Capítulo 8

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TH narrando

A sala era a prova de sons e o único local transparente era uma mini janela na porta. Eu me encontrava em pé de um lado da mesa enquanto o meu mais novo "informante" estava sentado do outro lado.

- Qual o seu nome? -perguntei enquanto cruzava os braços e o encarava-
- Acha que com essa pose de galã vai arrancar alguma coisa de mim? -riu debochado-
- Não preciso de pose nenhuma pra arrancar algo de você. As coisas aqui funcionam num esquema diferente, vamos ver se você pega o ritmo. Eu mando, você obedece.
- E se eu não obedecer?
- Imagino que já tenha escutado o ditado popular "Faz por bem ou faz por mal".
- Bom, então será por mal porque não te direi nada a..

Antes que ele terminasse eu desferi um murro em seu queixo o pegando despreparado. Sua cabeça foi pra trás e ele voltou com ela pra frente lentamente.

- Você é louco? -perguntou depois de conseguir focar sua visão-
- Ue, achei que você tivesse dito que ia ser por mal. Devo ter me enganado -fui cínico-
- Você vai me matar seu desgraçado
- Eu não precisaria tocar um dedo sequer em você se colaborasse comigo, portanto essa é minha sugestão.
- Vai pro inferno!

O soco agora acertou seu nariz que começou a sangrar na mesma hora.

- Não brinca comigo, eu não gosto de brincadeiras.
- Aposto que se a brincadeira for com Anitta você topa na hora -riu-

Olhei pra ele com raiva e me preparei para soca-lo novamente.

- Tudo bem, tudo bem, eu falo -disse quando eu estava prestes a acertá-lo- Sou conhecido como Mikael e..
- Trabalha para um cara chamado James Jordan -Logan adentrou a sala jogando os arquivos na mesa-
- Tô vendo que pesquisaram bem -Mikael falou zombeteiro- Mas me responde, se estavam pesquisando sobre mim, porque me bateu? -se virou pra mim-
- Se chama "aliviar a tensão" -eu disse sorrindo vitorioso e o olhando-
- Desgraçado
- Parece que alguém está afim de ficar sem os dentes -provoquei-

Depois de ler os arquivos referente a Mikael sai da sala para atender uma ligação.

- O que raios aconteceu na loja de Anitta? -Ian perguntou deixando sua raiva transparecer-
- Um dos nossos estava passando informações pra fora -disse-
- Quem é o infeliz?
- John. Estou com o cara que teve contato com ela mas não conseguimos encontrar o John. Luke disse que ele saiu na hora do almoço, a equipe já olhou as filmagens mas ele burlou as câmeras para nos enganar.
- Filho da puta. Eu quero você mais do que empenhado nisso TH, se acontecer alguma coisa com minha menina eu mato você primeiro.
- Eu jamais deixaria alguma coisa acontecer com ela -disse sem pensar e depois tentei consertar- Esse é meu trabalho Ian. Tenho que desligar.

Desliguei na cara dele que deveria estar mais puto ainda agora e liguei para Tadeu, precisava saber como Anitta estava.

- Fala chefe -Tadeu me cumprimentou-
- Está com ela?
- Claro, estamos de olho nela.
- Como ela está?
- Bem mais calma, o nervosismo já acabou e o médico disse que ela não sofreu nenhum trauma.
- Não a deixe um segundo sequer. Anitta nunca tinha apontado uma arma pra alguém e hoje ela passou por uma situação delicada. Qualquer coisa me avise imediatamente, logo estarei aí.
- Claro chefe.

Após desligar a chamada me virei para Mateus.

- Ele é todo seu, preciso ir ver Anitta -eu disse me referindo á Miakel-
- Pode deixar -Mateus disse com um sorrisinho-

Sorrisinho típico de quem já está acostumado a acabar com a raça dos caras que pegamos. Se Anitta estivesse aqui iria me julgar até a morte. Por mais que a família dela corra constante perigo, ela é contra a violência, e bem.. eu não sigo a linha assim como ela gostaria, muitas das vezes me perco no caminho e machuco caras, não que eles não mereçam, mas ela reprovaria cada uma dessas ações. De qualquer forma não é ela quem eu devo agradar. Duro? Sim, mas necessário.

