Capítulo 74

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Th narrando

- Ok -disse separando os lábios dos meus- Vamos devagar -concluiu respirando fundo e me olhando-
- No seu tempo -completei gesticulando com as mãos como se me rendesse e ela me observou- O que foi?
- Tem coragem
- Pra alguém na minha área, isso é quase uma regra
- Ainda é meu segurança? -indagou curiosa e eu já sabia que vinha uma série de perguntas-
- Não. Você não queria que eu fosse seu segurança e também seu namorado. Dizia que quando fosse sair para algum lugar me queria do seu lado como namorado, não no meio da escolta -ela sorriu-
- Eu dava muito trabalho? -fez careta com a possibilidade do sim-
- Não, não por agora. O único problema é que você tinha uma tendência absurda a fugir da escolta -ela gargalhou- E acredite em mim quando digo que você conseguia driblar eles. Sempre muito perspicaz
- Ao que parece meus irmãos confiam mesmo em você -admitiu se virando e sentando na ponta da cama-
- Nós nos conhecemos a muito tempo, querendo ou não confiamos uns nos outros apesar de nem sempre concordarmos

- Como foi? -perguntou depois de alguns minutos em silêncio-
- O que? -estreitei os olhos para ela e me aproximei sentando na sua frente-
- Que isso começou? -apontou para mim e para ela-
- É difícil especificar bem quando começou
- Então me conte tudo -encostou na cabeceira me olhando de forma curiosa-
- Certo.. hmm -tentei organizar as palavras na mente- Fui eu que me apaixonei primeiro -admiti a olhando- Foi alguns anos atrás, você estava em uma fase um pouco rebelde e seus irmãos decidiram que eu deveria fazer sua segurança. Te dei algumas lições de moral, te vi mudar de pensamento, te vi amadurecer ideias, te vi voltar a dar valor nas coisas boas que tinha e acabei te observando mais do que deveria. Eu gostava de como eu tinha acompanhado tantas mudanças na sua vida, gostava de me sentir perto das suas escolhes e etc. Foi quando dei por mim do que estava acontecendo. Mas você sequer dava sinais de que sentia algo então eu permaneci calado sabendo que perderia essa luta. E foi assim por muito tempo até você começar a me provocar, me tirava do sério intencionalmente e sempre arrumava um jeito de me fazer quase surtar -ela sorriu-
- Eu não acredito nisso -falou brincalhona e eu ri pensando que se ela se lembrasse saberia bem-
- Foi daí que surgiu o "Ane". Normalmente eu o reproduzia quando estava a um fio de paciência ou auto controle contigo, mas acabou sendo um apelido para todas as horas -ela me observou-
- Eu gosto dele -assumiu num tom mais baixo e eu sorri-
- Bom, provocação vai, provocação vem, numa noite estávamos reunidos la na sala jogando conversa fora -parei me lembrando- Seus pais, suas cunhadas e sobrinhas, filhas de Thomas porque o casal de Ian não tinham nascido ainda, seus irmãos, você e eu. Eu conversava com seu pai no canto da sala, mas estava sempre atento a qualquer movimento seu. Eu vi você analisar rapidamente todos na sala e sorrir e então me olhou, acho que fez um check up -ela gargalhou- Aí se levantou e foi para a cozinha. Não tinha mais o que fazer, eu já havia me convencido de que ia atrás de você
- Sem ao menos saber se eu sentia algo?
- Eu fui só pela intuição mesmo. Eu observava você Ane, a forma como me tirava do sério propositalmente, como me olhava, como apressava os passos sempre que eu chegava muito perto, aquilo não podia ser coincidência ou só coisa da minha cabeça
- É -deu de ombros concordando-
- Cheguei na cozinha e você estava virada de costas para a porta, tinha ido beber água. Foi a primeira vez que te beijei, sem me importar com o fato de que qualquer um podia entrar na cozinha e ver a cena, mas você se importou
- Não vai me dizer que..
- Você me empurrou -ela me olhou quase incrédula e riu- Não, antes você me devolveu o beijo -eu ri lembrando- Foi até bom você me empurrar
- Bom? Como isso pode ser bom
- Foi bom porque evitou que eu perdesse mais a linha -ela me olhou confusa- Quando me empurrou dizendo que não podia fazer aquilo você já estava sentada em cim da bancada Ane -esclareci e ela abriu a boca em surpresa me fazendo rir-
- Caramba -pareceu sem palavras para descrever e eu dei de ombros expressando que aquilo era normal entre a gente-
- Depois desse episódio as coisas ficaram um pouco estranhas. Eu estava confuso com o que você tinha dito e estava ainda mais confuso com a ideia de que eu não podia quebrar uma regra que eu mesmo tinha ajudado a criar ficando com você.
- Eu te evitava ou vice versa?
- Não tinha como eu te evitar mesmo que quisesse, era eu quem batia na sua porta antes das sete da manhã para te acompanhar até a loja, era eu que ficava lá e checava tudo, eu sempre estava com você.
- Nossa, mas então como a gente resolveu?
- No dia seguinte eu fui falar com você sobre o que tinha acontecido e você nem me deu a chance de falar, me cortou e disse um monte de coisas. Quando chegamos na sua loja eu fui atrás de você na sua sala tentar explicar, mas as coisas sairam um pouco de controle... -pronunciei sem saber exatamente como falar que havíamos quase transado na sala dela-
- A gente não transou ne? -ela me pegou de supetão-
- Não -vi ela respirar de novo- Quase -completei e seus olhos voltaram pra mim- Você me deixou na corda bamba, saí de lá putasso da vida. E foi desse jeito que aos poucos a gente foi entrando num "acordo" e se acertou.
- Você disse que me deixou pra resolver assuntos pessoais, eu sabia do que se tratava?
- Sim, eu havia te contado. Precisava resolver uma história com a CIA e pra isso eu não poderia ficar com você ou te colocaria em risco
- Não que ser eu e fazer parte da família Fell já não me coloque em risco -ela frisou-
- Mas era diferente. Esse tipo de risco todos nós estamos sujeitos, mas aquele tipo não. Eu ia mexer com gente perigosa e esse tipo de gente sabe exatamente em que ferida tocar. Você era meu ponto fraco Ane, não demoraria para que eles descobrissem e fossem atrás de você pra me atingir. Eu não podia permitir isso.
- Fez para o meu bem -concluiu murmurando- Eu queria me lembrar -seus olhos castanhos intensos pousaram sobre os meus- Acha que tem probabilidade de que aconteça?
- É incerto dizer -assumi me aproximando dela e acariciando seu rosto- Mas se tiver algo que eu possa fazer para ajudar, pode contar comigo -ela respirou fundo e segurou a mão que eu havia colocado em seu rosto apertando de leve- Vem ca -a puxei para um abraço-

Anitta não se demorou dentro dos meus braços, eu entendia.

- Quer que eu vá embora? -indaguei e seus olhos alcançaram os meus-
- Acho que vou contradizer meu eu de sei lá quando e dizer que quero você como meu segurança -pareceu aflita ao falar-
- Por que?
- Porque assim posso te conhecer melhor -explicou sem tirar os olhos de mim e se levantou indo até o closet-

Anitta retornou para a cama com algumas fotos na mão e voltou a se pronunciar

- Achei algumas fotos nossas -olhou para as imagens em sua mão- Em uma escala de 1 a 100, quanto eu conhecia você? -a encarei por alguns segundos não sabendo definir-
- Eu não imagino o quanto
- Você não parece ser muito aberto -comentou ainda observando as fotos-
- Não sou -confirmei e senti seus olhos me fitarem-
- Como eu soube lidar com você? -eu ri-
- Você sempre soube lidar com qualquer um, mas eu sempre fui mais aberto com você -esclareci e ela sorriu- Uma vez fizemos uma brincadeira de perguntas
- Como funcionava?
- Você fazia uma pergunta e nós dois a respondia e vice versa
- Poderiamos fazer isso qualquer hora
- Quando quiser

Ouvi batidas na porta e Ane se levantou soltando as fotos no criado e indo até a mesma.

Claro que tinha que ser Thomas pra torrar meu saco.

- Tudo bem aqui? -seus olhos passaram de Ane para mim nos analisando-
- Tudo -a morena disse e sorriu- Thiago estava me contando um pouco sobre nós
- Pelo visto não contou que você só o chamava pelo nome quando estava fula da vida com ele -ela se virou me olhando como se perguntasse se aquilo era verdade e eu confirmei com a cabeça-
- Ôh -colocou a mão na boca em surpresa- E como era?
- Th -respondi normalmente-
- Bom, pelo que vejo vocês ainda terão muito tempo para conversar, nossa mãe fez bolo e está nos chamando pra comer -Anitta sorriu-
- Adoro bolo -comentou de forma extrovertida me fazendo rir-
- Deu pra perceber já que desde antes de ontem você só tem comido isso -Thomas fez sua observação e Ane mostrou-lhe a língua de forma brincalhona-
- Não é bem assim, eu como outras coisas também
- Sei, vamos -fez um gesto com a cabeça e abandonou a porta nos deixando no quarto-
- Você gosta de bolo? -ela perguntou voltando a me olhar-
- Sim -sorri-
- Temos algo em comum -disse enquanto eu me levantava e ia rumo a porta-
- Temos muitas coisas em comum -murmurei antes de sair do quarto-
- Tipo o que? -ela me pegou de surpresa, achei que não tivesse escutado-
- Vai descobrir depois
- Não me deixe curiosa Th -lamentou e eu ri de sua encenação-

- Vejo que os pombinhos se acertaram -Ian apareceu no meio do caminho-
- Estamos nos conhecendo -Anitta corrigiu e o Fell me olhou rindo- Quer dizer, eu estou o conhecendo e me conhecendo -tentou corrigir mas a cara de confusão do irmão a fez não tentar uma terceira vez- Ah, bem, é isso -disse e saiu sem esperar por nós-

- Eu disse que confiava em você
- Se não tivesse me falado da atuação de Marcelo eu nem sei em que posição eu estaria na vida de Anitta agora
- Isso é um agradecimento? -perguntou me zoando-
- Vai a merda Fell, não se pode ser grato mais
- Mas a loira está muito irritada hoje -brincou-
- Não, eu estou definitivamente aliviado e feliz -conclui e foi minha vez de sair o deixando-

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora