Epílogo.

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Kayla

Havia uma fina camada de chuva do lado de fora. O som da água batendo contra o telhado era a única coisa que eu ouvia, além da minha respiração pesada. Batuquei os dedos na mesa, observando a escuridão ao meu redor. Estava noite e eu não me preocupei em acender a lareira.

A porta da sala se abriu, revelando uma mulher de uns 30 anos. Os cabelos eram castanhos ondulados e estavam bagunçados pelo vento, além de visivelmente úmidos. Ela fechou a porta com o pé, caminhado até a pia e soltando ali alguns pacotes de suprimentos. Observei ela se movimentar apressadamente até a lareira, esfregando as mãos uma na outra. Ela se ajoelhou, pagando o fósforo, tremendo de frio e então acendendo o fogo.

As chamas clarearam a sala, a fazendo me ver. A mesma se colocou de pé, tropeçando para trás e me encarando de olhos arregalados, ficando pálida.

—Olá, mãe. —Abri um sorriso fraco. —Sentiu minha falta?

Ela piscou, como se estivesse vendo um fantasma. As chamas clareando seu rosto a deixavam com uma aparência ruim. Ela parecia cansada, com sombras negras ao redor dos olhos castanhos.

—Kayla? —Sussurrou, parecendo não ter certeza. Ela apertou as as mãos ao redor do corpo, nervosa. Olhei ao redor, vendo que a casa estava bagunçada e suja. E ela não era uma pessoa que deixava as coisas chegarem a esse ponto.

—Eu estou muito bem, caso seja do seu interesse saber. —Comentei, ainda olhando ao redor. —Mas você parece que não.

—Onde esteve? —Indagou, me fazendo voltar a olhar pra ela.

—Por aí. —Dei de ombros, soltando um suspiro. —Descobrindo coisas sobre o mundo e sobre mim mesma.

—Kayla...

—Ele não vai voltar. —Falei, cortando o que quer que ela fosse falar. —Engraçado como você parece ter sentindo mais falta dele do que dos seus filhos. —Ri amarga. —Mas ele não vai voltar.

—Do que está falando? —Indagou, parecendo ficar assustada. —O que você fez, Kayla?

Fechei os olhos, balançando a cabeça negativamente. É claro, como sempre a culpa era minha. Abri meus olhos e movi meu pé para o lado, puxando o vidro pra frente, deixando-o visitável pra ela. Minha mãe arfou, arregalando os olhos quando escorei meu pé no vidro que continha a cabeça de Simon.

—Pensei que... que isso me libertária, sabe? —Neguei com a cabeça. —Mas mesmo depois que ele se foi, eu ainda sentia que havia algo de errado no mundo.

—Filha? —Me coloquei de pé, pegando o vidro e tirando a cabeça de Simon de dentro dele. Joguei o vidro do outro lado da sala, ouvindo o som dele se quebrando. Minha mãe se encolheu contra a parede, enquanto eu me aproximava.

—Mas eu descobri qual era o problema, mãe. —Joguei a cabeça nas chamas da lareira. —Não era Simon, era você!

—Filha... —Ela se encolheu, com os olhos ficando vermelhos e cheios de lágrimas. —O que aconteceu com você? Minha filha não era assim. Vo... você matou...

—Sua filha morreu no momento que você deixou de amá-la. —Parei na frente dela, abrindo um sorriso. —E você não me conhece. Você não sabe absolutamente nada sobre mim. —Segurei o pescoço dela, vendo ela ficar paralisada, sem conseguir se mover, quando o ar ao seu redor ficou tenso. —Você me quebrou por dentro, mãe. A cada vez que ignorava meus pedidos de socorro, você me matava por dentro.

—O que... o que aconteceu com você? —Ela arfou, quando minhas mãos começaram a esquentar e irradiar calor, contra sua pele. Seus olhos se arregalaram mais, medo e pavor dançando ali. —Me solte, filha. Por favor, me solte!

—Não! —Aproximei meu rosto do dela. —Descobri que não posso viver em um mundo no qual você ainda pisa. —Segurei o pescoço dela, com gelo começando a se formar nas minhas mãos. —Mas não se preocupe, mãe. Você vai pra um lugar em que mães relapsas são muito bem tratadas.

[...]

Passei pelo meio dos arbustos, subindo o caminho íngrime até estar no topo da colina. Atrás de mim, o sol começava a brilhar na Cidade da Esperança. Passei pelas linhas das árvores, andando em direção as sombras que fluíam de Axel, como se ele flutuasse no meio da noite.

—Tudo bem? —Questionou, quando parei na sua frente. Axel segurou meu rosto, encarando meus olhos com carinho. Balancei a cabeça afirmativamente, erguendo o queixo e beijando os lábios macios dele.

—Ei, antes de vocês começarem a trocar saliva. —Me afastei de Axel, ouvindo a voz de Kenji. Ele estava em cima de uma árvore, sentado em um galho. —Gostaria de saber, o que vamos fazer agora?

—Eles vão vir atrás de nós. —Axel afirmou. —Todos que se sentirem ameaçados ou que desejarem as safiras.

—Ou simplesmente por me odiarem. —Falei, dando de ombros. —Não estou preocupada com isso. —Comecei a andar para longe da cidade, floresta a dentro, com Axel vindo atrás de mim e Kenji descendo da árvore para nos seguir. —Estarei esperando todos eles.

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Where stories live. Discover now