Capítulo 27

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Anitta narrando

Recobrei a consciência sentindo uma pontada de dor na cabeça, abri os olhos devagar sentido a claridade atingi-los rapidamente.

- Até que enfim -ouvi Thomas dizer e logo ele apareceu onde eu pudesse ver-

Tentei me levantar mas um aparelho me impediu, olhei em volta tentando assimilar o que estava acontecendo e percebi ser um quarto hospitalar.
Voltei minha atenção para meu irmão que me olhava esperando a chance de falar.

- Bom dia menina -falou com carinho- Não se preocupe, está tudo bem. Você teve uma pancada na cabeça e desmaiou mas não afetou nenhum sistema. Estamos apenas esperando sua liberação -sorriu- Você é forte como nós.
- O que aconteceu?
- Você teve uma... -interrompi-
- Não Thomas, o que aconteceu?
- Você não tem que se preocupar com isso, nós sempre estaremos lá para salvar você
- E se um dia não estiverem? E se um dia eu precisar de mim mesma?
- Você tem preparo pra isso Anitta
- Não é como se fizesse alguma diferença, vocês me ensinam o básico e olha o tamanho do brutamontes que foi na minha loja ontem. Como conseguiria me denfender?
- O que quer?
- Que me ensinem mais, que ensinem de verdade
- Nós não vamos fazer isso
- Nós não vamos fazer o que? -Ian entrou na sala já se infiltrando na conversa-
- Anitta quer que avancemos no treino dela
- Eu quero conseguir desarmar um cara daquele que foi até minha loja ontem e deixar ele no chão
- Nós já te ensinamos isso -Ian se pronunciou-
- Não com tanta eficácia
- Não é hora para este tipo de conversa, conversaremos depois Anitta -Thomas disse e se afastou da cama-
- Ian -proferi seu nome como se pedisse-
- Nós sempre estaremos lá para cuidar de você, isso -olhou em volta se referindo ao lugar que eu me encontrava- foi um deslize que não vai acontecer de novo
- Não tem como saber, mas se acontecer e eu estiver preparada vou saber o que fazer e ninguém terá que fazer uma visitinha ao hospital

Ian ficou calado, deixar ele sem resposta ou justificativa não acontecia com muita frequência. Na verdade meus dois irmãos vieram de encomenda, os dois sabiam muito bem como manipular as pessoas para que suas vontades fossem feitas. Dois controladores.

Thomas me olhou de longe e já sabia que eu não desistiria dessa história.

- Está bem Anitta -concordou me olhando- Nós mesmos vamos te treinar, mas eu quero avisar antes que não há espaço para frescuras no treino. Por um momento deixaremos de ser seus irmãos e seremos seus treinadores e queremos a melhor aluna, estamos entendidos?

- Sim -respondi firme-

Eu sabia o que vinha pela frente. Treino duro, sem dó nem piedade. Mas eu aguentaria e aprenderia tudo que eles sabem.

Não demorou muito para que a médica entrasse na sala, me examinasse e me desse alta.
Não sem antes se insinuar para meus irmãos.

Antes que eu pudesse sair me virei para a médica que observava nossa saída.
- Esses dois homens aqui tem as mulheres mais lindas do planeta, você não faz nem cócegas na existência delas, beijo -sorri e saí da sala-
- O que te deu? -Ian perguntou um pouco surpreso-
- Mulher folgada, incompetente. Para se insinuar para vocês ela foi ótima, já para cumprir com o trabalho dela... não posso dizer o mesmo -eles riram-

Saímos logo do hospital e eu me lembrei de Johnny.

- Puta merda -exclamei automático-
- Anitta boca suja -Thomas me repreendeu-
- Johnny ia passar lá em casa para sairmos ontem
- Ah, isso me faz lembrar que ele ligou, eu expliquei que você teve problemas
- Obrigada Ian
- Gosta dele?

A pergunta me pegou de surpresa e eu me calei por alguns instantes.

