Capítulo 86

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Th narrando

Eu não sabia se acreditava naquele papo de que Anitta já estava melhor, até porque uma intoxicação alimentar não some de uma hora pra outra, por isso deixei João a postos para qualquer coisa que minha morena pudesse precisar já que ela se recusou a vir para minha casa essa noite.

Respirei fundo tentando não me preocupar tanto.
Se houvesse algo demais ela me falaria ne?

Tirei a camisa a fim de ir tomar um banho e ouvi a notificação do celular.

Não se preocupe comigo, estou bem!
Amo você loirinho dos olhos mais lindos que já tive o prazer de me perder.

Anitta parecia ler meus pensamentos.
Sorri com a ideia, se pudesse ler meus pensamentos mais cretinos talvez desistisse de mim.

Me sinto levemente mais aliviado, você costuma ser uma péssima mentirosa, acho isso um ponto muito positivo. Não exite em me chamar caso não se sinta bem.
Amo você morena.

Enviei a mensagem e soltei o celular terminando de me despir e indo para o banheiro.

A noite tinha sido um inferno. Se fosse contabilizar os momentos em que consegui pregar o olho não daria nem duas horas. Minha cabeça andava muito acelerada esses dias e o pior, ou melhor, é que não havia nada demais acontecendo.
Pra quem tem o costume de estar sempre em apuros ou salvando os outros de apuros eu até que estava bem tranquilo -nesse quesito- nas últimas semanas.

Levantei antes das seis, sabia bem que não adiantaria de nada ficar na cama moscando. O sono viria em algum momento e eu teria de lidar com isso.

Resgatei meu celular querendo notícias da dona dos olhos castanhos mais penetrantes que já conheci, mandei mensagem e esperei alguns minutos, mas nada. Conclui que ela ainda estava dormindo, então contactei João que me confirmou o fato.

Alcancei a varanda e observei um pouco a movimentação na rua, logo que o sol nasceu os passos frenéticas tomaram conta das calçadas e os pneus das avenidas. Decidi correr, fazia um tempo que eu tinha abandonado tal hábito por estar comumente sempre ocupado.

Recebi notícias de Anitta quase às onze da manhã quando a mesma resolveu dar o ar da graça me ligando.

- Então a senhorita dormiu até essa hora?
- Sim, acho que o dia de ontem me cansou afinal... -ela estava mentindo, era nítido pra qualquer um.. ou pelo menos pra mim-
- O que há de errado Anitta? Achei que havíamos concordado em não escondermos coisas um do outro -parei de andar e me concentrei na resposta que vinha a seguir-
- Hmm.. bem -fez uma pausa e eu tenho certeza que uma careta também- Eu acordei às sete
- E por que estava me escondendo uma coisa tão boba? Passou mal de novo? Está tudo bem?
- Não, não passei mal, foi só hábito de acordar cedo e eu não estava muito disposta, me desculpe
- Não tem que se desculpar por isso, de qualquer forma era só dizer -avisei voltando a andar- Ficou deitada durante esse tempo?
- Estive fazendo algumas coisas na casa e você?
- Eu corri alguns quarteirões mais cedo
- Uh, isso é bom, fazia algum tempo, não?
- Sim, fazia um tempinho bom. Vem almoçar comigo hoje?
- Não da, disse a minha mãe que passaria um tempo com ela. Dona Jô ficou preocupada com meu estado anterior
- Não é pra menos -afirmei- Bom, se não almoça comigo, dorme comigo, te pego hoje a noite
- Eu tenho escolha? -perguntou em tom brincalhão-
- Está querendo se livrar de mim? -entrei na sua onda-
- Bom.. jamais iria pensar em algo do tipo
- Sendo assim, o que quer jantar hoje?
- É uma boa pergunta
- Você não costuma ser muito indecisa -analisei seu ponderamento-
- Bom, pode acontecer com todo mundo.. Ian está exigindo minha atenção, nos falamos mais tarde?
- Claro que sim, se decidir o que quer comer me avise, se cuide
- Cuidarei até estar contigo, aí você se vira e cuida
- Com todo prazer -sorri-
- Até mais tarde loirinho
- Até

Soltei o celular ainda sorrindo. Essa mulher não precisava de absolutamente nada pra acabar comigo.

Saí de casa pra almoçar e em seguida ir trabalhar. Peguei um caso de vigilância complexo e tive um problema na mansão dos Bittencourt.

- Uma falha de segurança dessa extensão é inadmissível no meu posto Roberto -avisei puto- Eu te deixei encarregado porque te julguei capaz de controlar isso então me diga, onde foi que me enganei? -encostei na mesa e cruzei os braços em sua direção esperando uma resposta cabível-

- Eu não sei o que aconteceu Th, eu tinha acabado de corrigir as bases

Respirei fundo

- Ótimo, você não sabe o que aconteceu -passei as mãos na cabeça frustrado- Vá até a sala de JP e reúna todas as imagens de todas as câmeras da mansão que conseguir, nós vamos resolver essa merda hoje -ele apenas concordou com a cabeça e saiu-

Soltei o ar pesado dos pulmões. Eu não podia dar esse tipo de prejuízo pra um cliente, eu tinha uma palavra, e era a de que eu não falharia na segurança de ninguém.
Aí me chega um arrombado e invade a mansão atrás de um pendrive com informações privilegiadas. Eu não permitiria que algo assim passasse em branco, não mesmo.

Passei a tarde reunindo tudo que podia pra achar o cara até que chegamos nele.

- Alfred Boavista -pronunciei seu nome enquanto jogava a pasta com suas informações na mesa entre nós- Sabe o que é engraçado?

Ele permaneceu calado me olhando

- Você entrou lá como o mordomo, ficou atento a todos os hábitos da família, bem como da minha equipe que, apesar de mudar sempre as posições e a própria escolta, ainda não conseguiu desviar seu foco, pra no fim estar aqui
- Não quer dizer que conseguiu o que foi buscar atrás de mim -sorriu provocativo-
- Você quer dizer isso? -alcancei o pendrive no meu bolso e o mostrei constatando sua cara de surpresa-
- Isso é impossível, não tem como ele estar nas suas mãos
- Eu não faço serviço pela metade Alfred, já deveria saber ao se meter com minha equipe e burlar minha segurança -falei sério- Sabe.. eu cuidaria de você pessoalmente, mas tenho compromisso marcado e além disso, tenho que devolver isso aqui ao dono, não é mesmo?

Saí o deixando lá e fazendo gesto para que o próprio Roberto cuidasse dele. Ninguém ia matar ninguém, mas iam dar uma prensa nele para conseguirem informações, sobre qualquer coisa ou qualquer um. Quanto mais informações tivéssemos sobre tudo, melhor seria para nós. Era assim que se resolvia problemas estando no nosso contexto, criando vínculos a partir de chantagens ou ameaças. Os caras com quem eu mexia não eram nem um pouco ingênuos, muito menos santos, quem dera eu.

Saí da base a fim de ir entregar o pendrive na mão do dono e remanejar a segurança da mansão, para depois ir tomar um banho e pegar minha mulher.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora