Capítulo 66

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Th narrando

Olhar no rosto de Anitta e ver a expressão de estranhamento misturada com curiosidade me quebrou no meio. Ela não me conhecia. Não sabia quem eu era e o que representava em sua vida. De seu amor eu fui reduzido a nada. Aquilo me doía como nada nunca doeu.

- TH -Thomas chamou minha atenção para que eu falasse algo-
- Oi -foi a única coisa que consegui gesticular-
- Oi -ela respondeu sem entonação- Eu sei que parece estranho... -começou me olhando- É como se eu não conhecesse ninguém, mas Thomas já me contou sobre minha família e me mostrou várias fotos e vídeos. Eu confio nele e se ele diz que você é como se fosse da família eu acredito -ela gesticulou rápido e só depois parou para respirar-
- Como se sente? -indaguei como se não tivesse ouvido tudo que ela acabara de falar-
- Bem.. eu acho -olhou para o próprio corpo- Sinto algumas dores, mas seria pior se eu não estivesse sentindo com esse tanto de ferimento ne?! -retornou a me olhar e eu concordei com a cabeça-
- É, você deve melhorar logo -engoli em seco sem saber bem como dialogar com ela-

Me julguem por não conseguir pensar no que falar para ela. Mas é que é extremamente difícil encarar o amor da sua vida e fingir que não é isso que ela representa pra você. E fingir que você não beijava aquela boca, não tocava naquele corpo, não dormia com aquela pessoa.

- Eu -dei uma pequena pausa procurando as palavras certas- Preciso ir agora
- Tudo bem -ela concordou tranquila- Foi bom te conhecer Thiago -uma facada no meu coração-

A vontade que eu tinha era de falar tudo, de contar a nossa história, o que passamos. A vontade era de falar até o quão babaca eu fui em alguns momentos e o quão incrível ela era em todos eles. Mas eu não podia.

- Foi bom te ver Ane -o apelido saiu involuntariamente e senti os olhos de Thomas me fitando-

Devolvi a ficha médica dela que eu ainda segurava para o mesmo lugar e retornei meu olhar para ela antes de me virar e sair do quarto.
Quando fechei a porta atrás de mim não direcionei meu olhar para ninguém, apenas me movi para sair dali o mais rápido que pude.

A sensação era angustiante, parecia que tinha algo entalado na minha garganta tornando difícil o ato de respirar.
Quando cheguei a porta do hospital fui atingido por vários flashs.

Inferno. Eu havia me esquecido desse cacete. Também, isso não era nem de longe minha maior preocupação no momento, é claro que eu não ia lembrar.
As perguntas começaram a surgir incontrolavelmente e eu só queria socar cada uma daquelas pessoas.

Anitta sofreu um acidente?
Como a designer mais conhecida do país está?
Por que você não estava na viagem com ela?
Vocês não estão mais juntos?
É verdade que Anitta estava grávida e perdeu o bebê no acidente?
Anitta Henry Fell voltou com Marcelo Theodoro? Nós vimos ele adentrar o local

Minhas pernas me obrigaram a parar depois das últimas perguntas. Não tinha a mínima chance, não mesmo.

- Vocês estão passando dos limites com essas invenções, Anitta é um ser humano e merece respeito. Façam o favor de ao menos não parecerem os seres desprezíveis loucos por uma fofoca que vocês são.

Não me importei com a repercussão que isso ia dar, apenas forcei minhas pernas a voltarem a dar grandes passadas a fim de chegar no carro logo.
João estava lá, ele sempre estava onde eu precisava que ele estivesse.

Entrei no banco de trás batendo a porta e não precisei falar nada para que ele acelerasse o carro e me tirasse do foco das câmeras.
Eu sabia que deixar o hospital soava como deixar Anitta.

Não era isso que eu estava fazendo. Definitivamente não. Mas eu precisava colocar a cabeça no lugar e entender o que eu deveria fazer agora.
O que a gente faz quando o amor da nossa vida sofre um acidente e não se lembra de você, quanto mais dos momentos que passou contigo?
Eu estava sem chão.

João me levou para meu apartamento, não me importei em pegar nada além da chave da minha moto e saí do apartamento de novo.

- Th não é bom que você saía de moto sozinho por aí agora, fique no apartamento -João aconselhou preocupado-
- Não se preocupe. Não quero escolta atrás de mim. Ninguém. -frisei- Entendeu?

João exitou em concordar mas sabia que não tinha outra saída.

Subi na moto, coloquei o capacete e segui rumo a minha casa. Aquela em que levei Anitta uma vez, onde ela conheceu Antônia.
Era o lugar mais afastado e ao mesmo tempo "próximo" o suficiente caso eu precisasse correr pro hospital.

Não estava medindo a velocidade com que eu dirigia, não queria sentir.
Não queria sentir porra nenhuma.
Não demorou para que eu chegasse na casa, mas o céu já estava escuro devido o horário.
Meu celular tocou e eu sabia a quem aquele toque específico pertencia. Era Ian Fell, não atendi.

Abri a porta depositando o capacete na primeira mesinha que vi e tirei minha camiseta.
Minhas mãos foram automaticamente para minha cabeça.

Eu precisava pensar. Eu precisava pensar. Pensar.

PENSA SEU FODIDO

Minha cabeça gritava pra mim enquanto eu quase arrancaca os cabelos de tanto passar a mão com força.
Eu sentia raiva, sentia mágoa, sentia ódio de mim mesmo por ser tão idiota de deixa-la ir sozinha para outro país.
Se eu estivesse lá essa porra toda não teria acontecido. Mas eu não estava. De novo.

De novo ela havia precisado de mim e eu havia falhado com ela.

DE QUE PORRA VALE SUA PALAVRA THIAGO ALVAREZ BILLIARCH? ME DIZ SEU DESGRAÇADO

Novamente minha cabeça me recriminava. Eu estava me autosabotando e sabia disso, mas não consseguia parar. Minha raiva era maior que minha força de vontade nesse momento.

- De nada. -murmurei deixando meus joelhos dobrarem e meu corpo cair no chão- Não vale de nada.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora