Capítulo 10

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Th narrando

Anitta testava minha paciência e eu, sem perceber, me deixava levar por essa diabinha que mais parecia um anjo.
Mil vezes inferno!

Passei as mãos no rosto e bufei feito adolescente mimado. O que é que essa menina ta fazendo comigo meu Deus?

Esse era o tipo de pergunta que eu me fazia todo o tempo. E isso que era pior, me perguntar isso todo o tempo só me lembrava o quanto eu estava ferrado por me deixar envolver tanto com Anitta.

Ela é jovem mas tão mulher e determinada. E ter pegado a fase mais rebelde e mimada dela e agora ver quem ela se tornou e vai se tornando a cada dia, é ótimo. Eu simplesmente gosto de vê-la crescendo cada vez mais, não no sentido de altura, mas no sentido de viver. Ela cresce na vida a cada dia quando da um passo a mais na sua caminhada. E eu admiro essa determinação de origem dela, mas não me surpreende a teimosia, vindo da família que vem...

Espantei meus pensamentos e liguei a moto. Anitta estava saindo e eu nem sabia pra onde, mas logo iria descobrir, afinal a minha função era estar com ela.

As únicas palavras trocadas comigo hoje foram "eu não vou trabalhar hoje". E tudo bem, de início eu estranhei, afinal aquela loja é a coisa que ela mais ama nessa vida, mas depois eu lembrei da noite passada e do "tempo" que ela disse que precisava. O famoso espaço.
E eu apenas respeitei, não vou obriga-la a nada, isso é patético, mas não tem uma saída pra fugir do meu trabalho, eu só tenho que protegê-la e eu o farei.

********-*********--************-*****

Aquele parque me remetia a lembranças já tão esquecidas de uma parte da minha vida que ninguém sabia. Quase nada por ali havia mudado desde o último ano que o vi e isso me atingia em cheio.
Eu não queria me lembrar de tantos fatos, tantos momentos, tanto de tudo.
O lugar fez parte da minha vida e agora faz parte da vida da minha protegida.
Me mantive distante de Anitta que simplesmente caminhava pelo parque como quem não quer nada além da calmaria que o lugar oferecia.

Seus cabelos voavam constantemente com o vento que se tornara cortante. Eu apenas a observava de longe.
Anitta se sentou em um banco, no meio da praça, suas pernas juntas e firmes no chão e as mãos eram passadas nos fios de cabelo que insistiam em voar. Obriguei as minhas pernas a pararem e olhei ao redor, estava tudo vazio. Era meio de semama e a maioria das pessoas estavam ocupadas com trabalho, estudo e afins.

Passado alguns minutos vi suas mãos serem passadas em seu rosto como se estivesse enxugando uma lágrima teimosa que caía.
Ela sabia que eu estava ali, no entanto, isso parecia ser seu último problema.
O cabelo passou de solto para um coque bagunçado de forma que seu rosto ficava mais a mostra ainda.
Eu queria poder acalma-la, mas resolvi deixar com que ela ficasse a vontade.
Eu podia ser o centro de todo seu problema e isso me afetava de forma inimaginável.

- Merda -falei para mim mesmo tentando manter meu foco-

Anitta limpou o rosto uma última vez e focou em algo na sua frente. Eu não me interessei por isso, só queria saber se ela estava bem. De repente seus olhos se voltaram pra mim como se dissesse algo e ela apontou discretamente para frente.
Olhei para a direção que ela me apontava e fiquei tenso instantaneamente.
Tinha gente nos espionando, e eles nem tinham a capacidade de se esconder, estavam uniformizados e encarando duramente. Pressionei a escuta rapidamente, sem tirar os olhos de Anitta.

- Preciso de reforços e rápido.

Olhei em volta e identifiquei quantos pude, eram muitos.
Anitta se levantou e começou a dar passos largos e apressados até mim, quando chegou perto o suficiente a abracei.

- Vai ficar tudo bem, eu não vou deixar que nada te aconteça -eu disse baixo, perto do seu ouvido-
- Eu não quero que nada aconteça a você TH -ela sussurrou e eu a apertei nos meus braços-
- Não vai -dei um beijo em sua cabeça e puxei minha arma da cintura- Não se mova.

Olhei ao redor esperando algum movimento pra saber em quem atirar primeiro, mas antes que qualquer coisa pudesse acontecer ouvi uma voz.

- Ora ora, parece que temos aqui um cara preparado.
- Não fui treinado à toa -disse antes de me virar pra ele-

Anitta, que permanecia colada em mim, apenas levantou o olhar esperando minha confirmação para se afastar, afirmei levemente com a cabeça e seus braços deixaram meu corpo.

- Uma bela moça, posso saber quem é?
- Na verdade, a intenção é a gente saber quem são vocês -disse o encarando e ele riu-
- Somos da CIA Thiago, queríamos falar com você a respeito de...
- Eu não estou interessado -disse guardando a arma e guiando Anitta para dar o fora dali-
- Espere rapaz -segurou meu braço e eu puxei- Nós só queremos conversar.
- Vocês são vários, podem conversar entre si.
- Seu pai gostaria que desse pelo menos uma chance -olhei para ele com fúria-
- É, só que meu pai está morto, e adivinha de quem é a culpa? -ironizei- Eu não quero ouvir falar no nome de vocês e espero nunca mais ver tal aproximação da minha protegida. Esse meio em que vocês vivem eu já conheço de cor, quero distância. Se não entenderem por bem, eu faço vocês engolirem a compreensão.

Disse sem esperar resposta e puxei Anitta pela mão.

Fiz Ane voltar comigo na moto e alguém pegaria o carro dela, o percursso foi silencioso. Era eu quem tinha escolhido o próximo lugar.

Eu tinha uma casa afastada da cidade onde eu quase nunca ia. No meio do caminho parei para abstecer e enquanto Anitta comprava alguma coisa, liguei para Antônia, a senhora que arrumava a casa de tempo em tempo para mim.
Garanti que tudo estaria arrumado e que a chave estava no mesmo lugar antes de continuar meu caminho.
Anitta não abriu a boca um minuto sequer, agradeci mentalmente pois não queria entrar nesse assunto, não agora pelo menos, mas sabia que ela me perguntaria depois.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora