Capítulo 79

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Jô narrando

Anitta dormia como se fosse uma bela noite de sono, parecia um anjo. Acariciei seu rosto de leve me recordando de tantos momentos passados com ela.

Me lembro de quando era bem pequenina, quase como os meus netos. Andava com pituquinhas dos dois lados da cabeça, sempre com liguinhas coloridas. Se comunicava bastante, sempre foi uma menina muito esperta.

Numa tarde seus pequenos olhos castanhos me observavam fazer um bolo de abacaxi, que sempre fora seu favorito, enquanto cantava alguma música que havia aprendido em um dos cd's que eu sempre colocava para ela ouvir.

- Quem inventou o bolo mamãe? -parou de cantar me indagando-

Eu não tinha a resposta para aquela pergunta, não sabia quem tinha afinal tido a ideia genial de fazer um bolo.
A olhei e disse então que não fazia ideia.

- Um dia, quando eu crescer vou conhecer quem inventou -ela disse parecendo distante-

Eu ri percebendo sua ingenuidade.

- Quer ser uma confeiteira Anitta?
- Não -respondeu como se tivesse toda certeza do mundo sobre o que queria fazer- Quero fazer roupa -afirmou e eu sorri-
- Por que?
- Eu faço roupa pras minhas bonecas e elas ficam lindas -falou de maneira convencida e levantou a barbie em sua mão me mostrando o vestido improvisado que havia feito-
- Você tem toda razão minha filha -confirmei-

Apesar desse episódio, eu não imaginava que Anitta fosse investir no ramo da moda, afinal a família era composta por pessoas da área do direito. Mas isso nunca quis dizer que ela também seguiria esse ramo.
Henry pareceu um pouco desapontado no primeiro momento que descobriu que a filha não queria seguir dentro da empresa do pai, mas em seguida ele entendeu que não havia o que fazer. Ela era uma pessoa livre pra escolher que carreira seguir e devo admitir que no que ela faz, ela é a melhor.

Respirei fundo retornando a realidade.

Mesmo com os altos e baixos que passamos, minha filha não merecia estar nessa situação. Ninguém merecia.
Anitta já tinha sofrido muito na vida, passamos tempo demais tentando protegê-la de tudo, mas era impossível. Sempre acontecia algo que quebrava com ela e eu entendia bem.

Minha junção com Henry não foi uma tarefa fácil. Pra começar a mãe dele me odiava, apesar de que seu pai me tratava quase como uma filha. Nunca entendi como duas pessoas tão diferentes davam tão certo, afinal o casamento de meus sogros ultrapassava os vinte e cinco anos na época. Em segundo lugar, meu marido era uma pessoa relativamente conhecida. O legado da família Fell está vivo há anos. Mas eu não era nada conhecida, era uma garota comum por quem Henry se apaixonou. Foi isso que deixou a mãe dele tão brava. Ela detestava o fato de que ele não namorasse uma garota da sua classe social.

Eu nunca estive com ele movida a interesse. Sempre o amei e era grata por termos enfrentado todas as dificuldades juntos e termos construído nossa família.

Eu era demasiadamente grata por cada momento e cada pequeno anjo que me foi dado, meus lindos filhos.

Isso me fez pensar que Anitta nunca comentou sobre ter filhos conosco.

- Ô céus, eu não sei se minha própria filha quer ter filhos -exclamei boquiaberta- Quando foi que deixei essas coisas passarem?

Olhei pela janela do quarto observando o céu estrelado e a lua cheia.
Eu não sabia se minha filha tinha vontade de montar uma família.
Estava decepcionada comigo mesma por estar longe dela em alguns aspectos, mas eu resolveria isso.

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O dia não demorou muito a amanhecer depois que colei os olhos. Dormi poucas horas com medo de que Anitta acordasse e algo acontecesse.

Abri os olhos devagar me acostumando com a claridade e senti as íris castanhas em mim

- Desde quando está acordada? -perguntei serena e ela se virou ficando de barriga para cima e respirando fundo-
- Vocês deixaram de me contar algumas coisas -pronunciou- Eu não sei como podem ser tão bons para mim, quer dizer -fez uma pausa como se organizasse as palavras- Eu sei que vocês me amam, sei mesmo, mas é como se eu não fosse mais essa Anitta sabe? Eu não consigo entender como depois de tantas coisas tudo ainda flui bem entre nós
- Ei, minha filha -me levantei e me aproximei dela- Não pense dessa forma. Muitas coisas realmente aconteceram, mas assim como você sempre esteve com nós e lutou por cada um de nós em diversas ocasiões, sempre iremos fazer por você. Não como forma de agradecimento, mas porque nós te amamos.

Seus olhos se voltaram para mim e ela se sentou descendo da cama logo em seguida para me abraçar forte.

- Eu amo você -murmurou me apertando- Eu amo todos vocês
- Nós também te amamos -devolvi o abraço- Sempre estaremos aqui por você -pronunciei olhando em seus olhos assim que ela me soltou-

A porta se abriu e eu pude ver o enfermeiro que esteve no quarto no dia anterior

- Com licença -pediu sorrindo-
- Toda -o olhei-
- Como está se sentindo Anitta? Alguma dor?
- Uma leve dor de cabeça e fome, tenho fome -comentou nos fazendo rir-
- Está certo, a dor de cabeça pode estar sendo provocada por isso, há uma lanchonete dentro do hospital, pode comer algo de lá ou a comida do próprio hospital, como preferir, mas preciso que permaneça aqui por mais um tempinho depois da refeição para sabermos se realmente é isso, ok?
- Tudo bem
- Eu te levo até a lanchonete -avisei e ela concordou com a cabeça-
- Tenha cuidado -o enfermeiro pediu antes de sair-

Anitta tomou um banho rápido e vestiu a roupa que Henry havia buscado para ela. Eu disse ao meu marido que era melhor ele ir pra casa descansar e que assim que saíssem os horários de visita eu o avisaria, assim ele o fez, bem como meus filhos, mas Thiago havia ficado. Não sabia se ainda estava por aí, mas logo tiraria a dúvida.

- Vamos? -chamou-
- Claro

Assim que ela abriu a porta deu de cara com o loiro sentado em uma das cadeiras do lado oposto.

Um sorriso surgiu no rosto dele ao vê-la e mesmo ela estando de costas para mim eu sabia que sua reação tinha sido a mesma. Aqueles dois nasceram para ficar juntos.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora