Capítulo 17

876 103 0
                                    

Anitta narrando

Depois de mais ou menos uma hora e meia, eu me encontrava deitada de barriga para baixo na cama enquanto encarava a tela do notebook.

Minha idéia era a seguinte, eu invadiria o sistema sem ser percebida e depois que conseguisse acessar as opções atuaria como um dos integrantes do clube para que ninguém descobrisse.

Quando eu ia apertar o "ok" meu celular tocou me dando um pequeno susto.

- Boa noite mãezinha -disse sorrindo-
- Boa noite minha menina, você sumiu durante o dia, não deu sinal de vida nem por mensagem, tudo bem?
- Ah, sim. Eu estive ocupada com alguns desenhos novos e nem vi as horas passarem, me desculpe.
- Tudo bem Anitta, é por um bom caso -senti ela sorrindo e me senti culpada por mentir-
- Como vocês estão?
- Ah, estamos todos bem e você querida?
- Bem -sorri- Johnny esteve aqui hoje, se mostrou bastante prestativo -disse me lembrando dele-
- Ele sempre é -senti ela sorrir do outro lado- É um cara muito bacana Anitta -disse como se estivesse me apresentando um pretendente-
- Eu sei mãe, bom, eu estou um pouco cansada, nos falamos amanhã?
- Sim, claro meu amor
- Mande um beijo à todos e um bem grande para a senhora -sorri- Eu amo vocês
- E nós amamos você, um beijo.

Joguei o celular em cima da cama e fui tomar um banho quente.
Após alguns bons minutos debaixo d'água me vesti e sentei na beirada da cama enquanto penteava o cabelo.
Vi uma sombra por debaixo da porta e me levantei indo até a mesma.

- Olá -disse assim que abri a porta e o homem prostado ali me encarou se afastando um pouco-
- Senhorita -me cumprimentou formalmente-
- Vai ficar colado na minha porta assim? -perguntei meio indecisa sobre que palavras usar para não soar grosseira-
Ele raspou a garganta meio sem jeito e após passar a mão no cabelo quase imperceptível de tão baixinho, me respondeu
- Eu tenho que fazer sua escolta, devo ficar a prontidão aqui mesmo caso algo aconteça
- Ta bem, mas será que você pode ficar dai de frente pra porta e não literalmente colado nela? -ele me olhou tentando entender- É que a sua sombra debaixo da porta me da a impressão de que tem algo de errado, desculpe -disse sem jeito e ele riu-
- Tudo bem -sorriu e eu agradeci fechando a porta-

Engraçado, a escolta era de Th mas suas posturas eram diferentes. Quer dizer, Th nunca me respondia, me ignorava frequentemente e pra tirar um sorriso dele demorou tempo o suficiente pra que eu pudesse surtar umas mil vezes, enquanto isso o infeliz sorria para meus pais todos os dias com a maior facilidade do mundo, era só pra me provocar, e ele conseguia com maestria.

Ouvi um pequeno barulho na janela e me peguei por meros segundos pensando no pior. O barulho se repetiu e eu fui até o quadriculado ver do que se tratava, olhei para baixo e num relance vi Johnny jogando pequenas pedrinhas para cima, me desviei de uma que provavelmente acertaria a minha testa e voltei a olhar para o indivíduo posto la em baixo com um sorriso de orelha a orelha. Ele se divertiu com meu quase desgraçamento com um pedrinha, xinguei ele mentalmente e por fim ri também.

- O que faz aqui? -tentei falar o mais baixo que pude mas de forma que ele pudesse ouvir-
Ao invés de me lançar uma resposta, ele levantou uma sacola e tirou de dentro dela alguns filmes me mostrando.
Ri da sua invenção e com um gesto o chamei para subir pela escada que tinha ali do lado.
Antes que ele chegasse, peguei meu notebook e coloquei dentro do guarda roupa, eu veria isso amanhã.

- Olá pra você também -Johnny se pronunciou assim que adentrou o quarto com dificuldade pela janela-
- Olá John, não acha meio perigoso invadir o quarto de quem tem um escolta na casa toda para si? -perguntei zombeteira e ele riu-
- Bom, eu estou aqui e estou vivo -abriu os braços como se mostrasse o óbvio- Pode escolher que filme vamos assistir -ele disse se sentando na minha cama-
- Mas você está muito folgado mesmo hein
- Cara Anitta, eu trouxe doces, se não escolher o filme, eu comerei tudo sozinho
- Você é um chantagista -disse e ouvi ele rir-

Escolhi o filme e me joguei na cama. Agradeci mentalmente pelas paredes, portas e tudo que pudesse transmitir barulhos ali fossem a prova de sons.

Antes que o filme começasse eu arrumei a temperatura do ar e peguei duas cobertas caso Johnny quisesse se embrulhar enquanto o filme passava.

Retornei a me sentar na cama e voltei toda minha atenção para o filme que estava para começar.
John abriu alguns pacotinhos de doces e eu ri do seu embaraço para não derrubar tudo. Ele apenas me lançou um sorriso de lado e olhou para a tv.

Normalmente eu não ligava muito para os gêneros dos filmes e nem sentia nada em relação à eles, mas um filme em que a protagonista principal é deficiente alditiva e um psicopata fica brincando de gato e rato com ela realmente me deixou um pouco agoniada. Me concentrei por pequenos instantes no Johnny, e logo o vi se virar pra mim e sorrir.

Está com medo? -ele perguntou sem tirar o sorriso do rosto-
- Não, um pouco agoniada apenas -sorri ouvindo sua risada baixa-
- Quer trocar de filme?
- Não, eu vou assistir e... -fui interrompida-
- Sabe que não precisa ne?
- Sim, eu sei, mas quero
- Tudo bem então, vem ca -me puxou para perto de si e me fez encostar em seu corpo enquanto seu braço, que passara por detrás do meu pescoço, estava na lateral do meu corpo, como quando um passarinho protege seus filhos dentro de suas asas-

Fazia algum tempo que eu nem tinha contato com ele e de repente, tarde da noite aqui estou eu, aconchegada dentro de seu braço e assistindo um filme que eu mesma escolhi.

Por um breve momento me veio na cabeça dúvidas que me deixaram com a consciência pesada: por que eu não me apaixonei por um cara como o Johnny?
Por que ao invés disso eu me apaixonei por alguém totalmente diferente e tão cheio de problemas?
Eu não sabia a resposta pra nada disso, mas com certeza foi algo que passou a me perturbar.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora