Capítulo 85

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Anitta narrando

Voltei para casa em silêncio junto de meu irmão que também não havia se pronunciado mais.
Eu sabia que ele estava me dando um tempo para digerir a notícia que o médico havia me dado anteriormente e agradecia mentalmente por ele ser sempre tão compreensível.

O caminho pareceu mais longo na volta do que na ida, Thomas havia reduzido a velocidade me dando tempo para pensar no que falar para todos quando chegasse.

Respirei fundo decidida sobre como isso ia funcionar.

- Sabe se Thiago está lá em casa? -indaguei me voltando para meu irmão que me olhou rapidamente-
- Ian disse que ele ainda não havia chegado, mas que estava a caminho
- Não quero que comente nada com ninguém enquanto ele estiver lá, vou dizer que foi apenas algo que comi que não caiu bem, ok?

Seus olhos castanhos voltaram-se para mim assim que paramos no sinaleiro

- O que pretende fazer?
- Quero surpreende-lo -disse e recebi um sorriso de meu irmão- Mas quero eu mesma contar pessoalmente para nossa família, só não pode ser agora -ele concordou com a cabeça e voltou sua atenção para a via-

Depois disso não demorou muito mais para que chegássemos em casa.
Assim que adentrei o local os vários pares de olhos presentes ali recairam sobre mim com um ar preocupado.

Thiago, que estava mais perto da porta, foi o primeiro a se aproximar segurando minhas mãos e perguntando como eu estava me sentindo. Sorri de leve tentando tranquilizar a todos antes de responder.

- Está tudo bem, foi só algo que comi que me fez mal. Tomei soro e alguns medicamentos, já estou melhorando -tentei soar o mais convincente e natural possível-
- Tem certeza que está melhor? Quer que eu prepare algo pra você? -minha mãe indagou-
- Sim dona Jô -pronunciei serena- Não tem com o que se preocupar, podem ficar tranquilos
- Tudo bem -meu pai concordou- De qualquer forma se tomou medicamentos logo deve melhorar ne? -me limitei a concordar com a cabeça-
- Continuemos nosso dia -sorri sentindo o clima ficar mais relaxado-

Mas é claro que os olhos do loiro ainda estavam em mim analisando cada traço de expressão no meu rosto, típico de Th.

O olhei e sorri fazendo ele se aproximar para depositar seu habitual beijo na minha testa.

- O que o médico falou? -perguntou assim que seus olhos voltaram a encarar os meus-
- Que eu tive uma intoxicação alimentícia -não desviei o olhar- Resolveu o problema na empresa?
- Sim -ainda sem tirar os olhos de mim-

Minha família já havia voltado a fazer as tarefas anteriores a essa altura.

- Que ótimo -sorri para ele que retribuiu-
- Podia ter me ligado, eu viria antes se soubesse que não estava se sentindo bem
- Thiago por favor, não tinha porque te tirar da empresa, só não estava me sentindo muito bem, coisas assim acontecem -dei de ombros-
- É certo que acontecem, de qualquer forma eu não quero que hesite em me contatar em monentos como esse
- Como quiser

O dia se seguiu tranquilo, tive que me ausentar no banheiro algumas vezes pra não deixar muito na cara o que estava acontecendo. Enquanto isso eu planejava como ia contar para minha família.

A noite chegou rápida e dessa vez eu não ia para o apartamento de Th com ele, escolhi ficar em casa para organizar meus pensamentos sobre essa nova fase da minha vida.

Mesmo que eu tivesse total consciência da atual realidade em que eu havia sido inserida, ainda não digeria totalmente a informação, ainda não conseguia me enxergar como uma mãe.

A mulher que deu tanto trabalho até chegar aqui tendo que lidar com a criação de uma outra pessoa me soava quase desesperador.

Já no meu quarto, depois de me despedir do loiro, me peguei observando minha barriga no espelho.
Não tinha nada de tão espantoso, mas ao mesmo tempo eu me questionava como não havia percebido.

Deslizei a mão pela minha pele tentando assimilar que ali dentro crescia alguém.
Respirei fundo soltando a blusa e passei as mãos no rosto.

Eu estava perdida. Era uma coisa boa certo? Digo, ser mãe? É o sonho de muitas mulheres e eu achava isso lindo, mas é que me remetia a tantas coisas, e eu tinha medo.

Eu podia ser uma mulher forte em tantos outros aspectos, mas nisso não, nesse quesito eu era inegavelmente fraca.

Ouvi leves batidas na porta e já sabia que se tratava de Thomas.
Abri me deparando com seu semblante meio inexpressivo e respirei fundo. Seus braços alcançaram meu corpo me puxando pra um abraço.

- Imaginei que estaria quebrando a cabeça com isso -se pronunciou após me soltar-
- Eu não sei fazer isso -assumi-
- Isso o que?
- Ser mãe, eu sequer consigo me enxergar criando uma criança. E se tivermos choques de valores ou... eu sei lá, eu não consigo
- Ei ei -segurou meu rosto me fazendo olhá-lo - Está com medo -proferiu baixo- Isso é extremamente normal. Acha que Lorena estava super tranquila na sua primeira gravidez? -fiquei calada pensando nisso- Não estava, ela ficou tão nervosa que chegou na minha casa como um belo de um furacão sem saber o que fazer e afirmando veemente que era incapaz de cuidar de uma criança e veja só hoje -fez uma pausa e sorriu- Temos três lindos filhos, não nos arrependemos do que aconteceu apesar de vir um pouco inesperado

O olhei sem dizer nada, apesar de todo meu desespero minutos antes de Thomas aparecer, eu me sentia mais tranquila a essa altura, ele sabia bem como me acalmar.

- De qualquer forma, vou estar contigo em todos os momentos
- Obrigada -sorri para ele- O que acha que eu faço para contar? Isso é muito difícil -ele riu-
- Olha, eu realmente queria te ajudar a ter uma ideia brilhante, mas eu não sei como isso funciona
- Droga! Eu preciso pensar em algo rápido
- Realmente rápido -me observou- Se sente melhor?
- Sim, acho que o cheiro de comida me deixou mais enjoada durante o dia, mas agora já está bem mais tranquilo.
- Ótimo, posso ir para minha casa tendo a certeza de que você vai me ligar se precisar?
- Sim -confirmei com a cabeça e sorri-

Thomas depositou um beijo no topo de minha cabeça e se virou saindo dali para ir embora.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora