Uma Conjuração de Magia / Vol. 1

Capítulo 19: Terras Esquecidas.

Lyra

Folheei o livro sem qualquer interesse e o coloquei no lugar de novo. A biblioteca estava bastante movimentada hoje. Tudo que se falava era sobre a fuga de Kayla com e a aparição de um Portador das Sombras. E eu tenho certeza absoluta que foi ele que Kayla viu aquele dia na biblioteca, que a deixou assustada.

Qualquer um ficaria assustado se visse um Portador das Sombras no meio da noite e ainda acompanhado de Criaturas das Sombras. Eles não eram de aparecer por aí e andar entre nós. Eram temidos e extremamente poderosos.

Caminhei pela fileira de livros e parei ao ouvir a voz de Miriam, do príncipe e de Devlon. O príncipe em questão estava completamente irritado pelo que havia acontecido. E claro, estava colocando a culpa nos outros.

—A garota era sua responsabilidade, Devlon! Você deixou claro que ela não estava com a safira. Que havia perdido ela durante a fuga. Como me explica a safira nas mãos dela então? —Indagou com a voz alta.

—Eu não sei. Nós revistamos ela várias vezes. Não era pra ela estar com a safira. E eu também não imaginei que ela fosse fugir quando soubesse a real intenção de nosso rei. —Devlon argumentou e eu ouvi o príncipe soltar uma risada irônica.

—Não me interessa o que você imaginou. Agora estamos sem a garota e sem a safira. E o pior, tem um Portador das Sombras no meio. —Exclamou. Dei alguns passos silenciosos até conseguir ver eles por entre as fileiras de livros.

O príncipe estava andando de um lado para o outro com as mãos fechadas em punhos. Miriam estava escorada em uma mesa e tinha uma expressão pensativa. E Devlon olhava para o chão como se estivesse com medo.

—Meu rei deseja falar com você, Devlon. Ele está irritado com essa situação. Suas ordens são para que mande mais guardas atrás da garota e outros atrás da safira que está na Cidade Marítima. —O príncipe se afastou até a saída. —Esteja no castelo daqui meia hora e se apresente na sala do trono. Meu rei estará aguardando por você.

O príncipe desapareceu pelo corredor, deixando Devlon e Miriam em completo silêncio para trás. Suspirei um pouco ansiosa para a possível conversa deles. Eu não era fofoqueira, mas curiosa demais.

—Acha que ela saiu da cidade? —Miriam foi a primeira a falar.

—Tenho certeza absoluta. Ela foi vista perto da saída da cidade junto com um rapaz. Um rapaz que eu imagino ser o Portador das Sombras. —Devlon passou as mãos no rosto e suspirou. —Eu preciso ir resolver algumas coisas.

—Mais guardas para enforcar? —Miriam questionou em tom de ironia e Devlon ergueu os olhos até ela, cruzando os braços na frente do corpo.

—Eu não tive muita escolha. Você ouviu as histórias. —Fiz uma careta ao ver Miriam engolir em seco. —Eles estavam atrás da safira da terra. Mas voltaram completamente loucos. Fora de si. Delirando coisas sem sentindo.

—Pelo que você me contou, nem tão sem sentido assim. —Miriam se afastou da mesa e parou na frente de Devlon. —Podemos ter nos esquecido daquelas terras. Mas sabemos que elas são reais.

—Acha que aquela magia está contaminando os guardas que estão atrás das safiras? -Devlon questionou e Miriam deu de ombros.

—Sabemos que nosso rei não é o único atrás das safiras. Os outros três reis também estão. Não me surpreenderia se um dia descobríssemos que aquelas terras também querem o poder delas. —Ela curvou a cabeça para Devlon. —E motivos eles tem de sobra para querê-las.

[...]

Eu estava andando pelo meu quarto, de um lado para o outro, tentando entender aquela conversa de Devlon e Miriam. Terras esquecidas? Guardas delirando? Safiras? E onde Kayla se encaixa nisso tudo?

Okay, eu não queria me meter e muito menos bisbilhotar. Mas minha alma aventureira estava gritando para que eu descobrisse mais sobre isso. Sai para o corredor pronta para ir até a biblioteca particular de Miriam. Lá ela guardava todos os livros mais importantes do nosso reino. E eu começaria procurando por algo que falasse sobre essas tais safiras é essa terra esquecida.

Parei ao ouvir o barulho de algo se chocando contra o chão. Caminhei até a porta do quarto que antes era de Kayla e coloquei a orelha contra ela.

—Kayla? Você está no banheiro? Kayla? —Era a voz de um garoto. Um garoto que obviamente não sabia que Kayla havia fugido. Abri a porta e assustei o garoto. Ele virou o corpo na minha direção e arregalou os olhos.

—Kayla não está mais aqui. —Falei, antes que o garoto que parecia ter entre 11 e 12 anos fugisse pela janela.

—E onde ela está? —Questionou confuso. Olhos para o corredor e entrei no quarto fechando a porta. Tudo que eu não precisava era de alguém ouvindo minha conversa com um garoto de rua que era amigo de Kayla.

—Ela fugiu. Quem é você? —Indaguei, vendo o olhar do garoto para mim. —Eu sou Lyra. Uma das Fadas da Luz que reside aqui na biblioteca.

—Trevis. Um dos garotos que mora na rua. —Respondeu e andou até a janela. —Kayla fugiu? Sabe pra onde? Eu não a vi pelas ruas.

—Eu não sei. Ouvi uma conversa sobre ela ter ido embora da cidade. —Ele virou o rosto pra mim, completamente surpreso. —Sabe pra onde ela teria ido? O príncipe mandou que guardas fossem enviados atrás dela.

—Ah não. —Ele começou subir na janela para pular. Andei até ele e segurei seu braço, impedindo que ele pulasse a janela. —O que foi?

—Você vai atrás dela? —Indaguei.

—Eu não sei. Preciso falar com Cedric. Mas Kayla precisa saber que eles vão atrás dela. —O garoto se prendeu na parede ao lado de fora e me encarou, quando ainda continuei segurando o braço dele.

—Vamos fazer o seguinte, você fala com esse tal de Cedric e depois me encontra na feira da cidade. —Falei e ele franziu a testa.

—Porque? Eu nem conheço você. —Retrucou e eu curvei a cabeça para o lado com uma careta.

—Porque talvez eu possa ajudar você. —Afirmei e ele pareceu ainda mais confuso. —Ta, certo, você vai dizer aquela famosa frase "E porque eu deveria confiar em você?" . Eu só quero ajudar, entendeu? Conheci a Kayla. Muito, muito pouco, mais conheci. E talvez a situação dela seja mais complicada do que pensamos.

Ele ficou parado me encarando por alguns segundos, talvez processando tudo que eu havia falado. Por fim ele assentiu.

—Feira da cidade então. —Concordou.

Continua...