O que fazer quando você deseja a sua protegida? Faça o seu trabalho. Essa seria a resposta de qualquer um e eu mais do que ninguém deveria seguir isso a ferro e fogo, afinal, eu mesmo havia ajudado a criar as regras.

Ah, se arrependimento matasse.

Lancei esses pensamentos pra bem longe quando subi na minha moto e partir para o local onde se encontrava a morena. Ao chegar ouvi a voz de Tadeu como um grito "Sai daí Anitta".
Merda! Era o que me faltava. Subi as escadas rapidamente e dei de cara com uma carranca de Tadeu do lado de cá da porta com os braços cruzados, como uma criança quando não ganha o presente de natal que tanto deseja. Ri internamente antes de chamar sua atenção.

- O que está acontecendo aqui?
- Anitta me pediu para pegar um copo de água para ela e trancou a merda da porta assim que saí
- Tudo bem, vá para baixo por favor -pedi-

Tadeu apenas concordou com a cabeça e desceu as escadas calmamente.
Bati na porta três vezes uniformemente.

- Eu já disse que quero ficar quieta Tadeu -gritou do outro lado da porta-
- Bom, acontece que não é o Tadeu

Aí se fez o silêncio e eu esperei. Esperei porque sabia que não era fácil pra ela passar por isso. Esperei porque a vida dela sempre foi fugir e se proteger de todos. Esperei porque eu a entendia, ou tentava ao máximo entender.

- Tudo bem Anitta -comecei depois de bons minutos de silêncio- Me deixe entrar -pedi calmamente- Eu prometo que fico quieto contigo

Quem eu estava me tornando? Meu Deus, a coisa estava afundando cada vez mais.
Ouvi a porta ser destrancada e observei a mesma a espera de que ela fosse aberta. Não foi.
Então eu mesmo me aproximei e abri a porta devagar. Anitta estava sentada no canto do sofá que ficava do lado oposto da porta observando o movimento lá fora. A olhei por instantes e encostei a porta trancando a mesma.
Fui em sua direção e sentei ao seu lado sem dizer nada. E mais uma vez eu me via naquele silêncio, mas dessa vez parecia ensurdecedor.

- Precisa dizer algo morena.. -falei a observando-
- Disse que ia ficar quieto -retrucou sem me olhar-
- Estou, e faz uns bons minutos, mas é terrível te ver assim.
- Eu nunca segurei uma arma TH, e hoje eu apontei pra um cara e mais do que isso, eu pensei em atirar nele. Pensei em atirar nele por ser um imbecil a ponto de me ameaçar com uma faca na minha garganta. Eu pensei em atirar em alguém, eu nunca quis isso na minha vida. É desesperador -disse se virando pra mim-

Seus olhos cheios d'água revelavam o quão aquilo a afetava e começara a me afetar também, afinal, eu atiraria nele sem dó enquanto ela estava se culpando por pensar em atirar nele.

- Tudo bem menina -eu disse sereno a puxando pra um abraço- Não tem probelma nisso. Você pensou mas não o fez, não tem de se culpar por nada. Ele não é um cara bom, não merece teu desespero, tuas lágrimas. Está tudo sob controle -afaguei seus cabelos enquanto sentia sua respiração forte no meu peito-
- Você o mataria não é? -perguntou genuinamente se afastando de mim e olhando no fundo dos meus olhos-

Fiquei sem reação por alguns instantes e vi ela se levantar enquanto passava as mãos no rosto afim de enxugar as lágrimas e escorou na pedra da varanda logo em seguida.
Me levantei e fui para perto da mesma que ignorou minha presença mesmo tão próximo de si.

- Não se trata de mim..
- Exatamente TH, não se trata de você, se trata de nós. É por isso que você não consegue admitir que me quer de alguma forma. Não se acha bom o suficiente. Mas não se trata de quão bom você é, se trata do quanto você quer algo ou alguém. Você me joga a desculpa de que o seu trabalho é cuidar de mim, mas a verdade é que tem medo. Medo de ser ruim demais pra alguém que você julga tão frágil e talvez eu seja mesmo. De qualquer maneira, não importa. Eu respeito sua decisão e começo a concordar com ela. -disse calmamente como se não fosse nada demais- Eu vou pedir o Tadeu pra me levar pra casa -pronunciou antes de sair do cômodo me deixando sem reação e fala, novamente-

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora