Capítulo 81

687 83 4
                                    

Th narrando

Depois de todo caos Ane decidiu que queria falar com Marcelo.
A princípio eu relutei com a ideia, mas não podia a impedir de fazer isso, eu não mandava nela.

- Vamos lá loirinho -disse tentando me convencer a compactuar com aquilo- É só uma conversa, eu preciso dizer a ele que me lembro do que aconteceu e que o quero longe
- Ele não é confiável, não gosto que fique perto dele, quanto mais só vocês dois -Anitta respirou fundo derrotada- Vai lá, eu só não gosto da ideia, mas não posso fazer nada a respeito -anunciei escorando na parede e senti seus olhos em mim-
- Vem comigo -pegou em minha mão fazendo menção de andar e eu a parei-
- Não acho que seja uma boa ideia
- Thiago o que há de errado? Nada parece uma boa ideia -exasperou e eu ri de sua falta de controle- Por que está rindo agora? Como você é bipolar, eu hein -soltou minha mão bufando e se encostou na parede ao meu lado-
- Eu só não quero ter que olhar para a cara patética dele, porque se ele falar um "a" eu vou quebra-lo ao meio -anunciei chamando sua atenção- Deixe este porra lá, vamos fingir que ele não existe
- Sabe que não é assim que funciona
- Funciona como a gente quiser morena -proferi me virando e ficando de frente pra ela, perto demais-

Pude ver sua respiração ficar entrecortada e quando eu ia avançar o sinal para beijá-la um dos médicos me atrapalhou raspando a garganta.

Soltei o ar frustrado por ter sido interrompido, mas voltei dois passos para trás me distanciando de Anitta e me virei para a figura materializada ao nosso lado.

- Desculpe atrapalhar, só vim ver como a paciente está
- Bem -a morena se pronunciou de forma baixa, mas audível-
- É possível que as lembranças voltem sem que você perceba, de forma que você vai se dando conta aos poucos. As dores de cabeça é um efeito colateral que indica que tem algo de errado acontecendo e sabemos que a perda de memória não é comum, portanto não se preocupe se a dor retornar a aparecer -Ane concordou com a cabeça- Se achar que está muito ruim, compre este remédio -escreveu na folha e a entregou- E logo tudo estará bem de novo -sorriu-
- Muito obrigada
- De nada, tenham um bom dia -acenei com a cabeça para ele que saiu-

- Podemos ir agora? -perguntei e Ane concordou com a cabeça se virando para andar-
- Eu ainda quero falar com Marcelo -avisou-
- Tô vendo que não vou me livrar dessa
- Não, não vai -afirmou dando de ombros-

Eu sabia que o indivíduo permanecia na porta esperando por Anitta, já que a escolta impediu a passagem dele.

Assim que alcançamos a passagem ele se virou para Ane sorrindo.

- Que bom que está bem -ela recuou um passo com a aproximação dele e eu segurei para não rir da sua cara de confuso- O que houve?
- Eu me lembrei -ela não hesitou em falar- Me lembrei da nossa última conversa antes de você reaparecer.

Marcelo a encarava estático e eu apenas observava a cena sem sibilar uma sequer palavra.

- Por que não foi sincero comigo? -Ane continuou- Qual o problema em falar a verdade?
- Anitta não é como você pensa, eu achei que... -a morena o interrompeu-
- Achou que teria chance comigo por eu não me lembrar do que tinha acontecido. Eu não acredito que em algum momento da minha vida fui capaz de me envolver com você -disse e eu senti o peso de suas palavras mesmo que não fosse para mim-
- As coisas eram diferentes naquela época, a gente se amava
- Mas não se ama mais -disparou- Eu não quero te ver, não quero contato com você. As coisas poderiam ter acabado de maneira diferente, mas você optou por ser um idiota. Típico -balançou a cabeça de modo sarcástico-
- Me desculpe -pediu mais baixo olhando Ane-

A morena respirou fundo e cruzou os braços voltando o olhar para ele.

- Eu até desculpo Marcelo, porque não quero guardar pra mim nenhum sentimento ruim sabe? Mas isso não muda absolutamente nada entre nós. Espero que tenha entendido dessa vez.

Então as íris castanhas se voltaram para mim

- Podemos ir agora -avisou e eu me limitei a concordar com a cabeça e seguir seus passos para o estacionamento-

- Você tem tudo sob controle -pronunciei prestes a abrir a porta do carro-

Anitta parou do outro lado do carro e apoiou os braços no mesmo me olhando

- Uma hora ou outra eu tenho que ajeitar minha vida não é mesmo? -sorri- Como coisas tão loucas assim podem acontecer com uma pessoa só?  Você tem histórias loucas assim?
- Não -afirmei e ela estreitou os olhos para mim- Minhas histórias são normais
- Você é muito fechado
- Você me conhece bem
- Eu não me lembro de tudo Thiago -revirou os olhos-
- E do que se lembra? -indaguei curioso-

Ane permaneceu em silêncio por alguns segundos como se tentasse lembrar dos momentos anteriores e eu esperei. Seus olhos me atingiram de novo antes que ela pudesse falar e eu conhecia aquele olhar, mesmo que ela tentasse disfarçar.

- Nada demais eu acho -deu de ombros desconversando e ia rumo a porta do carro-
- Ei -passei rapidamente para o seu lado do carro e segurei a porta prendendo seu corpo entre o automóvel e meu corpo-

Os olhos escuros dela me fitavam intensamente enquanto seu peito subia e descia numa respiração acelerada

- Do que se lembrou e não quer me falar? -estreitei rapidamente meus olhos pra ela que permaneceu calada-

- Não é como se você não soubesse -se pronunciou um pouco depois- É uma lembrança de nós dois
- Mas eu quero saber que lembrança é -disse sem tirar os olhos dos dela e me aproximando ainda mais-

Rocei meus lábios nos dela e a vi prender o ar por segundos

- Th -murmurou contra minha boca, mas não moveu um músculo-
- Qual foi a lembrança Ane?

Eu sabia que fora de algum momento indecente de nós dois, o nervosismo dela não escondia esse fato, só era difícil saber de qual momento era.

Ela não me respondeu, posicionou suas mãos na minha nuca e me puxou para um beijo urgente.
Minhas mãos apertaram sua cintura e senti uma de suas mãos descer pelo meu peitoral, a segurei quando estava quase na barra de minha camiseta.
Encerrei o beijo com selinhos e aproximei minha boca de seu ouvido.

- Ainda não me contou qual foi a lembrança

Anitta se remexeu entre meus braços e eu sorri sabendo o efeito que aquilo causava nela. Voltei a olhá-la.

- Foi na loja, se me lembro bem -se pronunciou-
- Aconteceram muitas coisas na loja -joguei os ombros um pouco pra trás como quem pede mais informação-
- Transamos várias vezes na loja? -ela foi rápida para me responder, como se fosse os 20 segundos de coragem-
- Não -sorri vitorioso- Mas se quiser podem...
- Cala a boca -me deu um empurrão leve e eu ri-

Suas bochechas estavam levemente avermelhadas e isso me fez sorrir mais. Anitta não era atirada, mas também não era cheia de pudor. Sempre soube o que queria e quando queria. Sempre direta e certeira.

- Você vai pro meu apartamento -avisei contornando o carro-

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora