Fiquei ali por mais alguns minutos, me remoendo por não ter dado na cara daquela vadia mal comida e voltei a descer o morro. Não fazia ideia de onde começar a procurar por Relíquia, mas talvez a melhor opção fosse perguntar por ele lá na entrada.
— Hei, Dulce! — Ouvi alguém me gritar e fiquei feliz ao ver Anahí correndo na minha direção. — Caraca tu ainda tá aqui no morro, mulher?
— Pois é, uma longa história... — Falei, torcendo para que ela não se prolongasse naquele assunto. — Você mora aqui? — Falei, me referindo a rua.
— Sim, naquela casa ali! — Respondeu e apontou para uma casa verde de dois andares logo a nossa frente. Simples, porém se notava que era bem cuidada. — Moro com minha tia e minha irmã, ela cuida da gente desde molecas. — Sorriu.
— Sempre quis ter uma irmã... — Contei. Ela fez uma careta, mas deu risada.
— A gente vive se implicando e de treta, mas quando uma precisa da outra sempre estamos ali sabe? — Anahí falou e apontou para um ponto atrás de mim. — Olha ela ali, é a que tem as pernas parecendo duas varetas de bambu. — Falou e dei risada, olhando para o grupinho de adolescentes em uma pracinha próxima dali. Reconheci a irmã dela pelo rosto, que era parecido e quase tão belo quanto o de Anahí.
— Ela é linda. É mais nova que você? — Perguntei.
— Sim, a Louise acabou de fazer dezessete anos, eu tenho vinte e três. — Anahí respondeu e olhou para irmã mais uma vez. — Bora dar um pulo lá em casa, o rango já deve ter saído.
— Ah, me desculpa, mas preciso ir embora. Minha mãe vai me matar por ter dormido fora de casa e quanto mais eu demorar, pior vai ser.
— De boa, fica para uma próxima então. — Piscou.
— Mas, Any, será que você pode me dar uma ajudinha? O dinheiro acabou e preciso pegar um táxi. — Senti minhas bochechas queimarem de constrangimento ao pedir aquilo. Anahí riu do meu embaraço.
— Claro que te dou essa fortalecida, Dulce. Tu é das minhas! Peraí que vou pegar o quebrado. — Falou e saiu correndo para dentro da casa. Quando ela voltou com uma nota de cinquenta reais, a agradeci muito, trocamos nossos números de telefone e lhe dei um abraço de despedida. — Vê se aparece nega, sua amiga tá sempre aqui, vem com ela numa dessas.
— Pode deixar! — Sorri, concordando com a cabeça, e terminei de descer o morro. Na entrada, os homens de Relíquia me deixaram sair tranquilo e o uber, que Anahí tinha feito o favor de chamar para mim, já estava me esperando.
Quando cheguei em casa, dei graças a Deus por notar que não tinha ninguém. Meus pais deviam ter ido para alguma reunião da empresa. Dei um toque nas empregadas na cozinha e subi correndo as escadas para o meu quarto, me jogando na cama. Pensei na loucura que foi o dia de ontem, briguei com minha mãe e fiz coisas pelas quais nunca me imaginei fazendo, inclusive transar com o dono de uma favela. Que merda, hein! Estava me sentindo confusa em relação a tudo aquilo.
• • •
A semana passou se arrastando. Quarta feira acordei mais cedo que o comum e fui para a escola. Era hoje que a Bruninha chegaria de viagem, estava ansiosa para reencontrar minha outra melhor amiga. O clima na minha casa estava péssimo, horrível na verdade, minha mãe não olhava direito na minha cara e muito menos falava comigo. Meu pai não se posicionava em nada em relação a nós, sequer quis devolver minha mesada, que a minha mãe cortara. Não sabia mais o que fazer.
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Dono do Morro [M]
Fanfiction+18| Será possível o amor nascer entre as duas pessoas mais improváveis do mundo? Dulce jamais imaginou se envolvendo com um morador de favela, ainda mais sendo ele o dono do morro. Ela não sabia explicar o porquê de se sentir atraída por uma pessoa...