Capítulo 67

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Narrado por Marcelo

Eram 06:50 da manhã de um sábado ensolarado ao qual eu tirei unicamente para fazer coisas que eu gosto. Nos últimos meses tenho me mantido ocupado pra ver se minha cabeça aprende a esquecer uma certa morena que tem o meu coração desde muito tempo.

Coisas assim acontecem!
Eu repetia pra mim mesmo pensando que coisas assim realmente aconteciam, mesmo com pessoas que se amavam tanto como nós. O amor acabava, podia não ser de ambas as partes (e nesse caso realmente não era), mas ele acabava sim.
Anitta não me via com os mesmos olhos. Ela me amou um dia, fico feliz de saber que tive a oportunidade de estar com ela em algum momento, mesmo que num passado já distante.

Eu nunca fui o cara forçador de barra com nenhuma mulher. Também nunca tive ninguém tão especial em minha vida como Anitta. Mas eu entendi perfeitamente quando ela me disse que amava outro cara. Só me restava pular do barco e seguir meu próprio rumo. Foi o que fiz, é o que estou tentando fazer.

Tomei um banho e coloquei uma calça tactel junto com uma camiseta e calcei um tênis. Eu sairia pra correr e aproveitaria pra tomar uma água de coco. Fazia algum tempo que eu não fazia isso. Andava me limitando a exercícios dentro da academia, e o resto dos meus horários vagos eu me enfiava de cara no trabalho. Ia para casa só para dormir. Decidi por fim que isso ia acabar me matando.
Resolvi retornar aos hábitos antigos.

A parte da manhã foi bem tranquila, fiz exatamente como tinha planejado.
No almoço, nada de comida de restaurante. Hoje eu mesmo faria minha comida.
Fazia tanto tempo que não colocava a mão na massa que nem tinha certeza se conseguiria fazer um arroz descente.

O dia estava ótimo, realmente bom. Estava tudo correndo muito bem até eu resolver ligar a tv para assistir aquele noticiário da tarde do qual eu tanto gostava. Não sabia exatamente como tudo aconteceu.
Quando vi a imagem de Anitta na tela e um dos típicos e nada confundiveis carros da família Fell capotado numa br me direcionei para os pinos na parede resgatando a chave do meu carro e só esperei para saber exatamente em qual hospital ela estava.
Aquilo não podia estar acontecendo. Não com Anitta. Ela já havia passado por tanta coisa na vida e ainda era tão nova. Me frustrava ver que as coisas tinham deslanchado para lados tão ruins em sua vida.

Fui o mais rápido que pude, o que demorou pouco mais de uma hora visto que agora eu morava em uma das cidades vizinhas da dela. A frente do hospital estava chumbada de jornalistas e fotógrafos, eu não conhecia bem o local a ponto de conseguir fugir de todos eles então entrei pela frente mesmo. Ouvi uma lista de perguntas mal formuladas e algumas até inacreditáveis.
Dentre elas havia o questionamento se eu e Anitta estávamos juntos de novo. Pensei comigo mesmo que seria meu sonho, mas ignorei as câmeras e entrei no hospital. Antes de ir para o quarto de Anitta eu tive que prencher uma ficha e todas aquelas coisas.

É claro que ele estaria lá. TH, como era conhecido, era o namorado dela. Quando ele ouviu minha voz e se virou me encarando eu pude sentir o ódio exalando dele. Sabia que a vontade dele era socar a minha cara.
Não imagino como eu me sentiria se a situação fosse contrária, mas tentava entender a frustração dele com minha aparição repentina.

Não dei muita bola para os olhares, sabia que outro que tinha vontade de afundar minha cara na porrada era Ian, o irmão mais novo de Anitta.
Conversei um pouco com os pais dela para saber seu estado e fiquei preocupado ao saber que ela havia quebrado um dos braços e estava com vários ferimentos. Só que mais ainda quando me disseram que ela havia perdido a memória.

Eu estagnei. Não podia ser, como ela havia perdido a memória. Tudo, absolutamente tudo que ela havia vivido em seus vinte e poucos anos de vida tinham simplesmente evaporado.
Sr. Henry me disse para não comentar com TH, eles ainda não tinham o contado por medo de como ele fosse ficar após a notícia.
Eles sabiam que eu ainda nutria sentimentos por ela bem como TH. Mas havia uma diferença ali, um de nós estava com ela atualmente. Um de nós ia ter que olhar pra ela e sentir o peso de ter perdido todos os momentos que passou com ela nos últimos meses.
Eu sentia muito por ela não se lembrar do que representamos um pro outro. Mas por outro lado, assim como ela não se lembrava das coisas boas, também não lembrava das ruins. Isso apagava da memória de Anitta toda dor pela qual já passou e essa não era uma parte ruim assim.

Depois de um burburinho dos homens Fell contra TH, o mesmo avançou o sinal abrindo a porta de Anitta. Não sei o que aconteceu la dentro. Não sei como foi para ele. Mas com certeza não foi bom porque ele saiu do hospital do mesmo jeito que saiu do quarto. Tão rápido quanto uma bala.

Eu passei a noite lá, sentado em uma das cadeiras daquele corredor. No outro dia, com muita insistência, eles me deixaram ver Anitta depois do almoço, só que bem antes dele o meu coração já palpitava.

Sabia que não podia sentir isso. Sabia que era errado nutrir uma esperança de que talvez a gente desse certo agora. Sabia bem disso. Mas involuntariamente minha cabeça pensava na possibilidade de nós nos "conhecermos" de novo e que talvez, só talvez, Anitta retornasse a sentir por mim o que já sentiu um dia. Eu me importava com ela, eu amava ela e queria sua melhora mais do que ninguém. Mas se houvesse uma chance, uma só que fosse de ficarmos juntos, eu agarraria ela com todas as minhas forças.

Caprichos do coraçãoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora