Caprichos do coração

Capítulo 4

Th narrando

Que diabos significava "Eu não posso fazer isso" ?
Anitta me deixou plantado no meio da cozinha feito uma besta tentando entender o que tinha acontecido ali.
Seu cheiro havia ficado em minha camisa e talvez ela tenha deixado o desejo todo para mim também, porque a vontade de te-la parecia aumentar cada vez mais.
Após empurrar meu corpo nos afastando proferiu uma frase da qual até agora eu tentava assimilar e saiu em passos apressados, assim como todas as vezes que ela me provocava e eu a prendia próxima ao meu corpo.
Eu acabara de levar um grande pé na bunda, era isso mesmo?
Sim, eu estava perplexo porque em toda a minha vida eu nunca tinha levado uma dispensada, e quando levo é justo dessa criatura que fica roubando a cena toda vez que tento me focar em outras coisas.

- Que foi mariquinha? Não consegue nem beber mais é? -Ian perguntou entrando na cozinha e me tirando do devaneio profundo ao qual eu tinha entrado sem nem perceber- Acho que você está sofrendo de amor -riu debochado- Thomas, olha essa cara -disse para o irmão que agora se encontrava na porta enquanto apontava o dedo para mim-
- Com certeza -Thomas sorriu-
- Eu não estou sofrendo de amor, deixa de paranóia vocês dois.
- Então está fazendo o que aqui sozinho olhando pras paredes com essa cara de não to sabendo lidar?
- Só vim beber água, é crime agora? -perguntei e eles riram-
- Relaxa TH, se for amor o Ian pode te ensinar uns truques -Thomas disse dando uma piscadela-
- Ian pode ensinar truques sobre o que? -Cherry adentrou a cozinha abraçando Ian pelo pescoço-
- Não é nada, eles estão cismados de que eu estou sofrendo de amor -Cherry riu -até que enfim alguém que também acha isso uma piada.
- É claro que você não está sofrendo de amor, que idéia -Cher disse sorrindo-

Certo, ela estava me encubrindo, isso quer dizer que, ou ela viu eu e Anitta ou Anitta contou para ela.
Estreitei os olhos para ela que deu de ombros e voltou a sorrir.
Ela sabia do que tinha acontecido ali e no entanto não contou para ninguém, ao invés disso estava me acobertando.
Eu percebia isso pela sua forma de falar, seus gestos. Se tinha uma coisa da qual eu normalmente era bom, era perceber quando as pessoas mentiam.
E Cherry estava mentindo. Seus olhos azuis me observavam minunciosamente como se procurasse por algum resquício de descontrole e eu comecei a me sentir incomodado.

- Vamos pra sala minhas princesinhas -Ian chamou zombeteiro e saiu da cozinha puxando Cherry e me causando um alívio instantâneo-
- Eu conheço esse perfume -Thomas falou assim que comecei a andar, me fazendo parar para analisa-lo - E espero que você não tenha tocado um dedo em Anitta, sua função é protegê-la TH, não criar um romance. Preciso da minha família o mais segura possível e ficar com a minha irmã  não é bem a definição de segurança que eu tenho em mente -disse sereno e saiu me dando dois tapinhas no ombro-

Thomas sempre direto, não preciso dizer que eu fiquei parado ali por alguns bons minutos.
Eu não tinha medo deles, a única coisa que me incomodava era exatamente a lata que Thomas chutou. O trabalho, minha função era protegê-la e só. Quer romance? Compra um livro. Essa era a definição do que eu podia com Anitta. Eu não me envolveria com ela pois além de tudo, ela era minha protegida, minha obrigação e não podia passar disso.

Respirei fundo soltando o ar logo em seguida com a falha intenção de tira-la da minha cabeça, mas seu perfume novamente invadiu minhas narinas e automaticamente cerrei os punhos.
Quando foi que comecei a perder o controle do meu próprio corpo?
Bem, eu não sabia a resposta, mas de uma coisa eu sabia, dane-se o controle, eu faria o que eu sabia que era certo.

Sai da cozinha e ao chegar na sala Thomas me lançou um olhar como quem confere a situação física de outra pessoa, sorri cínico pra ele e o mesmo desviou o olhar.

- O que está havendo? -ouvi a voz de Cherry perto de mim e me virei para vê-la-
- O quê?
- Você e o Thomas, tem algo de errado e eu acho que já até sei o que é -sorriu zombeteira-
- Porque me acobertou? -perguntei sério a encarando-
- Eu gosto de Anitta
- E acha que isso faria bem pra ela? -estreitei os olhos já sabendo a resposta-
- Se quer que eu diga que não eu sinto em lhe decepcionar. Anitta precisa de alguém como você, firme, pés no chão, que sabe o que quer e é maduro. Ela só não tem a coragem suficiente pra apostar em algo que vá contra os quesitos dos irmãos Fell.
- Esse alguém não vai ser eu Cherry, o que aconteceu na cozinha foi um erro e não vai se repetir -voltei a olhar ao redor da sala-
- Erros acontecem por acaso TH, e isso definitivamente não foi um erro. Eu vi bem quando você a atacou. Mas tudo bem, se não for ser você esse alguém, ela pode encontrar outra pessoa, afinal de contas além de linda ela é incrível ne -disse piscando e saiu andando como se não tivesse jogado essa bomba nas minhas mãos-

Maldição dos infernos. Em que buraco eu estava me metendo afinal de contas?

Após meia hora me despedi de todos inclusive de Thomas o deixando tranquilo quanto a aproximação que "não existia" entre eu e Anitta.

Foram minhas palavras e eu fiz questão de interpretar muito bem o papel de quem não tem intenção nenhuma com sua irmã, mas eu só enganava aos outros com esse papo furado, afinal, meu amigo ali de baixo me dizia outra coisa.