- Gosta dele Anitta? -repetiu a pergunta com firmeza-
- Eu não sei -respondi serena-
- E qual a dúvida? -ele parou e se virou pra mim me fazendo parar para olhá-lo-
- Ian -Thomas o repreendeu mas não adiantou-
- É só uma pergunta -voltou seu olhar pra mim- E então?
- Johnny é um cara incrível e ele merece toda felicidade do mundo, mas eu não sei se estou pronta para seguir uma linha de planejamento de vida do qual eu não imagino pra mim. Eu sou a tia mais feliz do mundo mas não pretendo ser mãe.

Ian me olhava firme mas não de forma agressiva, era como quem mais uma vez procurava as palavras para me responder. Eu nunca havia dito isso para minha família, minha mãe sempre sonhou que todos os seus filhos a daria netos, mas eu não o faria. Eu não me enxergava como mãe e pode parecer ou até ser mesmo a coisa mais egoísta do mundo mas eu não conseguia me prender a esse tipo de plano.

- Por que nunca nos disse que não quer ter filhos?
- Porque as expectativas de reprodução da Família Henry Fell sempre foram altíssimas.
- Você não tem que seguir a vontade de ninguém se não for a sua também
- E eu não vou, só talvez não tivesse chegado a hora de deixar isso claro ainda. Podemos ir? -perguntei já retornando a andar até o carro-

O clima de lá até em casa ficou tenso e eu não sabia o que fazer além de ficar calada.
Quando cheguei Johnny estava me esperando na sala.

- Oi morena -sorriu ao me ver e se levantou- Como você está?
- Olá John, estou bem -sorri- Desculpe por ontem
- Que isso, imagina, todo mundo tem imprevistos ne
- Eu vou tomar um banho pode me esperar?
- Claro, estarei aqui

Subi para meu quarto e fui direto para o banheiro. Eu precisava sentir a água descer pelo meu corpo. Meus pensamentos voaram na noite passada e eu lembrei da voz que havia ouvido. Não podia ser Th, não é possível que ele apareceria só para me salvar e sumiria novamente.
Eu não ousei perguntar aos meus irmãos, nem comentava nada com ninguém porque eu precisava passar a imagem de quem segue numa boa sem nem lembrar que Th existe. Mas eu lembrava. Lembrava de cada toque, cada beijo, cada pegada, cada palavra ou gesto.
Balancei a cabeça devagar como se os pensamentos fossem se esvaiar assim e terminei meu banho.

Quando saí Johnny ainda estava na sala, chamei-o para subir para que assistissémos um filme e o mesmo se levantou me seguindo.

Enquanto ele escolhia um filme eu arrumava o projetor.
Em algum momento me desequilibrei na escadinha e quase caí mas meu pequeno gritinho fez John se virar e me segurar.
Suas mãos rodeavam minha cintura com maestria e seus olhos estavam fixos nos meus. Ele me tirou da escada e firmou meus pés no chão sem deixar de me olhar.
Assim que minhas pernas voltaram a sustentar meu corpo Johnny soltou minha cintura e levou as mãos no meu rosto acariciando minhas bochechas de leve com os polegares. Não demorou muito para que seus lábios tocassem os meus com carinho.
O beijo foi calmo, sem pressa, mas demonstrava toda a vontade envolvida e mais uma vez eu me afastei. Mas dessa vez foi devagar, sem apavora-lo nem nada do tipo.
Ele segurou minha mão que se encontrava no peitoral dele e me olhou.

- Me deixa tentar -pediu calmamente- Eu sei que você ainda é apaixonada pelo tal Thiago, eu vejo o bloqueio que você cria toda vez que me aproximo, mas se não me deixar tentar não da pra saber como seria ou se eu faria você esquecer ele
- Johnny -exclamei baixo-
- Eu me responsabilizo por qualquer consequência, se em algum momento quiser parar, tudo bem, eu vou entender. Eu sei onde estou me enfiando, só me dê essa chance, pode ser?

Olhei no fundo de seus olhos e sem aviso prévio colei meus lábios nos dele, ele deu um sorriso e me beijou, sabia que aquilo era um passe livre.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora