Capítulo 78

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Anitta narrando

Aquilo realmente eram lembranças.

Antes que meu irmão, acompanhado do resto de minha família, chegasse ao hospital eu ainda me recordei de algumas coisas e agora muito mais.

Já fazia algumas horas que os médicos tinham me isolado de parentes devido as minhas emoções demasiadamente exaltadas em decorrência de todas as lembranças que me atingiam como um grande murro na boca do estômago.

Eu me sentia zonza e fraca, como se aquilo sugasse tudo de mim. Me lembrar de tantas coisas num só dia não era reconfortante.

Os médicos me deram alguma espécie de calmante e eu me via novamente sonolenta devido aos remédios. Não vi muito mais coisa antes de cair no sono.

****

Ian narrando

Desde o acidente de Anitta eu tenho passado muito mais tempo na casa de meus pais caso ela precise de algo. Da mesma forma Thomas o fez, mas infelizmente isso não evita que ela passe pelo que está passando nesse momento.

Era difícil compreender o processo porque claramente nunca havíamos passado por isso. Já havia um bom tempo desde que os médicos levaram Anitta para o quarto e impediram nossa entrada.

Estávamos todos preocupados e com a cabeça fervendo. TH andava de um lado pro outro do corredor passando as mãos na cabeça e eu podia contar os minutos para que ele arrancasse cada fio loiro do cabelo de tanto estresse.

- Vê se senta e fica quieto porra -exasperei não controlando minha agonia com seu vai e vem, mas ele sequer me respondeu-

Ouvi ele bufar assim que alcançou a outra ponta e voltou fazendo o mesmo caminho e sentando ao meu lado.

- Como acha que ela vai lidar com isso? -indagou preocupado-
- Eu não sei Alvarez, mas todos esperamos o mesmo: que ela consiga lidar da melhor forma
- É claro que esperamos porra -exasperou puto- Mas isso não muda nada. Eu não posso fazer porra nenhuma pela mulher que amo. Inferno -voltou a se levantar para provavelmente continuar com suas passadas, mas foi interrompido pela porta do quarto de Anitta sendo aberta- Como ela está? -Th foi o primeiro a chumbar pergunta ao médico-
- Está dormindo, tivemos que dar um calmante para ela, as emoções estavam muito afloradas, devem tomar um cuidado excessivo com ela neste momento pois qualquer coisa pode gerar um colapso de emoções mal calibradas -explicou revezando o olhar entre todos nós que agora o rodiavamos- Só uma pessoa pode passar a noite com ela e o resto só poderá entrar de um em um amanhã, os horários de visita vão ser passados para vocês logo pela manhã. Há um enfermeiro lá dentro para verificar quem vai acompanhar a paciente, tenham uma boa noite.

Agradecemos e ele se virou saindo dali. Senti o ambiente ficar um pouco mais leve e sabia que todos ali estavam um tanto mais aliviados por saber que ela estava adormecida, ao menos assim podia descansar um pouco a mente.

Nos entre olhamos como quem decidia o escolhido para passar a noite com minha irmã. Eu sabia que todos nós queríamos isso, mas teriamos de anunciar alguém.

- Eu não saio daqui -Th anunciou chamando nossa atenção- Mesmo que não seja eu a estar la dentro -apontou para o quarto-
- Acho que nossa mãe é a melhor opção, vai ser bom para Anitta acordar "nos braços" da mãe -Thomas se pronunciou-
- Eu sei que todos estão muito preocupados, mas eu concordo com meu filho, além do mais logo amanhece e todos poderão vê-la -os olhos azuis de minha mãe repousaram sobre nós de um a um esperando uma confirmação que mesmo relutantemente veio-
- Você tem toda razão -Alvarez se pronunciou-
- Obrigada pela compreensão Thiago -sorriu genuína e depoistou um beijo na bochecha de cada um de nós adentrando o quarto logo em seguida-

Fiquei mais alguns minutos ali e resolvi ir para casa. Precisava saber como estava Cherry e meus filhos, além de que o conforto de casa e da família era tudo que eu precisava no momento pra me tranquilizar um pouco.

Cerca de 40 minutos e lá estava eu, sentado no sofá da sala sendo agraciado pelo sorriso de minha pequena Clarisse e por um abraço caloroso do meu moreninho Vicente.

- Você demolou -os olhos idênticos aos da mãe denunciava as semelhanças físicas entre as duas-

Os pequenos bracinhos de Clarisse se entrelaçaram numa cruzada de braço que me fez soltar um riso.

- Por que ta rindo papai? -Vicente me soltou se sentando ao meu lado de forma desajeitada-
- Sua irmã está brava porque demorei a chegar, você também não ficou bravo?
- Não, mamãe me contou que você foi visitar a titia
- Conversa comigo -me voltei a pequena parada no meio da sala e sentei na ponta do sofá esticando meus braços para alcança-la -
- É como Vicente disse minha filha, papai esteve com a titia Anitta porque ela não estava muito bem -disse a puxando e colocando em meu colo-
- E ela melhorou? -os grandes olhos me encararam atentos-
- Ela esta melhorando aos poucos
- Quando a gente vai ver ela? -o moreninho perguntou-
- Logo meu filho, logo. Vem cá, cadê a dona Cherry? -indaguei vasculhando o ambiente com os olhos-
- Mamãe está fazendo bolo -Clarisse disse e pulou do meu colo indo pra cozinha correndo-
- Não corra aqui dentro, você pode se machucar -falei mais alto e me levantei a fim de ir ver minha morena-

A encontrei mexendo nos botões do forno e sorri. Já havíamos passado por tantas coisas que era quase difícil de acreditar que construímos uma família, que tínhamos gêmeos lindos e que não negavam nem um minuto o gênio da mãe.

Os olhos claros de Cherry me fitaram e seus lábios se repuxaram para cima em um sorriso típico dela. Me aproximei alcançando sua cintura e depositei um beijo em sua testa descendo meus lábios pros seus logo em seguida.
Não prolonguei o beijo sabendo que meus filhos estavam atentos a cada movimento. Aqueles dois podiam ter pequenas pernas e braços, mas tinham grande atenção a tudo.

Cherry sorriu lindamente e abriu os olhos me encarando.

- Estive com saudade -assumiu-
- Eu também amor, eu também -soltei o ar dos pulmões e me afastei levemente dela-
- E como está Anitta?
- Se lembrando de tudo, teve de tomar calmante novamente -pronunciei apertando os olhos com os dedos num gesto cansado- As emoções dela estavam a flor da pele, ela se lembrou de muita coisa ao que parece.
- Deve ser terrível, mais de 20 anos de lembrança. Eu não consigo nem imaginar pelo que ela está passando e eu sinto tanto -falou com tristeza-
- Eu sei que sim morena -a puxei para um abraço- Todos nós sentimos -murmurei acariciando seu braço-

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora