Capítulo 30

836 96 9
                                    

Th narrando

- Precisamos conversar sobre o porquê entrou na sala proibida do terceiro andar -Antônio entrou na sala onde eu me encontrava acompanhado de George o dedo duro-
- Eu disse uma vez que não confiaria minha vida ou meu trabalho a uma agência que me esconde algo -disse rodando a cadeira em que eu estava para o olhar- Sabe o que é engraçado? O que eu achei la dentro -levantei um envelope e joguei em cima da mesa-
- Saia George -Antônio mandou e vi o dedo duro sair e fechar a porta atrás de si-
- Por que guardam coisas do meu pai nessa sala?
- Seu pai foi um grande homem e fez muito por todos nós
- Mas não parece ter sido o suficiente pra você não é mesmo?
- O que está insinuando?
- Me diga Antônio, como foi encarar a morte do meu pai entre os outros agentes?
- Eu não tive culpa -afirmou me olhando-
- Então senta e esclarece pra mim o que exatamente é não ter culpa depois desse vídeo

Espelhei a gravação da câmera que pegou Antônio atirando em meu pai e o mesmo caindo no chão.

- Como teve acesso a isso? -Antônio indagou depois de assistir seu próprio ato-
- É uma pergunta interessante, não se importaria se eu tivesse mexido nas suas coisas ne?
- Você não tem o direito
- É VOCÊ QUEM NÃO TEM O DIREITO -gritei me levantando e batendo as mãos na mesa- Como pôde ser tão covarde? Você ia na minha casa se passando de bom amigo do meu pai, a gente já foi pescar junto como se você fosse um tio pra mim, alguém que eu considerava -olhei para o lado negando com a cabeça como se mais uma vez eu não pudesse acreditar- Como conseguiu? -voltei a encara-lo-
- Thiago -falou sereno-
- ME RESPONDE
- ELES AMEAÇARAM TE MATAR -se exaltou e depois pareceu arrependido de ter abrido a boca-

Eu o olhei incrédulo enquanto tentava assimilar o que ele acabara de dizer, busquei algum resquício de que aquilo pudesse ser mentira no rosto de Antônio mas eu só via um cara arrependido.

- O que você disse? -sentei e perguntei ainda tentando digerir-
- Eu não deveria ter contado, não era pra você ter entrado naquela sala
- Mas eu entrei, e me deparei com inúmeras coisas do meu pai e até mesmo minhas. As lembranças me atingiram na boca do estômago e eu me pergunto por que fazem isso? Eu já vi vocês entrarem naquela sala, o que fazem lá?
- Nós vamos lá sempre que tem algo que possa estar relacionado às pesquisas e relatórios já feitos pelo seu pai
- Você já foi sozinho -afirmei me lembrando das vezes que o vi entrar e sair horas depois da sala cautelosamente-
- Eu não atirei no seu pai porque eu quis. Ele era sim meu melhor amigo e você foi como um filho pra mim. Estávamos em uma missão perigosa e quando conseguimos alcançar resultados bons os caras te encontraram. Você não tinha nada a ver com toda a bagunça e mesmo assim eles ameaçaram te matar. Mostraram vídeos e fotos do seu dia a dia, estavam prontos para te pegarem a qualquer momento que quisessem, então seu pai fez um acordo.
- Ele deu a vida por mim -concluí engolindo em seco-
- Mas eles queriam mais, eles queriam que alguém da CIA fizesse o serviço. Eu disse para o seu pai que resolveriamos isso e que íamos te proteger, mas os caras estavam tão prontos quanto nós. Não tinha saída, ele me implorou para que pelo menos morresse na mão de um amigo e eu o fiz. É por isso que vou lá, não sabe como é carregar a morte de um irmão nas mãos.
- Por que nunca me contou a verdade?
- Porque não deveria, ia se sentir culpado pela morte de seu pai e não é assim que as coisas são.
- Eu te culpei por anos
- Não tem problema Thiago, eu induzi você a isso, eu carreguei o peso sabendo que aguentava.

Eu o olhei sem saber o que falar.

- Saia daqui -falou sereno- Vá para o seu apartamento, precisa espairecer, volte quando estiver pronto.
- Eu não vou voltar
- É uma pena, você seria um ótimo agente. Saiba que as portas da CIA sempre estarão abertas pra você. Agora vá -disse apontando com a cabeça para a porta-

Me levantei sem ter muito o que fazer e saí andando devagar. Eu já havia passado por muitas coisas na vida, mas nenhuma delas havia me abalado tanto quanto essa.
Meu pai era tudo que eu tinha, era minha base e de repente é assassinado, eu prometi ir atrás de vingança por ele e anos depois descubro que ele morreu para me salvar. Tudo que eu acreditava ser real acabara de desmoronar sobre minha cabeça e eu não sabia o que fazer.

Subi na moto sem rumo e acabei em uma boate. Pode parecer a coisa mais idiota do mundo... na verdade, talvez seja a coisa mais idiota do mundo. Mas eu precisava beber, beber até não lembrar como consegui chegar aqui e era isso que eu faria.

- Me vê um Bourbon -disse me sentando na frente do bar-

Em algum ponto da noite eu já nem sabia quantas doses dessa havia bebido, o som estava alto, a aglomeração de pessoas um pouco sufocante, foi quando levantei a fim de sair daquele lugar.
Trombei em algumas pessoas no meio do caminho e senti um cheiro conhecido, eu não estava lá em sã consciência para definir de quem era o perfume e por issi resolvi seguir,mas quando dei o primeiro passo trombei com alguém.

- Que saco, será que todo mundo vai fazer isso hoje? -olhei para a mesma focando bem em seu rosto e me praguejei por ir atrás do perfume-
- Th -Anitta disse assim que decidiu olhar para o indivíduo que topou com ela-
- Me desculpe, eu... eu já estava indo embora -parecia ter recobrado a consciência e me preparei para virar quando ouvi novamente sua voz-
- Talvez você esteja perdido, é o banheiro feminino -olhei bem para o seu rosto-
- Está debochando de mim? -perguntei meio lento para assimilar qualquer ideia-
- Meu Deus, você está muito bêbado -abriu a boca em surpresa-
- Eu preciso ir
- Está com alguém?
- O que?
- Está com alguém Th? Para te levar?
- Eu não preciso de ninguém pra me levar
- Ah, sério? Não é o que parece

Permaneci calado por alguns segundos e vi ela revirar os olhos.

- Venha -me puxou pelo braço e saiu andando-
- Vai me levar para casa?
- Não, vou te colocar em um carro e alguém da escolta vai
- Mas eu quero que você vá comigo

Anitta parou e me olhou por um instante

- Não pode me pedir isso
- Eu preciso de você
- E pra quê Th? Olha o seu estado, você precisa mesmo é de um banho gelado e umas boas horas de sono
- Não, eu preciso de você Ane -disse da forma mais firme e séria que eu conseguia no momento com a mão em seu rosto-
- Certo -ela pareceu ficar um pouco desconcertada- Vamos sair daqui ta bem?

Me limitei a concordar com a cabeça e ser guiado por ela para fora dali.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora