Capítulo 75: Séculos de Vida.

2.4K 438 280
                                    

—Kayla, você está me ouvindo? —A voz de Lyra soou distante, já que eu estava com um zumbido nos ouvidos. Andei para trás, até bater contra a pequena mesa de madeira que havia ali. Minha mente parecia ter parado de funcionar. Ou só não estava processando direito aquilo.

—Estou. —Consegui dizer, erguendo os olhos para as quatro pessoas na minha frente. Uma Fada da Luz, uma princesa e dois garotos de ruas. E um punhado de informações jogadas em cima de mim com força total.

—Onde o portador está? —Trevis questionou, fazendo meu cérebro voltar a funcionar. Me virei para eles, vendo os quatro me encarando, expectantes. Mas antes que eu falasse algo, a porta se abriu, com Axel e Kenji passando por ela. Os dois pararam, oscilando os olhares entre eu e as quatro pessoas atrás de mim.

—O que tá rolando aqui? —Kenji foi o primeiro a falar, com um tom de voz nada contente. —Kayla?

Caminhei até parar na frente de Axel, com os olhos dele me encarando, como se soubessem o que estava acontecendo.

—Quantos anos você tem? —Questionei, com uma voz tão baixa que eu mal pude ouvir. Choque passou nos olhos de Axel quando ele ouviu a pergunta.

—O que?

—Quantos anos você tem? —Repeti, vendo que ele estava completamente sem reação.

—Porque está me perguntando isso agora? —Questionou, parecendo indiferente a pergunta e as pessoas que nos olhavam.

—É uma pergunta muito simples, não é? —Afirmei, vendo a expressão impassível no rosto dele. —Quantos anos você tem, Axel?

—Kayla, o que tá acontecendo? —Kenji fez menção de tocar no meu braço, o que eu me esquivei na mesma hora. —Kayla?

—Perdão, vossa alteza. Mas ainda não estou falando com você. —Declarei, observando o momento que o queixo dele literalmente caiu.

—Que merda vocês contaram pra ela? —Axel indagou, cerrando os punhos, com as sombras se esgueirando pelos ombros dele.

—A verdade. Já que pelo visto, vocês preferiram não contar nada a ela. —A voz de Cedric soou atrás de mim. Mas não me virei. Voltei a encarar Axel, esperando que ele falasse qualquer coisa. Mas ele não falou.

—Eu vou perguntar só mais uma vez. —Falei, com calma. —Quantos. Anos. Você. Tem? —Sibilei, pausadamente.

—Trezentos e setenta e seis. —Respondeu, com uma calma que me fez entrar em estado de choque. Andei para trás, me escorando na mesa, enquanto olhava pra ele. Axel tinha séculos de vida, mesmo que parecesse ter no máximo 21.

—Devlon não mentiu quando disse que vocês trabalhavam pra ela. Você trabalha pra Rainha das Rainhas, Axel. —Apontei para Kenji, com minha garganta ardendo e os olhos ficando embaçados. —E você é filho dela. Meu Deus, você é um príncipe!

—A gente pode explicar, Kay. —Kenji tentou se aproximar de mim de novo, enquanto Axel ainda continuava parado.

—Vocês sabiam? —Me virei para Kenji, já que ele era o único que parecia disposto a falar algo. —Sabia sobre os conjuradores? —Kenji abriu a boca, sem conseguir dizer nada. —Sobre mim?

Soltei uma risada incrédula, passando as mãos no cabelo e os segurando com força, quando na verdade eu queria era enforcar os dois portadores que estavam na minha frente. Ergui a cabeça, encarando Axel, vendo que ele estava completamente sério.

—Você não se aproveitou da lenda sobre o fantasma na Floresta do Medo. Você a criou. Você estava lá esse tempo todo! —Afirmei, sentindo minha garganta se fechando. —Por que? Por que, Axel?

Ele não respondeu. Balancei a cabeça negativamente, sentindo cada parte de mim odiar as safiras e tudo que elas eram. Porque tudo era culpa delas.

