Capítulo 33: Estalagem.

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Kayla

Meus dedos afundaram no tecido da camisa de Axel, enquanto eu sentia ele empurrar seu corpo contra o meu cada vez mais. Seus lábios estavam grudados nos meus e exploravam minha boca com uma intensidade que me causava arrepios. Todos os pelos do meu corpo se eriçaram a medida que eu sentia os lábios quentes dele se movimentarem e sua língua pedir passagem pra minha boca.

Axel se afastou um segundo, ofegante, sugando o ar com força e então aproximando o rosto do meu pronto para me beijar de novo. Arregalei os olhos e sem pensar muito ergui meu joelho e bati nele com força.

—KAYLA! —Axel se afastou e caiu de joelhos, grunhido de dor e levando as mãos até o meio das penas. —Porque você fez isso, merda?

—Você me beijou, seu idiota! —Afirmei, dizendo o óbvio e ele me encarou com raiva.

—E você retribuiu! —Falou exasperado, esfregando as mãos no meio das pernas. —Merda, Kayla, meu pau ainda estava dolorido da outra joelhada. Você é completamente maluca.

—Eu não retribui! Eu nem tive tempo de pensar e você já grudou a boca na minha! —Esclareci e ele estalou a língua, se colocando de pé. —Qual o seu problema?

—Meu problema é você! Uma mendiga doida que tem mania de me esfaquear e dar joelhadas em mim. —Axel exclamou, me encarando com puro ódio. —E ainda acha que me engana com essa conversa fiada.

—Que conversa fiada? —Questionei, vendo ele se virar para sair da cabine, me ignorando.

—Fingir que não queria me beijar. Mentir é feio, Kayla. —Axel afirmou, abrindo a porta e me encarando. —Sente a bunda nesse banco e espere eu voltar. Vou tentar resolver toda essa merda.

Ele fechou a porta com força e eu me remexi irritada. Eu queria enfocar ele com minhas próprias mãos. Agora eu sentia meus lábios formigando e meu coração completamente acelerado.

—Maldição de vida! —Resmunguei, me sentando no banco com certa violência.

[...]

Segurei o corrimão do deck no final do trem e olhei para Axel, vendo ele encarar o céu que estava prestes a escurecer. Havia muitas nuvens escuras sobre nós e algumas gotas de chuva já caiam do céu.

—Precisamos pular. Não podemos chegar na Cidade da Primavera com um trem cheio de guardas mortos. —Axel afirmou e eu fiz uma careta.

—Você matou todos eles? —Indaguei e Axel me encarou com as sobrancelhas erguidas. —Não se sente mal por matar pessoas?

—Que diferença isso faz pra você? Era eles ou a gente. —Axel afirmou, voltando a olhar para o céu. —Entenda uma coisa, Kayla. Todos os reinos estão atrás das safiras e de nós dois. Se nós pegarem, vão nos matar sem pensar duas vezes. E eu não entrei nessa confusão pra me deixar ser morto por um bando de guardas imbecís.

—E entrou nessa confusão toda porque? —Indaguei, sentindo as gotas de chuva aumentarem. Axel me encarou e curvou os olhos.

—Pensei que estava aqui só pelo dinheiro.

—Eu estou aqui só pelo dinheiro. Estou pouco me importando para o que vai acontecer se alguém pegar as quatro safiras. Esse mundo já é uma grande merda. Duvido que consiga ficar pior. —Retruquei, me virando para os trilhos do trem que ficavam para trás, a medida que ele andava.

—Que ótimo. Só entenda que vou matar qualquer um que ficar no nosso caminho. —Axel afirmou e eu o encarei por cima do ombro. —Então é melhor se acostumar.

—Tanto faz. —Sussurrei, voltando a olhar pra frente. —Vamos pular de uma vez.

Me afastei para pegar embalo e Axel me encarou por alguns segundos. Olhei para o pequeno espaço entre os corrimões, por onde eu e Axel pularíamos.

—Posso? —Olhei para Axel e vi ele estender a mão para segurar a minha. Assenti e ele a segurou, me fazendo sentir o calor de sua pele. —Vamos juntos. Cuidado para não cair em cima do braço machucado.

Axel contou até três e nós bulamos do trem. Cai de cara no chão, mas pelo menos não machuquei mais o braço. Me sentei na grama e senti a chuva aumentar. Axel estendeu a mão para me ajudar a ficar de pé e então se afastou e entrou na floresta sem me dizer uma única palavra. Suspirei frustrada, não tendo outra alternativa a não ser seguir ele.

Andamos pela floresta por minutos intermináveis. A chuva havia aumentado e trovões soavam pelo céu escuro, clareando a floresta úmida. Olhei para Axel, que andava na minha frente com a maior tranquilidade possível, enquanto eu estava encolhida de frio.

—Kenji é um Portador dos Raios? —Indaguei, torcendo para que Axel não me ignorasse. Ele respondeu com um simples "Aham". —De onde você o conhece?

—Ele é meu amigo. Crescemos juntos. —Axel soltou um suspiro longo, parecendo cansado. —Eu não o via a alguns meses.

—É estranho pensar em um Portador das Sombras sendo amigo de um Portador dos Raios. —Comentei, fazendo uma careta ao me lembrar de Kenji. —Ele parece ser mais simpático que você.

—Ah ele com toda certeza é. Animado e divertido até demais. —Axel afirmou, com um tom de voz que demonstrava que ele sentia falta de Kenji. Parei de andar, quando Axel parou e encarou algo a nossa frente. Havia uma estrada e do outro lado uma pequena constrição. —Uma estalagem. Podemos passar a norte aqui. Deve estar cansada e precisamos cuidar do seu braço.

—Por mim tudo bem. —Confirmei e Axel fez sinal pra que voltássemos a andar. Saímos da floresta e atravessamos a estrada até a pequena estalagem. Parecia quente e aconchegante para mim. Eu só queria uma cama e roupas secas. Axel bateu na porta e um segundo depois ela se abriu, relevando uma senhora de cabelos vermelhos e olhos amarelados. Uma bruxa. Ela me encarou e depois lançou um olhar curioso a Axel.

—Boa noite. —Falei, estranhando o fato de Axel ter ficado em silêncio. —Estamos procurando um lugar para passar a noite e fugir da chuva.

—Entrem. Vocês estão completamente encharcados. —Ela abriu mais a porta e deu espaço para que nos entrássemos. Olhei envolta, vendo a pequena sala de estar e a lareira quentinha acessa. A senhora fechou a porta atrás de Axel e caminhou até ficar atrás de um balcão. —Essa noite todo mundo resolveu vir pra cá fugir da chuva. Foi tão repentina.

—Você teria algumas roupas pra emprestar? —Questionei um pouco envergonhada. —Estou morrendo de frio. —Olhei para Axel, que encarava a lareira sem parar. —E ele também.

—Claro, vou arrumar roupas secas e uma toalha para vocês. —Ela desceu os olhos até um caderninho e empurrou uma chave no balcão, na minha direção. —Eu tenho um único quarto vago.

—Como é? —Encarei a chave com a testa franzida.

—Vocês dois vão precisar dividir o quarto. —A senhora afirmou, me fazendo arregalar os olhos.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora