso! —Ela me puxou pelo braço, me fazendo sentir uma fisgada e gritar. —Você tem que aprender a ser mais agradecida. Simon é seu pai!

—Ele abusa de mim! —Exclamei, quando ela começou a me puxar escada a cima. —Ele abusa de mim!

Mas como sempre ela fingiu não ouvir. Quando chegamos ao corredor, ela me puxou e me jogou dentro do meu quarto. Cai contra o chão, sobre o tapete rosa. Todo o quarto era rosa. Uma cor que me dava enjoo no estômago.

—Pare de inventar coisas, Kayla! Além de ingrata está virando mentirosa! —Ergui os olhos até ela, vendo a mesma passar as mãos nos cabelos castanhos. —Você só sai desse quarto quando pensar melhor nas palavras. E não ouse criar um barraco, ou vai apanhar.

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now