—Caramba, acho que nunca vi uma cena tão divertida antes. —Olhei para a porta, vendo Devlon escorado nela, com um sorriso divertido nos lábios. —Não é todo dia que alguém consegue deixar meu filho sem falar.

Olhei para Axel, meus lábios se abrindo em puro choque. Olhei de Devlon para Axel, tentando entender o que estava acontecendo na minha frente.

—Ah, ele não contou isso também? —Devlon soltou uma risada e entrou na sala. —É de se esperar. Não nos damos muito bem, sabe. Ele meio que passou a me odiar depois que a mãe dele morreu. —Devlon deu de ombros. —Mas o que eu posso fazer? Coisas ruins sempre acontecem.

Olhei para Axel de novo, quando Devlon parou ao lado dele com um sorriso no rosto. Ele estava com as mãos fechadas e parecia estar se segurando para não matá-lo.

—Para a felicidade dele, não puxou absolutamente nada de mim. Bem, mas não é sobre isso que viemos falar, não é mesmo? —Ele deu a volta, puxando uma cadeira para se sentar, enquanto nos o encarrávamos. —A história começou quando nossa inigualável rainha foi aprisionada junto com seu próprio reino. Injustamente, devo ressaltar. Uma barreira mágica impossível de se quebrar. Precisávamos de algo poderoso pra isso. Então veio as safiras. —Devlon cruzou as pernas, relaxado. —Sabíamos que elas eram poderosas o suficiente para quebrar a barreira. Só que não sabíamos como achá-las, já que estavam escondidas pelo mundo. Foi aí que Astrid entrou. —Devlon olhou pra mim. —Você conheceu a Astrid, não conheceu?

Fiquei em silêncio e ele sorriu de novo. Olhei para Axel, vendo que agora ele encarava o chão.

—Pedimos para que ela usa-se a relíquia das dimensões que possui, o Livro das Revelações, pra descobrir como podíamos encontrar as safiras. Então ela nos disse que os Guardiões poderiam senti-las e achá-las no momento que desejassem. —Continuou. —Ela nos disse onde cada um deles estava. Mas além disso, deu uma informação muito valiosa. A linhagem dos conjuradores estava morta, mas não por completo. Ainda exista no mundo pessoas que descendiam deles, mas que não tinham o sangue mágico dos conjuradores. Só que no futuro, isso iria mudar.

—Então eu entro na história, não é? —Falei, completamente sem emoção. —Eu nasci com o sangue deles.

—Seu pai era descente dos conjuradores. Mas a magia só veio renascer em você. É claro, você não tem nenhum poder dos 4 elementos. Eles perderam isso quando criaram as safiras. Mas você pode conjura-las de onde quiser. —Devlon deu de ombros. —Ficamos espalhados no mundo à espera de você. Sabíamos seu nome.

—Vocês queriam me usar. —Falei, vendo Devlon dar de ombros.

—Não! —Olhei pra Axel, quando ele finalmente falou. —Nos não queríamos usá-la. Queríamos apenas encontrar as safiras. Mas você ainda era jovem demais e as safiras acabaram aparecendo por conta própria quando o Rei Solar encontrou a primeira. —Ele olhou para Kenji. —Iríamos embora atrás das outras. Mas você acabou roubando uma delas e... apareceu na Floresta do Medo onde eu estava.

—Se não queria me usar, por que me tirou de lá? —Indaguei, parando na frente dele. Axel me encarou, sem dizer nada. —Por que, Axel?

As sombras se expandiram ao redor dele e antes que eu tivesse tempo de fazer algo, ele já tinha me puxado junto e atravessado comigo pra outro lugar.





Continua...
.....
Uma curiosidade, as relíquias dimensionais já foram citadas duas vezes nesse livro, se não me engano. As safiras são uma das relíquias e o livro das revelações também, como já foi dito. Mas existem outras relíquias, que inclusive já apareceram no livro da Zaia e da Holly. E essas relíquias vão ser super importantes no segundo livro.
Leitores da Zaia e da Holly, algum palpite de quais são os tesouros?

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora