𝙲𝚊𝚙𝚒𝚝𝚞𝚕𝚘 𝟻𝟾 - 𝙰𝚗𝚝𝚎𝚜

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Dois meses se passaram desde aquele dia em que acabei me declarando para Relíquia.

Naquele meio tempo, ele sequer olhou mais na minha cara, o canalha resolveu finalmente desaparecer da minha vida, evaporar. Quando nos esbarrávamos por coincidência em algum canto daquele morro, Relíquia simplesmente fingia que não me conhecia e passava reto por mim, como se nunca tivéssemos nos visto algum dia.

Por um lado era bom, estava tendo o que tanto almejava fazia tempo, a minha paz de espírito novamente. Mas por outro, meu coração sofria com o afastamento e de certa forma a rejeição dele.

Dava para entender? Nem eu mesma sabia o que era pior, estar com ele ou ficar sem.

Só sabia que infelizmente estava doendo demais ser rejeitada por um cara que não tinha sentimentos algum por ninguém.

Até que certo dia um vapor foi atrás de mim lá na boutique, avisando que Relíquia havia mandado eu passar na boca principal depois do trabalho. De primeira ia recusar a procurá-lo, afinal o que ele pensava que eu fosse? Uma cachorrinha que ele estalava os dedos e eu ia atrás correndo? Mas a curiosidade acabou falando mais alto e eu fui.

Arrependi-me no momento que entrei na boca e ouvi o que ele tinha para me dizer.

— Arrumei uma goma pra tu lá no Selvinha, só falta levar suas coisas. — Falou sério, mas agindo na maior naturalidade. — Vou mandar o Baiano na casa da Anahí depois pra te mostrar o lugar...

Demorei até para assimilar o que ele estava me falando. Relíquia estava me dando uma casa aqui no morro ou entendi errado?

— Uma casa? — Perguntei ainda sem acreditar, ele levantou a mirada das papeladas em que lia e me olhou. — Posso saber porque está me dando uma casa?

— Vai ficar mais suave pra eu te ver. — Respondeu simplesmente e voltou a atenção para os inúmeros papéis novamente.

— O quê?! Agora você quer me ver, Relíquia? Sério? — Indaguei com incredulidade. — Não era você que estava me ignorando há meses?

— Não começa caralho! — Ele falou dando uma respirada brusca. — Tu vai morar lá e pronto, não tô perguntando se quer ou não, só avisando que é pra levar suas coisas pra lá!

— Prefiro ficar na casa da Anahí. — Falei.

— Camba daqui vai, porra de mulher! — Me enxotou com mão, sem paciência. — Amanhã é para estar todas suas coisas lá! Tô te passando a visão, Dulce. Abraça se quiser.

Bufei e saí de lá pisando duro.

E aqui estava eu, plena nove horas da noite levando minhas coisas com o apoio de Anahí e alguns amigos dela que acabei também fazendo amizade, para “minha” nova casa. Anahí me ajudou a encontrar o endereço mais cedo já que o tal de Baiano não foi me procurar.

— Essas suas malas estão acabando com os meus braços, mona! — Leandro reclamou com a sua voz extremamente fina. Ele era bem estranho às vezes, mas tinha um coração muito bom e era super divertido. Pelo que descobri, estudou na mesma sala que a Anahí no fundamental e desde então eram amigos. — Tem boca não? Pede para o seu bofe dar uma fortalecida aqui, pô.

— Cala a boca Lê, você sabe muito bem que ele não é nada meu! — Revirei os olhos, descendo a rua com uma das minhas malas de rodinha na mão.

— Magina que não, ele te deu uma goma no Selvinha só por amizade mesmo... — Leandro retrucou com uma cara debochada. — Reclama não, só agradece!

— Nisso eu tenho que concordar com o Leandro, Relíquia nunca deu casa boa pra ninguém. — Selena concordou, uma outra nova amiga. — No máximo chegou a dar uns barraquinhos velhos para os moradores novos, mas mesmo assim o pessoal ainda tem que molhar a mão dele pra isso.

Dono do Morro [M]Where stories live. Discover now