Capítulo 43: Tempestade de Raios.

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—Droga! —Axel se afastou de mim, como se tivesse percebido o quão suja eu era. Seus olhos estavam arregalados e ele estava com as mãos no alto, como se não soubesse o que fazer.

—Sai daqui! —Falei, sentindo meu rosto molhado e a vergonha me consumindo. Caminhei até a porta, com os olhos de Axel queimando na minha nuca.

—Kayla, olha pra mim. —Axel pediu, enquanto eu destrancava a porta. —Kayla, isso não é culpa sua. Isso... Merda!

Me virei assim que ouvi seus passos se aproximando de mim. Prendi o ar quando ele parou a centímetros de mim, me encarando com preocupação.

—Isso é horrível. Eu sinto muito. Mas a culpa não é sua e eu não... eu não estou te julgando por isso. —Axel afirmou, como se estivesse lendo a minha mente e vendo o quão envergonhada eu estava. Eu me encolhi, me sentindo exposta. —Eu sinto muito. Percebi desde o início que você não gostava de ser tocada. Mas eu não imaginei que era por algo assim.

Fiquei em silêncio, enquanto Axel parecia nervoso e sem saber ao certo o que fazer ou falar.

—Você sente medo de mim? Acha que eu posso machucá-la como ele? —Axel questionou e eu engoli em seco, virando o rosto para o lado. Eu não conseguia encara-lo. As sombras de Axel estavam saindo dele, tomando conta da cabine. —Posso tocar em você, Kay? Posso me aproximar? —Fiquei em silêncio e ouvi o que parecia um suspiro de decepção. —Eu gostaria de ficar aqui. Juro que não vou tocar ou fazer nada contra você.

Ergui os olhos para Axel e ele me encarou com certa expectativa. Balancei a cabeça de leve, confirmando que podia e ele pareceu extremante aliviado.

—Não sinto medo de você. —Falei, quando ele deu um passo para trás. As estrelas em seus olhos pareceram brilharem mais ainda. —Só me sinto vulnerável perto de você. Pelo fato de você já ter visto minhas marcas. Tanto as de fora, como as daqui de dentro.

Axel ficou parado, como se não tivesse certeza do que dizer. Ele pensou um pouco e então estendeu a mão pra mim, como um pedido silencioso para que eu confiasse nele. Encarei seus olhos e depois sua mão, vendo as sombras deslizando ali, como se estivessem ansiosas pela minha decisão.

Ergui a mão, com os dedos um pouco trêmulos e segurei a mão dele. Axel a apertou e então me puxou em direção ao quarto, onde Kenji ainda dormia. Me deitei na cama, indo bem para o lado de Kenji e Axel se deitou na ponta, me deixando no meio. Me ajeitei com a cabeça no travesseiro e Axel se ajeitou, ficando de frente pra mim. Seus olhos ficaram focados nos meus, me analisando com cuidado.

—Eu não vou machucar você. É uma promessa.

[...]

Girei a espada na minha mão. Ou pelo menos tentei, já que quase pedir um dedo no processo.  Segurei ela e encarei Beron, que tinha a espada erguida e ajeitava o chapéu na cabeça.

—A primeira lição, Kayla. —Henry bateu a própria espada nas minhas mãos. Afastei elas no susto e fiz uma careta. —Segure o cabo da espada com as duas mãos, deixe ela bem na sua frente e perpendicular ao chão.

Fiz o que ele mandou, sobre o olhar atento dos outros marujos. Axel e Kenji também estavam observando de longe, em silêncio.

—Abra as penas e firme os pés no chão. Você precisa de equilibro para girar a espada, atacar ou se defender. —Assenti, fazendo o que ele mandava. —Use sua mão dominante para ditar os movimentos com as espadas.

—Okay, okay. —Falei, encarando Beron com a espada pronta para o ataque. —Eu prefiro aprender isso na prática.

—Ataque. —Henry mandou e eu arregalei os olhos ao ver Beron vir pra cima de mim com sua espada. Andei para trás e ergui a minha a tempo de sentir o impacto da lâmina dele com a minha. Aquilo reverberou pela minha mão e eu soltei a espada, enquanto tropeçava para trás. —Você não fez absolutamente nada do que eu disse.

—Ele me atacou do nada. Eu não estava esperando por isso. —Afirmei e ouvi os marujos rirem.

—Ninguém vai ter a decência de te avisar quando for lhe atacar com uma espada, Kayla. Tem que estar preparada para se defender ou atacar a qualquer momento. —Henry afirmou e eu revirou os olhos, achando aquilo muito difícil. —Vamos lá. Repita tudo que eu disse.

E assim foi, com Henry me dizendo o que fazer e Beron me atacando sempre que eu estava distraída. Eu definitivamente era péssima com uma espada na mão. Kenji parecia divertido com a situação. Mas Axel estava com sua cara séria e fria de sempre.

Não conversamos sobre o que havia acontecido no quarto na última noite. Axel havia acordado antes de mim e saído do quarto, deixando Kenji apagado lá. Eu não falei nada e nem pretendia.

—Você não está fazendo o que eu mandei, Kayla... Ergue esse braço agora mesmo... Se defenda... Kayla, espada na frente do corpo e não do lado... Ataque... Isso não é brincadeira, Kayla.... Estou ficando decepcionado... Espada na perpendicular... Ataque de novo... De novo, Kayla... Se defenda...

Todas as vezes que eu errava, Henry batia a ponta da espada nos meus dedos, como um alerta que eu estava apenas brincando. Eu lancei vários olhares raivosos a ele, que não causaram efeito algum.

No final da tarde, tudo que eu ouvia era meu nome se repetindo várias vezes na boca de Henry, quando ele chamava minha atenção. Eu consegui evoluir um pouco com a espada. Pelo menos não derrubava ela a cada momento que Beron me atacava.

—Você é um desastre. —Axel afirmou, quando me sentei e bebi um pouco de água.

—Não lembro de ter pedido a sua opinião. —Retruquei, ouvindo a risada divertida de Kenji logo atrás. —Duvido que saiba usar uma espada.

—Eu não preciso saber usar uma. —Axel deu de ombros, como se usar uma espada fosse algo idiota.

—Achei que portadores podiam criar sua própria espada. —Beron apareceu ao lado de Kenji, bebendo rum e com uma cara de quem estava muito bêbado.

—Só os que tem o poder dos quatro elementos da natureza podem. Não é igual pra todos. Depende do poder. —Kenji esclareceu.

—E você pode criar alguma coisa? No caso, no lugar da espada? —Perguntei e ele abriu um sorriso presunçoso.

—Vou mostrar a você. —Kenji se afastou, indo para o meio do navio. Me coloquei de pé, vendo  nuvens escuras se formando no céu. Foi tão rápido que parecia até mentira. Você nunca sabe até onde o poder de alguém vai, até vê-lo finalmente usando ele.

Dei um passo para trás e bati contra a cadeira, quando um trovão soou nos céus. Não havia uma única gota de chuva. Mas os céus estavam clareando com o surgimento de vários raios. Olhei para Kenji, vendo ele erguer a mão direita para cima e criar o maior raio que eu já tinha visto acontecer.

O raio brilhou entre sua mão e as nuvens escuras nos céus. Kenji abaixou a mão e se virou para mim, mostrando o raio reluzente na sua mão. Ele o girou, causamos algumas faíscas e abriu um sorriso muito grande.

Kenji podia ser comparado a um Deus. Carregando um raio nas suas próprias mãos e capaz de criar uma tempestade de raios nos céus.



Continua...

Uma Conjuração de Magia / Vol. 1Место, где живут истории. Откройте их для себя