Uma Conjuração de Magia / Vol. 1

Capítulo 71: Escuridão.

Cedric

—Como conseguiu prender um Lusion? —Trevis questionou Alex, que estava curvado sobre o rio, em um parte que ele havia quebrado o gelo para pegar água.

—Ele tentou em atacar um dia desses. Então usei magia para prendê-lo. Ele não pode mentir ou inventar histórias. É obrigado a me servir até eu decidir que não o quero mais. —Esclareceu, com uma calma que me deixou confuso.

—Isso não é cruel da sua parte? —Indaguei, me encolhendo contra o vento frio.

—É de uma criatura das sombras que estávamos falando. Ela teria me devorado sem se preocupar em ser menos cruel. —Alex argumentou, e eu não tive como discordar daquilo. Nunca tinha visto uma criatura das sombras antes. Mas sabia que não se devia brincar com elas.

—Não vimos a forma dele. O que ele se parece? —Trevis questionou, curioso. —Ele ficou escondido entre as sombras.

—A forma real dele? Você não vai querer saber. Só vendo ela quando ele deseja atacar. Normalmente, ele exibe a forma de uma pessoa importante pra você. —Alex explicou, voltando para perto de nós com o balde de água. —Cada pessoa vê alguém diferente.

—Então, se eu olhar pra ele, vou ver alguém importante pra mim? —Trevis pareceu pensativo. —Talvez meus pais?

Olhei pra ele, vendo que o mesmo parecia esperançoso. Alex ficou em silêncio, e eu percebi que ele não sabia ao certo como responder aquela pergunta. Mas Trevis não deu essa chance. Ele saiu correndo de volta para a caverna, pronto para fazer a maior besteira de todas.

—Merda! —Comecei a correr atrás dele, vendo ele passar por trás da cachoeira e chamar a criatura. —Trevis, pare!

—Cadê você? —Ouvi a voz de Trevis no meio da escuridão. —Lusion?

—Trevis, não faça isso! —Pedi, tentando encontrá-lo no meio de toda aquela escuridão. Parei de andar quando uma sombra deslizou pelo meu braço, me fazendo sentir um arrepio. —Trevis?

—Garoto curioso ele, não? —A voz da criatura veio de trás de mim, me fazendo ficar paralisado. —Uma pena...

—Uma pena o que? —Me virei, sem conseguir ver absolutamente nada. —Trevis? —Chamei, mas sem resposta.

—Talvez devesse segura-lo. Ele não vai querer me ver de verdade. Vai se arrepender se fizer isso. —A criatura prosseguiu, e eu dei outro passo no meio da escuridão, tentando me afastar das sombras que me tocavam. —Os pais dele o abandonaram em um orfanato. Eles não o queriam. O pobre Trevis apanhou tanto antes de ir parar nas ruas.

—Pare! —Exclamei, começando a andar mais depressa pela caverna, tentando encontrar a porta da casa.

—Ele não veria ninguém. Porque ninguém é importante pra ele, ou se importa com ele...

—Eu me importo com ele! —Exclamei, para a escuridão que me rodeava. Ouvi a risadinha da criatura e o farfalhar de algo no chão. —Eu me importo com ele.

—E quem se importa com você, Cedric? —As sombras deslizaram por mim de novo e eu debati os braços, tentado me afastar da sensação horrível que me invadiu. —Trevis? Lyra? A novata? Ah, não, deixa eu ver. —Ele soltou outra risadinha. —A sua amada Kayla?

—Cale a boca! —Mandei, me afastando até minhas costas se chocarem contra uma parede. A coisa se moveu pela escuridão, com as sombras tocando meus braços e meu pescoço.

—Você entrou nisso tudo porque pensou que assim ela notaria você. —Outra risada, mais parecida com um grunhido. —Ora, ela notava você antes. Notou você desde o primeiro dia, querido. —Me encolhi contra a parede, sentindo meu estômago começar a se revirar. —Mas ela estava quebrada demais... e você não notou isso. Mas alguém notou...

—Não, pare! —Falei, sentindo as sombras me envolverem. Fechei meus olhos, sentindo o arrepio percorrer minha espinha.

—Ela precisava de alguém que a curasse. E você não é essa pessoa. Mas não se preocupe... —Prosseguiu, a voz ficando mais próxima. —Um certo portador já está se certificando de deixá-la inteira novamente. Mas sabe, quando isso acontecer, duvido que ela vá olhar pra vc da mesma forma que olhava antes.

—PARE! —Gritei, escorregando para o chão. Sentindo a presença dele na minha frente. —Eu não quero saber!

—Não? —Ele riu de novo, com o divertimento no ar. —E que tal falarmos da sua família? —Tampei os ouvidos, tentando não ouvir nada do que ele dizia. —Eles não abandonam você, Cedric. Eles queriam você mais do que tudo.

Um zumbido preencheu meus ouvidos quando ergui a cabeça para a escuridão que me encarava de volta. Para a criatura ali, bem na minha frente, exibindo a forma de alguém que eu não sabia quem era e que não ousaria olhar a luz do dia.

—Sua mãe era a filha mais nova de um mercador rico da Cidade do Porto. Seu pai a conheceu quando estava fazendo uma viagem de negócios. —A mão dele tocou meu rosto, áspera e fria, me causando um calafrio e me fazendo ofegar. —Mas ele era sujo demais pra ela. Sujo demais para tentar ser alguém decente.

Me debati quando as unhas dele se cravaram no meu queixo, a outra mão ossuda se fechou no meu pescoço, fazendo o grito ficar entalado na minha garganta. O gosto metálico invadiu minha boca, enquanto eu sentia a respiração ruidosa dele na minha bochecha.

—Você, moleque imundo, é só um pedaço de merda que um pirata colocou no mundo. —Tentei gritar quando a mão dele apertou mais meu queixo, me fazendo sentir algo gelado descendo por ali. —Uma pena pra você, que ele e sua mãe tenham morrido. Se não você certamente estaria comandando um navio agora, com ouro até o pescoço.

A língua dele tocou meu pescoço, lambendo o sangue que estava escorrendo do meu queixo. Forcei minhas mãos contra o corpo magro e ossudo que estava na minha frente. Me debatendo e tentando gritar.

—SOLTA ELE AGORA! —Fechei meus olhos e caí no chão quando uma luz forte invadiu meus olhos. Tossi, sentindo o sangue se acumulando na minha boca.

—Cedric? —Olhei para a esfera de luz acima da minha cabeça, enquanto levava a mão ao queixo cortado. Lyra e Diana apareceram no meu campo de visão, com os olhos arregalados e preocupados.

—Cedric? —A voz de Trevis veio logo em seguida. Mas a escuridão na estava tomando conta da minha mente até eu apagar.

Continua...
......
Teorias com os títulos dos capítulos finais? O final promete gente rsrs.