Capítulo 31

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Anitta narrando

- Vamos Th, não me enrole por favor -eu disse mais uma vez tentando fazer ele se enfiar na merda do carro-
- Já disse que só entro se for com você
- Você parece uma criança birrenta
- Que seja, a criança birrenta precisa de alguém pra olhá-la, e aí? -me encarou esperando minha decisão-
- Para um bêbado até que você está bem esperto -disse finalmente cedendo e entrando no carro-

O caminho foi silencioso, mas eu podia sentir no ar a tensão da parte de Th. Tinha algo muito errado, ele não era de beber a esse ponto muito menos implorar companhia. Muito pelo contrário, era ele quem sempre tinha o controle de tudo nas mãos e estava sempre pronto pra qualquer coisa que acontecesse, mas hoje ele estava desarmado.

Eu estava observando a pouca movimentação nas ruas por não conseguir manter o meu ar olhando para Th. Mesmo que o estado dele nesse momento não fosse o melhor, eu não o via a mais de três meses, e de repente eu o encontro tão dependente, tão abalado.

Senti sua mão quente entrelaçar com a minha e travei por um segundo mas em seguida apertei sua mão como quem diz que está ali por ele. Não foi preciso nenhum outro toque ou qualquer fala ou olhar. A gente se entendia no silêncio.

Sua mão parecia transferir calor por todo meu corpo. Qualquer toque seu me trazia um sentimento bom, um sentimento de paz. Fechei os olhos tentando controlar minha respiração falha e minha mente que ia longe.

Não demorou muito para que chegássemos em um condomínio. João estacionou la dentro e desceu com a intenção de ajudar Th, mas o mesmo recusou a ajuda e preferiu sair do carro sozinho.

- Senhorita, precisa de algo? -João perguntou assim que saí do carro-

Olhei para Th andando na frente e respirei fundo.

- Tudo bem João, obrigada -disse e fui atrás do bebinho-

- Achei que não viesse -disse assim que sentiu minha presença-
- Eu não vou te deixar sozinho nesse estado
- Então em outras circunstâncias me deixaria sozinho? -parou de andar e se virou pra mim indagando-
- Quer mesmo falar sobre quem deixaria quem aqui? -estreitei os olhos e ele fechou os dele apertando e retornando a abrir e me olhar-
- Foi o melhor pra você
- Você não sabe o que é o melhor pra mim, na verdade, nesse momento você não deve saber nem o que é melhor pra você mesmo. Vamos logo -disse e retornei a andar-

Não era hora e nem o momento mais adequado para falar sobre isso.
Subimos em silêncio e quando chegou na porta Th se virou pra mim.

- Acho que deixei a chave na agência
- O que? Ta de brincadeira Thiago

Ele parou e me encarou

- Você está brava
- É, eu estou
- Desculpe se sempre sou um idiota com você -revirei os olhos e enfiei a mão no bolso de sua calça procurando a maldita chave-
- Vamos lá, você tem que estar aqui -dizia para mim mesma como se assim a chave fosse aparecer-
- Anitta
- Fique quieto
- Eu só queria dizer que tem uma chave reserva ali na plantinha

Olhei para Th e respirei fundo, eu precisava manter a minha paciência com este homem ou jogaria ele da varanda sem pensar duas vezes. Peguei a chave e abri a porta dando passagem para ele que entrou devagar e ligou a luz da sala.

Tranquei a porta e segui os passos de Th que já havia tirado os sapatos e os carregava na mão agora.

- Conheça meu apartamento Anitta, minha casa sua casa.
- Sua casa sua casa. Não tem nada de meu aqui
- Mas eu queria que tivesse
- Th por favor, fique caladinho

Chegamos em seu quarto onde ele colocou os sapatos no closet que aliás era muito bem organizado e as meias no sexto de roupa suja.

Voltou para o centro do quarto e começou a tirar sua camiseta, depois levou a mão em sua calça e eu me levantei indo para o banheiro, mudei a estação do chuveiro colocando na água fria e me virei para sair dali, mas dei de cara com um Th nu e não muito satisfeito com minha iniciativa.

- Está tentando me sabotar Anitta?
- Estou tentando fazer sua consciência voltar, tome seu banho e depois venha para a cozinha, vou preparar algo rápido para você comer -disse tentando não me focar naquele corpo dos deuses-
- Tudo bem

De certa forma era engraçado vê-lo sem questionar o que eu falava e sem tentar conseguir o controle de qualquer forma.
Fui para a cozinha a fim de preparar algo e estava sendo bem difícil porque eu não conhecia nada ali, então depois de um tempinho procurando uma simples frigideira, fui atrás de Th para pergunta-lo.

Cheguei no quarto já abrindo a boca pra falar e me deparei com ele deitado na cama apenas com uma cueca boxer, quando percebeu minha presença me olhou devagar e continuou por um momento sem falar nada.

- Eu vim perguntar onde você coloca a frigideira -disse engolindo em seco-
- Não quero comer
- Você precisa
- Venha aqui -bateu de leve a mão na cama indicando o lugar-
- Th, você realmente precisa comer

Ele simplesmente me ignorou e esperou que eu fizesse o que ele havia pedido, então fui até a cama, sentei na beirada e tirei minha sandália, depois me deitei de perfil e fiquei o olhando, bem como ele estava fazendo.
Não demorou muito para que sua mão acarinhasse meu rosto calmamente.
Eu não sabia descrever como senti falta desse toque, como sentia falta desses olhos, do calor de seu corpo.

- O que aconteceu com você? -perguntei serena para não erguer aquela muralha que ele tem-

Ele permaneceu em silêncio por alguns minutos e eu achei que ele não fosse me contar. Virei meu corpo ficando com a barriga para cima e soltei o ar que eu nem havia percebido que estava segurando.
Th se virou ficando da mesma forma.

- Eu descobri algo sobre a morte de meu pai -disse e foi sua vez de respirar fundo- Antônio, o que era melhor amigo do meu pai o matou mas não foi uma traição.
- O que houve? -perguntei preocupada-
- Eles haviam ameaçado me matar, tinham fotos e vídeos do meu dia a dia. Eu estava a mercê de qualquer um -fez uma pausa e meu coração apertou só de pensar- Então meu pai fez um acordo. A vida dele pela minha, mas eles queriam que ele fosse morto por alguém da CIA e meu pai preferiu ser morto pelas mãos daquele que ele confiava.
- Antônio -disse baixo-
- Eu culpei Antônio por anos pela morte do meu pai e isso tudo foi pra me salvar -falou com pesar na voz-

Me virei e deitei em seu peitoral

- Tudo bem Th, não foi sua culpa, não tinha como saber o que aconteceu porque todo mundo deixou você acreditar em uma outra história. Não fique se culpando por isso, você já sabe a verdade, é hora de seguir em frente.

Sua mão afagou meus cabelos e ele me deu um beijo rápido na testa.

- Senti sua falta -falou baixo e calmo-

Essas foram as últimas palavras que eu ouvi antes que ele caísse no sono um tempo depois.
Fiquei em dúvida se essa era a hora de dar o fora dali ou não. Resolvi ficar, Th mais uma vez se abriu comigo, não era o tipo de coisa que ele costumava fazer, então eu precisava mostrar pra ele que estava ali e que continuaria se ele precisasse.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora