Capítulo 31: Vagão de Trem.

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—A gente precisa ir agora! —Axel correu até mim e parou a alguns centímetros, vendo eu arregalar os olhos. —Posso tocar em você?

Soltei um suspiro de surpresa ao ouvir ele pedir permissão. Talvez eu tenha ficado igual uma boba olhando pra ele. Na verdade, nós dois estávamos nos encarando de uma forma que me dava até arrepios.

—Po...pode. —Gaguejei, sentindo minha bochechas esquentarem. Axel passou o braço pela minha cintura com cuidado e olhou para Kenji, que nos encarava com um sorriso divertido.

—Eu distraio eles, pode deixar. —Kenji afirmou e Axel balançou a cabeça. —Foi bom te ver, irmão.

—Avise-os que logo estarei de volta. —Kenji assentiu e Axel abriu um sorriso pra ele. —A gente se vê.

Um segundo depois senti as sombras envolta de mim. Me encolhi contra Axel, sentindo o calor do corpo dele. Fechei meus olhos com a sensação estranha que me invadiu. Meus pés tocaram o chão firme e Axel se afastou de mim, me fazendo abrir os olhos e o encarar.

—Temos que pegar um trem e dar o fora daqui. —Declarou, me encarando de um jeito estranho. Olhei envolta e percebi que estávamos na estação de trem.

—Mas e a safira? —Questionei. —Devlon a pegou. Ele vai entregar ela ao rei.

—Eu sei. Ainda tem duas safiras perdidas por aí. Vamos encontrá-las primeiro. —Axel desceu os olhos para o ferimento no meu braço. —Estou começando a achar que você é um imã para confusões.

Fiquei em silêncio, sentindo meu peito subir e descer. Eu precisava concordar com Axel dessa vez. Nos últimas dias eu me meti em tanta confusão que até perdi a conta. E pelo visto, elas estão longe de terminar.

Axel me puxou em direção ao balcão e comprou nossas passagens para a Cidade da Primavera. Eu não perguntei o que iríamos fazer lá. Estava tão exausta que só queria entrar no trem e desabar em um dos bancos.

—Entre e fique aí. Vou ver se acho algo para cuidarmos desse seu ferimento. —Axel olhou para meu rosto e abriu a porta da cabine pra mim. Entrei sem discordar e me sentei no banco, encarando a floresta do outro lado. —Eu já volto.

Axel fechou a porta e no mesmo instante eu me deitei no banco, fechando os olhos enquanto sentia meu braço doer. Assim que eu caí sobre aquela mesa, ela se quebrou e um dos pedaços deslizou pelo meu braço. Não foi um corte fundo. Mas machucou o suficiente para sair bastante sangue e me incomodar. Eu estava com sede, com fome, com dor e cansada. Até mesmo morar nas ruas da Cidade dos Ossos era melhor que isso.

—Droga! —Abri os olhos e ergui a cabeça, vendo Axel entrar no vagão e fechar a porta atrás de si. Ele se escorou na mesma e fez uma careta.

—O que foi? —Me sentei, vendo ele fazer um sinal para que eu ficasse me silêncio.

—Eu não sei, senhor. Vi eles entrando nesse trem. —Arregalei os olhos ao ouvir a voz de um dos guardas no corredor e os passos se aproximando. —Tenho certeza que eram eles. A garota e o portador.

—Quer ver uma coisa legal, Kay? —Observei Axel estalar o pescoço e fechar os olhos lentamente. —Não precisa ficar assustada. Eles não vão fazer mal a você.

—Do que está falando? —Sussurrei, assim como ele estava fazendo. Olhei para a porta atrás dele quando escutei um uivo e então os gritos dos passageiros. Olhei para Axel e vi o sorriso divertido que estava nos lábios dele ao ouvir o pavor das pessoas pelos vagões do trem.

Me coloquei de pé e me aproximei da porta onde Axel estava. Ele se virou, quando ouvimos a correria pelo corredor e o trem começou a se mover.

—Axel? —Exclamei e ele abriu a porta da cabine, deixando as sombras saírem dele. Ele lançou um sorriso a mim e sumiu pelo corredor em meio às pessoas que corriam do lobo. —Mas que filho da mãe!

Sai para o corredor tentando segui-lo, trombando com as pessoas que corriam. Olhei para o final do corredor e vi um guarda tentando se defender do imenso lobo negro. Virei para o outro lado e comecei a correr junto com as outras pessoas, vendo mais lobos aparecerem por todo lado.

Passei para outro vagão de trem, sendo empurrada pelas pessoas e sentindo meu braço doer. Entrei em uma das cabines tentando fugir de tudo aquilo. Respirei fundo vendo o vagão ficar vazio e então sai da cabine.

—Kayla Selven! —Parei, completamente congelada ao ouvir a voz feminina dizer meu nome completo. Me virei lentamente, vendo vários guardas me encarando. Meu sobrenome. Eles sabiam meu sobrenome. Eles estavam sorrindo pra mim e começaram a se aproximar, enquanto eu dava passos para trás, sem conseguir abrir a boca.

Eles pararam de andar de repente e olharam para algo além de mim. Meu sangue gelou quando eu ouvi o rosnado do lobo bem ao meu lado. Olhei com o canto dos olhos, vendo a criatura imensa bem ao meu lado, com a atenção toda voltada para os guardas.

Assim que o lobo saltou para cima dos guardas, eu me virei e comecei a correr até a porta do vagão, pulando para o outro. Soltei um grito ao encontrar vários guardas mortos e praticamente despedaçados no chão. Meus olhos pararam nas duas Criaturas das Sombras que estavam ali. Comecei a correr, pisando no chão molhado de sangue.

—Kayla! —Ouvi a voz de Axel e no mesmo instante ele apareceu na minha frente, do meio das sombras. Cai nos braços dele e senti elas me envolverem até ele nos atravessar para dentro de alguma cabine, longe de tudo aquilo. —Kayla, olhe pra mim!

Axel pediu. Eu estava com o corpo contra a parede e ele bem na minha frente, ainda com os braços envolta de mim. Meu rosto estava molhado pelas lágrimas que eu nem havia notado que tinham saído.

—Eles falaram meu sobrenome. —Sussurrei, sentindo algo se quebrando dentro de mim. Ergui a cabeça, vendo Axel me encarar. Ele estava sério, me observando com atenção. Atento a cada movimento meu. —Eles sabiam meu sobrenome, Axel!

Ele não respondeu nada. O trem estava em movimento ainda. Mas agora estava tudo em silêncio. As sombras ainda estavam envolta de nós, deixando toda a cabine escura. Encarei o rosto de Axel, tentando gravar cada detalhe, enquanto meu peito estava disparado.

—Seus olhos... —Ergui minha mão e toquei a bochecha de Axel, enquanto meus olhos estavam grudados nos dele. —Tem estrelas perdidas neles. É... lindo.

Axel soltou um suspiro, prensando seu corpo contra o meu e grudando nossas bocas em um beijo completamente desesperado.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now