Capítulo 2

1.7K 142 1
                                    

Anitta narrando

O trabalho era uma das coisas mais importantes que eu tinha. Eu amava o que fazia, minhas coleções eram exuberantes ao meu ver. Mas talvez minha própria opinião não conte.

- Bom dia -cumprimentei todos ali com um sorriso no rosto-

A princípio a ideia de ter uma loja de roupas era mais um hobby do que algo sério. Meu pai me criou com a ilusão de que um dia eu ingressaria na empresa, assim como meus irmãos fizeram. Mas eu sai com algum defeito de fábrica.

-Bom dia Anitta, temos um cliente à sua espera - Luck disse depois de sorrir ao me ver-
-Bom dia loirinho -sorri- Posso saber de quem se trata?
- Mateus, é um cliente novo, disse que procura algo específico e que uma conhecida nos indicou.
- Muito bem -sorri e segui para minha sala- Mande-o para minha sala por favor -disse num tom mais alto e ouvi um "sim senhora"-

Luck era um amigo gay que enganava muita gente por aí, seu porte físico, sua voz e seu jeito discreto de agir faziam com que tudo fosse perfeitamente normal e dentro dos eixos. Ele dizia que tudo era como deveria ser. Eu me impressionava com tamanho controle sobre si, era o tipo de coisa que tava quase me custando um dos meus seguranças, se é que me entendem.
Eu invejava o seu auto-controle e admirava a sua discrição em relação a sua escolha sexual.
Enquanto isso eu mal conseguia me manter em pé quando estava perto daquele bastardo do TH.

Sentei em minha cadeira e posicionei a bolsa no canto da mesa, logo a porta foi aberta e Luck me apresentou o tal Mateus.

- É um prazer te conhecer -sorriu simpático e me estendeu a mão-
- O prazer é todo meu -devolvi o sorriso e apertei sua mão- Sente-se por favor -apontei para a cadeira na minha frente e ele o fez- Então, no que posso te ajudar?
- Bom, eu tenho uma irmã que vai fazer 15 anos daqui um mês e ela está quase tendo um infarto porque não conseguiu achar o vestido "perfeito", como diz ela -sorriu fazendo aspas- Na tentativa de ajuda-la, sua loja me foi indicada e aqui estou eu -sorri vendo a situação embaraçosa em que ele havia se metido-
- Pode me dizer um pouco sobre os gostos dela?
- Claro. Bom, ela gosta muito de vermelho, do claro ao vinho -sorriu- Gosta de vestidos rodados... -ele parecia pensar e eu retornei a sorrir-
- A festa terá um tema específico ou será cores que ela escolheu?
- Cores, a decoração vai ser vermelho e dourado.
- Bom, eu tenho algumas ideias, pode me acompanhar para que eu te mostre?
- Por favor -disse se levantando e abrindo a porta para mim-

Segui para as fileiras repletas de vestidos e comecei a recapitular na minha mente quais ali se encaixavam no pouco que Mateus tinha me dito.

- Você disse que ela gosta de vermelho, e o tema da festa terá vermelho, portanto vou começar te mostrando os modelos dessa cor e de tons variados, a sua função é me dizer os que lhe agradam, certo?
- Tudo bem -concordou sorrindo-

Depois de selecionar uma onda de vestidos, Mateus escolheu um que eu particularmente achava maravilhoso.

- Acha que ela vai gostar? -perguntou receoso-
- Acho que ela vai amar, a escolha do dourado foi ótima, da um destaque a mais seja pra onde for. De qualquer forma, se ela preferir olhar outros estaremos a disposição. -sorri e recebi um sorriso em troca-

Ouvi a porta se abrir e vi TH adentrar o ambiente com uma carranca gigantesca

Ops! Esta imagem não segue as nossas directrizes de conteúdo. Para continuares a publicar, por favor, remova-a ou carrega uma imagem diferente.

Ouvi a porta se abrir e vi TH adentrar o ambiente com uma carranca gigantesca.

- Desculpe, me dê um minuto -pedi para Mateus que apenas concordou com a cabeça-

Me aproximei de TH tranquilamente como quem não queria socar a cara dele por invadir meu espaço de trabalho.

- O que está fazendo aqui? Já conversamos sobre você ficar me seguindo dentro da minha própria loja TH -eu disse com raiva-
- Tivemos um código vermelho e eu precisava conferir se estava tudo bem com você, afinal você entrou para a merda dessa sala com esse cara e não saiu mais.
- Eu estou trabalhando seu idiota -proferi nervosa e revirei os olhos-
- Eu não tenho nada a ver com o que você faz aqui, meu papel é fazer sua escolta, nada além disso. -disse e se virou saindo dali-

Ogro maldito dos infernos! Ele ainda ia me pagar caro por agir assim, e eu iria cobrar com juros.

Retornei para perto do meu mais novo cliente e me desculpei novamente.

- Tudo bem Anitta, eu não me incomodo. Bem, já deu minha hora, quem sabe eu não tenho a sorte grande de poder voltar aqui em outra ocasião -sorriu e deu uma piscadela-
- Esperamos que sim -sorri-

Ele estava me cantando por acaso? Porque se fosse isso eu tratei de tirar o dele da reta já, quando ao invés de referir apenas à mim, me referi à loja no geral.
Mateus parecia ser um cara bacana, mas eu não estava disposta para embarcar em alguma espécie de relacionamento agora, eu queria apenas focar em minha carreira no momento e talvez daqui algum tempo eu me dedicasse a vida amorosa. É claro que isso não me impedia de curtir as vezes.

Ao voltar para a sala sentei em minha cadeira e esperei que mais alguém adentrasse a mesma. Ao ouvir o barulho da porta direcionei meu olhar para cima e meus olhos escuros se chocaram imediatamente com os olhos de Rodrigo.

- Me desculpe Anitta, ele passou sem pedir e eu me embolei -Luck dizia enquanto entrava na minha sala-
- Tudo bem Luck, nos deixe a sós por favor -pedi tranquilamente enquanto guardava alguns papéis na gaveta da mesa-

- O que faz aqui Rodrigo?
- Eu preciso conversar com você
- Sou toda ouvidos- disse fazendo um gesto para que ele se sentasse- Pode começar -pousei os braços em cima da barriga e esperei a sua boa vontade-
- Eu quero me desculpar por tudo que te falei e te fiz, eu tive atitudes de uma criança. É que você me deixa louco, eu preciso de você Anitta. Você é tudo que eu tenho -disse me olhando- Por favor, me desculpe -soltou o ar com cara de derrotado fazendo uma cena dramática-

Se Rodrigo fosse pra globo ele ganhava o troféu de melhor ator dramático todos os anos, até o fim de sua carreira.

- Então você não tem nada Rodrigo, porque o tempo em que eu me considerava sua, passou, graças ao bom Deus. Aliás, eu te desculpo, é realmente uma pena que isso não signifique voltar contigo -eu disse a última parte cinicamente sustentando seu olhar de incredulidade-
- Do que está falando? A gente se ama Anitta, eu amo você.
- Não, a gente não se ama, eu não te amo. Eu tive um momento de ilusão por um cara que não vale a pena, que nunca valeu, mas eu não me arrependo, como você pode ver, serviu de aprendizado -joguei uma piscadela para ele e me levantei indo em direção a porta e a abrindo- Agora por favor, saia da minha sala, da minha loja e da minha vida também,  porque da cabeça você já saiu faz tempo.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora